Como dizia Ariano Suassuna, “sou contra a Morte e nunca hei de morrer”

Eu digo sempre que das três virtudes... Ariano Suassuna - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções 

O dramaturgo, romancista e poeta paraibano Ariano Vilar Suassuna, no poema “Abertura Sob Pela de Ovelha”, mostra a luta eterna do homem contra o envelhecimento e a morte.

ABERTURA SOB PELE DE OVELHA
Ariano Suassuna

Falso Profeta, Insone, Extraviado,
Vivo, Cego, a sondar o Indecifrável:
e, Jaguar da Sibila – inevitável,
meu Sangue traça a rota desse Fado.

Eu, forçado a ascender, eu, Mutilado,
busco a Estrela que chama, inapelável.
E a pulsação do Ser, fera indomável,
arde ao Sol do meu Pasto – incendiado.

Por sobre a Dor, Sarça do Espinheiro
que acende o estranho Sol, sangue do ser,
transforma o sangue em Candelabro e Veiro.

Por isso, não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero,
sou contra a Morte e nunca hei de morrer

“Quando eu piso em folhas secas, caídas de uma mangueira…”

NOSSA BRASILIDADE | » João Bosco canta “Minha Festa” de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

Guilherme e Nélson, grandes sambistas

Paulo Peres
Poemas & Canções

O pintor, escultor, cantor e compositor carioca Guilherme de Brito Bolhorst (1922-2006), na letra de “Folhas Secas”, em parceria com Nelson Cavaquinho, compara as folhas caídas da mangueira com a sua tristeza quando não puder mais cantar. Este samba foi gravado por Beth Carvalho no seu LP Canto Por um Novo Dia, lançado em 1973 pela Tapecar.

FOLHAS SECAS
Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha Estação Primeira

Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando
E assim vou me acabando

Quando o tempo avisar
Que eu não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
Da minha mocidade.

“Faça de conta que o tempo passou e que tudo entre nós terminou…”

Vídeo Show homenageia o centenário de nascimento de Herivelto Martins

Herivelto, um extraordinário compositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, músico, ator e compositor Herivelto de Oliveira Martins (1912-1992), nascido em Vila Rodeio (atual Engenheiro Paulo de Frontin, RJ), na letra de “Caminhemos”, retrata o sofrimento que a separação da pessoa amada pode trazer. Este samba-canção teve sua primeira gravação feita por Francisco Alves, em 1947, pela Odeon.

CAMINHEMOS
Herivelto Martins

Não, eu não posso lembrar que te amei
Não, eu preciso esquecer que sofri
Faça de conta que o tempo passou
E que tudo entre nós terminou
E que a vida não continuou pra nós dois
Caminhemos, talvez nos vejamos depois

Vida comprida, estrada alongada
Parto à procura de alguém
Ou à procura de nada…
Vou indo, caminhando
Sem saber onde chegar
Quem sabe na volta
Te encontre no mesmo lugar

Um  amor impossível destruía o orgulho do poeta Augusto Meyer

Meyer, retratado por Portinari em 1937

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, folclorista, ensaísta e poeta gaúcho Augusto Meyer (1902-1970), autor do poema “Gaita”, nele confessa que não tem mais palavras para expressar seu amor não correspondido, que está levando seu orgulho e sua vida.

GAITA
Augusto Meyer

Eu não tinha mais palavras,
Vida minha,
Palavras de bem-querer;
Eu tinha um campo de mágoas,
Vida minha,
Para colher.

Eu era uma sombra longa,
Vida minha,
Sem cantigas de embalar;
Tu passavas, tu sorrias,
Vida minha,
Sem me olhar.

Vida minha, tem pena,
Tem pena da minha vida!
Eu bem sei que vou passando
Como a tua sombra longa;
Eu bem sei que vou sonhar
Sem colher a tua vida,

Vida minha,
Sem ter mãos para acenar,
Eu bem sei que vais levando
Toda, toda a minha vida,
Vida minha, e o meu orgulho
Não tem voz para chamar.

A Primavera de Cecilia Meireles chegava num poema em forma de prosa

Há pessoas que simplesmente aparecem em... Cecília Meireles - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A poeta, professora, pintora e jornalista carioca Cecília Meireles (1901-1964), tem na sua poesia uma das mais puras, líricas, bucólicas, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea. A Primavera que se inicia hoje no Brasil, neste poema em forma de prosa, é descrita numa linguagem “onipotente”, imune a quaisquer condições que impeçam a sua chegada, ainda que efêmera, e implanta seus principais dogmas, que fazem uma festa na natureza.

PRIMAVERA
Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Sentir saudade é uma boa sensação, se você estiver revivendo momentos de felicidade

Tribuna da Internet | Bastos Tigre se defende da acusação de uma mulher que  ele teria difamadoPaulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, bibliotecário, humorista, jornalista, compositor e poeta pernambucano, Manoel Bastos Tigre (1882-1957), afirma que sentir “saudade” pode ser uma boa sensação, se estivermos revivendo belas etapas da vida.

SAUDADE
Bastos Tigre

Infeliz de quem vive sem saudade,
Do agridoce pungir alheio às penas,
Sem lembranças de amor e de amizade,
Hoje vivendo o dia de hoje, apenas.

Triste de ti, ancião, que te condenas
A mole insipidez da ancianidade
E não revives na memória as cenas
De prazer e de dor da mocidade!

Ter saudade é viver passadas vidas,
Percorrendo paragens preferidas,
Ouvindo vozes que se têm de cor.

Sonha-se… E em sonho, como por encanto,
A dor que nos doeu já não dói tanto,
Gozo que foi é gozo inda maior.

Encontros e despedidas de Milton Nascimento e Fernando Brant

História da música "Travessia", de Milton Nascimento - Novabrasil

Milton e Brant, amigos desde sempre

O advogado, compositor e poeta mineiro Fernando Rocha Brant, na letra de “Encontro e Despedidas”, em parceria com Milton Nascimento, retrata o que sempre representou uma estação de trem, diariamente, na vida de uma cidadezinha do interior. A música deu título ao LP gravado por Milton Nascimento, em 1985, pela Barclay/PolyGram.

ENCONTROS E DESPEDIDAS
(Milton Nascimento e Fernando Brant)

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São dois lados da mesma viagem

O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar, é a vida

Pensamentos que reúnem um tema, na poesia de Adalgisa Nery

Carlos Drummond de Andrade e Adalgisa Nery

Adalgisa Nery, com o amigo Carlos Drummond

Paulo Peres
Poemas & Canções

A jornalista e poeta carioca Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (1905-1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, no poema “Pensamentos que reúnem um tema” fica imaginando os que possuem a paz de não pensar.

PENSAMENTOS QUE REÚNEM UM TEMA
Adalgisa Nery

Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranquilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.

Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.

Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.

Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,

Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.

Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei
Até que minha vida passe.

O amor e as chuvas de verão, na genialidade de Fernando Lobo

Com o neto Bernardo e o filho Edu Lobo

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, radialista e compositor pernambucano Fernando de Castro Lobo (1915-1996), ao compor “Chuvas de Verão”, retratou na letra o clima de confissões amorosas que prolongavam ou encerravam romances iniciados nos ambientes das boites dos anos 40 e 50.

A música, gravada originalmente por Francisco Alves, em 1949, pela Odeon, talvez não se tornasse um clássico, conforme reconheceu o próprio Fernando Lobo, não fora a versão gravada por Caetano Veloso, vinte anos depois.

Caetano Veloso juntou a beleza já existente na composição ao clima de rompimento amoroso, com uma delicadeza de tratamento que faltou à gravação original; a canção tem seu momento culminante no verso que repete o título, definindo com lirismo e precisão a transitoriedade dos romances de ocasião.

CHUVAS DE VERÃO
Fernando Lobo

Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, no presente
Repetem velhos temas tão banais

Ressentimentos passam como o vento
São coisas de momento
São chuvas de verão
Trazer uma aflição dentro do peito.
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão

Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais

Podemos ser amigos simplesmente
Amigos, simplesmente, nada mais       

Reflexões sobre a reflexão, na poesia inquietante de Millôr Fernandes

Onde reina a burrice, a suprema... Millôr Fernandes - PensadorPaulo Peres

O desenhista, humorista, dramaturgo, tradutor, escritor, jornalista e poeta carioca Milton Viola Fernandes (1923-2012), mais conhecido como Millôr Fernandes, no poema “Reflexão Sobre a Reflexão”, fala de suas decisões relacionadas ao ato de pensar.

REFLEXÃO SOBRE A REFLEXÃO
Millôr Fernandes

Terrível é o pensar.
Eu penso tanto
E me canso tanto com o meu pensamento
Que às vezes penso em não pensar jamais.

Mas isto requer ser bem pensado
Pois se penso demais
Acabo despensando tudo que pensava antes
E se não penso
Fico pensando nisso o tempo todo.

Ninguém cantou a Lua como Cândido das Neves e Vicente Celestino

Vicente Celestino, Catulo & Cândido Das Neves - História Da MPB

Vicente Celestino era o rei do romantismo

Paulo Peres
Poemas & Canções

O carioca Cândido das Neves (1899-1934), apelidado de “Índio”, era compositor, cantor e instrumentista. “Noite Cheia de Estrelas”, gravada em 1932 na RCA Victor, por Vicente Celestino, mostra as as suas características na arte de compor: letras sempre muito extensas, cantavam a natureza duma forma romântica.

NOITE CHEIA DE ESTRELAS
Cândido das Neves

Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
De raríssimo esplendor…
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor.
Revelando à lua airosa
A história dolorosa desse amor…

Lua!
Manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada!
Quero matar meus desejos!..
Sufocá-la com os meus beijos…

Canto
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo…
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim,
Pois ao ver que quem te chama sou eu
E entre a neblina se escondeu…

Lá no alto a lua esquiva…
Está no céu tão pensativa,
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar,
Todo o astral ficou silente
Para escutar:
O teu nome entre as endeixas
A dolorosas queixas
Ao luar.

E surge um amor impossível, querendo ser o que jamais seremos…

O Poeta - Moacyr Felix

Moacyr Felix, grande poeta

Paulo Peres
Poemas & Canções

O editor, escritor e poeta carioca Moacyr Félix de Oliveira (1926-2005), no poema “Sentimento Clássico”, expõe a dor que colocamos em tudo e, calados, procuramos ser o que jamais seremos. 

SENTIMENTO CLÁSSICO
Moacyr Félix

Pisados, os olhos com que pisaste
a soleira escura de minha face;
e por mais pontes que entre nós lançasse,
ao que de fato sou nunca chegaste.
Que distâncias lamento, e que contraste !

Gravando em cada ser o amor que nasce
não encontrei o amor que me encontrasse:
amaram sem me ver, como me amaste.

Tinha os olhos tristes como eu tenho,
e o pranto que eu te trouxe de onde venho
é o mesmo que te espera adonde vais.

Se a mesma sóbria dor em tudo pomos,
não vês o que me calo. E assim nós somos
o que não somos nem seremos mais.

Leminski: “A gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto”

Você está tão longe que às vezes... Paulo Leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) expressa, no poema “Bem no Fundo”, uma vontade que as pessoas gostariam de sentir acontecer, ou seja, a resolução de todos os seus problemas, mesmo que fosse por decreto, tornando a “mágoa” nula sob “silêncio perpétuo”, extinguindo o “remorso” por força de lei.

Mas problemas não se resolvem através de remédios legais, pois problemas têm família grande, que gera probleminhas no cotidiano das pessoas.

BEM NO FUNDO
Paulo Leminski

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Mensagem profética de uma contagem regressiva neste mundo agredido

Planeta Terra Com Diversos Ecossistemas Foto Realística Ilustração ...

ilustração reproduzida do Arquivo Google

Paulo Peres
Poemas & Canções

O administrador de empresas e poeta carioca Marcos Fernandes Monteiro, conhecido como Coquito, na letra de “Contagem Regressiva”, parceria com Johnny do Matto, personifica-se de profeta e alerta para os primeiros sinais.

A música “Contagem Regressiva” foi gravada por Johnny do Matto no CD Parcerias, em 2009, produção independente.

CONTAGEM REGRESSIVA
Johnny do Matto e Cokito

Fique atento aos primeiros sinais
Movimentos celestes
A chegada das pestes
Mensagens astrais

Fique atento aos primeiros sinais
Caso a lua se vá
Sem querer mais voltar
E o sol também for
E levar seu calor

Fique atento aos primeiros sinais
Só restará uma prece
E é bom que se apresse
Pois a estrela cadente
Desce incandescente
Anunciando a matança
Mas ainda há esperança
Na força de um grito
Que leve ao infinito
Toda a redenção
De um novo ser humano
Em um novo plano
Através da lição
Em um novo mundo
Na recriação

“Não há, ó gente, oh não, luar como este do sertão…”, cantava Catulo

Catulo da Paixão Cearense | Acervo

Charge da Aldo Malagoli

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e poeta maranhense, Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), através de belos versos, escreveu a letra de “Luar do Sertão”. Além de ser o maior sucesso de Catulo,  a música é considerada um dos maiores clássicos da MPB, consagrada popularmente como um segundo Hino Nacional. Essa toada foi regravada dezenas de vezes, mas foi lançada, inicialmente, por Eduardo da Neves, em 1914, pela Odeon.

LUAR DO SERTÃO
Catulo da Paixão Cearense

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão…

Oh, que saudade do luar da minha tema
Lá na serra branquejando, folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão…
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão…

Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia a nos nascer do coração

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão…
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão…

Se Deus me ouvisse com amor e caridade
Me faria essa vontade, o ideal do coração:
Era que a morte a descontar me surpreendesse
E eu morresse numa noite de luar do meu sertão

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão…
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão

Houve uma época gloriosa, quando o Brasil cantava as próprias belezas

Nossos Vizinhos Ilustres : DAVID NASSER

Nasser, grande jornalista e compositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O  jornalista, escritor e letrista David Nasser (1917-1980), nascido em Jaú (SP),  autor de diversos clássicos do nosso cancioneiro popular, entre os quais o samba-exaltação “Canta Brasil”, em parceria com Alcir Pires Vermelho e gravado por Francisco Alves, em 1941 , pela Odeon, dois anos após o lançamento de “Aquarela do Brasil”, consolidando o prestígio do gênero.

Para isso, adotava como modelo o samba de Ary Barroso e até o citava nos versos: “Na Aquarela do Brasil’ / eu cantei de Norte a Sul”.

CANTA BRASIL
Alcir Pires Vermelho e David Nasser

As selvas te deram nas noites teus ritmos bárbaros
E os negros trouxeram de longe reservas de pranto
Os brancos falavam de amor nas suas canções
E dessa mistura de vozes nasceu o teu canto

Brasil, minha voz enternecida
Já dourou os teus brasões
Na expressão mais comovida
Das mais ardentes canções

Também, na beleza deste céu
Onde o azul é mais azul
Na aquarela do Brasil
Eu cantei de norte a sul

Mas agora o teu cantar
Meu Brasil quero escutar
Nas preces da sertaneja
Nas ondas do rio-mar

Oh! Este rio turbilhão
Entre selvas e rojão
Continente a caminhar
No céu, no mar, na terra!
Canta Brasil!!

Na beleza deste céu
Onde o azul é mais azul
Na aquarela do Brasil
Eu cantei de norte a sul

Mas agora o teu cantar
Meu Brasil quero escutar
Nas preces da sertaneja
Nas ondas do rio-mar

Oh! Este rio turbilhão
Entre selvas e rojão
Continente a caminhar
No céu, no mar, na terra!
Canta Brasil!!

Raquel de Queiroz sabia iluminar a vida numa casa velha de fazenda

Frases de Rachel de Queiroz: confira » Querido JeitoPaulo Peres
Poemas & Canções

A romancista, contista, tradutora, jornalista e poeta cearense Raquel de Queiroz (1910-2003), no poema “Telha de Vidro”, ensina que um simples toque de criatividade pode mudar tudo para melhor em nossas vidas.

TELHA DE VIDRO
Rachel de Queiroz

Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda,
na casa velha…
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô…
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha…

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro…
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade…

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia…

A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa…
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão…
Por que você não experimenta?
A moça foi tão vem sucedida…
Ponha uma telha de vidro em sua vida

Olhos tristes, que se curvam sob o olhar poético de Henriqueta Lisboa

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Hen iqueta Lisboa strelas são mariposas (faz az tanto frio na rua!) batem asas de esperança contra as vidraças dalua." Henriqueta Lisboa (1901-1985) efrases_mensagens_epoesias"Paulo Peres
Poemas & Canções

A renomada poeta mineira  Henriqueta Lisboa (1901-1985), no soneto “Olhos Tristes”, tem a sensação de uma despedida através de renúncias repetidas.

OLHOS TRISTES
Henriqueta Lisboa

Olhos mais tristes ainda do que os meus
são esses olhos com que o olhar me fitas.
Tenho a impressão que vais dizer adeus
este olhar de renúncias infinitas.

Todos os sonhos, que se fazem seus,
tomam logo a expressão de almas aflitas.
E até que, um dia, cegue à mão de Deus,
será o olhar de todas as desditas.

Assim parado a olhar-me, quase extinto,
esse olhar que, de noite, é como o luar,
vem da distância, bêbedo de absinto…

Este olhar, que me enleva e que me assombra,
vive curvado sob o meu olhar
como um cipreste sobre a própria sombra.

No Rancho Fundo, onde aperta a saudade desse povo brasileiro

Lamartine Babo criou clássicos da música brasileira e embalou carnavais -  Rádio Itatiaia

Lamartine Babo fez a letra dessa canção

Paulo Peres
Poemas & Canções

O radialista, músico e compositor mineiro Ary de Resende Barroso (1903-1964) e o advogado e compositor Lamartine de Azeredo Babo, na letra de “No Rancho Fundo”, falam das desilusões amorosas de um cantor humilde na cidade grande. O samba-canção “No Rancho Fundo” foi gravado por Elisa Coelho, em 1931, pela RCA Victor.

O RANCHO FUNDO
Lamartine Babo e Ary Barroso

No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade contam coisas da cidade.
No rancho fundo, de olhar triste e profundo,
Um moreno conta as mágoas tendo os olhos rasos d’água.
Pobre moreno, que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro tendo o cigarro por companheiro.
Sem um aceno, ele pega da viola
E a lua por esmola vem pro quintal deste moreno.

No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo, 
Nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia.
Os arvoredos já não contam mais segredos
E a última palmeira já morreu na cordilheira.
Os passarinhos internaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza enche de trevas a natureza.
Tudo por quê? Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapê

A canção do recomeço, no quebra-cabeças da  poeta gaúcha Lya Luft

Morre Lya Luft, uma das maiores escritoras contemporâneasPaulo Peres
Poemas & Canções 

A professora aposentada, escritora, tradutora e poeta gaúcha Lya Fett Luft (1938/2021), no poema “Canção do Recomeço”, volta à casa onde viveu há muito tempo.

CANÇÃO DO RECOMEÇO
Lya Luft

A casa aonde voltei
depois de muitos anos,
bóia como uma ilha de aguapés na noite,
presa por uma raiz doce e dolorosa
que me define.

Na madrugada caminho pelos quartos
como no fundo do mar
onde essa raiz se finca.
Pelas vidraças, o jardim são algas;
meus filhos dormem como quando
eram meninos,
e suas respirações, como sentimentos,
fundem-se neste bojo.

Este é o meu lugar
aonde voltei depois de tanto tempo,
como quem, misturando peças
dos enigmas mais arcaicos,
montasse laboriosamente o seu quebra-cabeça.