Não há nada melhor do que a amizade sincera, um grande amigo

Vinil Renato Teixeira, Dominguinhos MPB - Bossa - Instrumental

Renato e Dominguinhos, parceiros e amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paulista Renato Teixeira de Oliveira, um dos mais destacados cantores da música regionalista, mostra o que considera o real significado de uma “Amizade Sincera”.A música faz parte do CD/DVD Amizade Sincera, gravado por Renato Teixeira e Sérgio Reis, em 2010, pela Som Livre.

AMIZADE SINCERA
Dominguinhos e Renato Teixeira

Amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo disponha
Lembre-se sempre que mesmo modesta
Minha casa será sempre sua
Amigo, os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande amigo

Alguns rostos significam vida plena, na poesia de Vicente Limongi Netto

Autógrafos de Pedro Rogério | Portal Anna Ramalho

Limongi (dir.), com o amigo Pedro Rogério

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, no poema “Água Benta”, mostra a percepção que certos rostos expõem.

ÁGUA BENTA
Vicente Limongi Netto

Alguns rostos significam
vida plena
têm água benta
comovem oceanos
pintam as cores do céu
caminham na imensidão dos rios
são devotos dos peixes
adormecem nas margens de Deus

Alguma coisa tua, parecida com você, no poema romântico de Alice Ruiz Scherone

alice ruiz | SALAMALANDRO | Leo Gonçalves

Alice Ruiz, grande poeta de Curitiba

Paulo Peres
Poemas & Canções

A publicitária, tradutora, compositora e poeta curitibana Alice Ruiz Scherone, no poema “Coisa Tua”, sentiu que algo iria acontecer quando viu aquela pessoa. E o poema virou canção, na parceria com o maestro Waltel Branco, em gravação de Rogéria Holtz.

COISA TUA
Alice Ruiz e Waltel Branco

Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você

Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido

Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu
Que virei alguma coisa tua

Lembre-se de que hoje é o Dia dos Santos Reis, quando se encerra a Folia de Reis

Folia de Reis, tradição da antiguidade que faz parte da história brasileira

Folia de Reis, uma tradição que ainda resiste no interior

Paulo Peres
Poemas & Canções

A Folia de Reis faz parte do Natal no folclore brasileiro, a festa popular se inicia na noite de 24 de dezembro e se estende até 6 de janeiro, com a Festa de Reis. A letra desta folia pertence ao folclore da cidade de Urucaia, MG.

FOLIA DE REIS

Porta aberta, luz acesa,
Recebei com alegria
A visita dos Reis Magos
Com sua nobre folia

Lá vai a garça voando,
Lá no céu bateu as asas
Vai voando e vai dizendo
Viva o dono desta casa

Entra, entra, minha bandeira,
Por essa porta adentro
Vai fazer sua visita
À senhora lá de dentro

Os três reis quando saíram
Cantando sua folia
Eles cantavam de noite
E de dia recolhia

Quando era boca da noite
A estrela aparecia
Os três reis se alevantava
Em seu caminho seguia

Foram saudar o Deus Menino
Que nasceu pro nosso bem
Ô bendito louvado seja,
Para todo sempre Amém   

Um erotismo avassalador vem dominar os poemas de amor do genial Castro Alves 

Bendito aquele que semeia livros e faz o... Castro Alves - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções 

O poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), símbolo da nossa literatura abolicionista, motivo pelo qual é conhecido como “Poeta dos Escravos”, era um revolucionário também no amor. Em meados do século 19, mostrando ousadia para à época, escreveu “Boa-Noite”, para a mulher por quem estava apaixonado, um poema arrebatadoramente erótico.

BOA-NOITE
Castro Alves

Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde…é tarde…
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa-noite!…E tu dizes – Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos…
Mas não mo digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve…a Calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?…pois foi mentira…
…Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela d’alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d’alvorada:
“É noite ainda em teu cabelo preto…”

É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua nua –
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua…

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas…
– São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos…
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora…
Marion! Marion!…É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!…

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo…
E deixa-me dormir balbuciando:
– Boa-noite! – formosa Consuelo!…

Uma homenagem aos bacharéis do samba, pelo compositor René Bittencourt 

René Bittencourt - MPB CIFRANTIGAPaulo Peres
Poemas & Canções

O empresário artístico, jornalista e compositor carioca René Bittencourt Costa (1917-1979), parceiro de Noel Rosa, Custódio Mesquita, Francisco Alves, Perterpan e muitos outros, compôs uma samba especial em homenagem às grandes escolas cariocas de sua época.

BACHAREL DO SAMBA
René Bittencourt

Eu sou bacharel,
(em que ?)
Eu tenho diploma,
(de que ?)
Eu tenho um anel,
(de que ?)
De samba.

Nasci no São Carlos,
Cresci no Salgueiro,
Já fui batuqueiro,
De Vila Isabel,
Porém na Mangueira,
Fui craque e passista,
Já fui ritmista,
de Padre Miguel.

Também na Portela,
Que é perto de casa,
Mandei minha brasa,
Brinquei pra valer,
Agora mais velho,
Falando mais sério,

Parei no Império,
Já posso morrer.

Para poetas como Cassiano Ricardo, a inspiração pode vir de qualquer coisa

Cassiano Ricardo (Desejo) | Oceano de LetrasPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, ensaísta e poeta paulista Cassiano Ricardo (1895-1974), da Academia Brasileira de Letras, no poema “Viajam as Palavras”, demonstra que a inspiração pode estar em todo canto, até mesmo viajando na trepidação do trem de ferro. que modifica o sentido de tudo, inclusive, das palavras.

VIAJAM AS PALAVRAS
Cassiano Ricardo

Passageiros, formo como que um diagrama
entre o céu tremido e o jornal que a trepidação
do trem sacode em minhas mãos.

A paisagem me vem oferecer seus buquês
roxos e cor de ouro
mas foge, arrependida.

Vistos, de longe, de passagem,
todos os rostos são amigos, são iguais.

Só que depois, em minha memória,
que estará rolando ainda esta paisagem
impressa em mim, à minha saudade
como um quadro à parede.

O possível desastre
faz cantar, como uma carretilha ao meu ouvido,
o pássaro do adeus.
O trem de ferro desloca o sentido das coisas.
Viajam as palavras.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você tem de merecê-lo

Frases de Carlos Drummond De Andrade - Boa tardee..!! | FacebookPaulo Peres
Poemas & Canções

O bacharel em farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos mestres da poesia brasileira. O significado principal do poema “Receita de Ano Novo” está em olhar para dentro de si mesmo e sentir-se, realmente, apto para ganhar uma belíssima passagem de ano.

RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

A morte da Esperança, bem no fim do ano, na poesia dramática de Mário Quintana

AS MAIS LINDAS FRASES SOBRE A VIDA - MARIO QUINTANA (frases,citacões,uma linda reflexão de vida) - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, tradutor e poeta gaúcho Mário de Miranda Quintana (1906-1994), constrói o poema no 12º andar do prédio, numeral que significa o mês de dezembro, no local onde uma mulher/criança espera o Ano Novo, simbolizado por seus olhos verdes, de um verde que significa esperança, a esperança de uma vida melhor. 

ESPERANÇA
Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…

E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

No “Rancho de Ano Novo”, não há nada que nos faça demorar

O genial protesto de Capinam e Edu Lobo | Jornal Ação Popular

Capinam, Marília Medalha e Edu Lobo

Paulo Peres
Poemas & Canções

O médico, publicitário, poeta e letrista baiano José Carlos Capinan, na letra de “Rancho de Ano Novo”, em parceria com Edu Lobo, fala da tristeza da separação de um grande amor com a despedida na chegada do novo ano. A música faz parte do LP Gracinha Leporace, lançado em 1968 pela Philips.

RANCHO DE ANO NOVO
Edu Lobo e Capinan

Meu amor abriu em prantos
debaixo de uma palmeira
Ano Novo vi entrando
vi o rancho na ladeira
Mestre João vinha na frente
levando a sua gente
numa estrada, a madrugada
que demora a vida inteira

No sopro do seu clarim
vinha vindo a madrugada
a pastora Mariana
dava voltas de ciranda
lá vem dona Juliana
carregada de jasmim
de Joana são as tranças
e o amor que levou fim

Lancha nova está no porto, ô.ô
meu amor abriu em prantos, ô.ô
na entrada do Ano-Novo
vou voltar pra te buscar
lá se foi a lancha nova
que do céu caiu no mar

Joana não é nada
Juliana eu vou e juro
não há nada nesse mundo
que me faça demorar
lá se foi a lancha nova
que do céu caiu no mundo
faz um ano, Mariana
que eu não paro de chorar          

  Um soneto muito original, bem no estilo poético de Carlos Pena Filho

O quanto perco em luz conquisto em... Carlos Pena Filho. - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta pernambucano Carlos Pena Filho (1929-1960), poeticamente, através o visual de uma planície, onde estão um passarinho, uma mulher e um homem, pinta um “Retrato Campestre”.

RETRATO CAMPESTRE
Carlos Pena Filho

Havia na planície um passarinho,
um pé de milho e uma mulher sentada.
E era só. Nenhum deles tinha nada
com o homem deitado no caminho.

O vento veio e pôs em desalinho
a cabeleira da mulher sentada
e despertou o homem lá na estrada
e fez canto nascer no passarinho.

O homem levantou-se e veio, olhando
a cabeleira da mulher voando
na calma da planície desolada.

Mas logo regressou ao seu caminho
deixando atrás um quieto passarinho,
um pé de milho e uma mulher sentada

Um paraíso de campos e montes, com canções e flores, para agradar sua amada

Zé Geraldo e convidados na gravação de seu segundo DVD

Zé Geraldo, um grande cantor mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor mineiro José Geraldo Juste, na letra “Canções e Flores”, trouxe belas figuras poéticas para ornamentar sua saudade e, consequentemente, a sua volta aos braços da amada.  Essa música foi gravada por Zé Geraldo no LP No Arco da Porta de Um Dia, em 1986, pela Arca. 

CANÇÕES E FLORES
Zé Geraldo

De mel é o sabor das lembranças
trazidas de minhas andanças
pra enfeitar sua saudade
Eu trouxe canções e flores
e um paraíso de cores
pra pintar sua cidade

Eu venho de campos e montes
e trouxe o cantar da fonte
pra dentro de sua janela
Noites de lua cheia
meu peito incendeia
pela moça mais bela

O que me prendeu por aqui
foi seu sorriso franco
e esse doce no olhar
Eu vim pra demorar bem pouco menina
agora eu quero ficar

É preciso lutar contra a lavagem cerebral que substituiu Cristo por Papai Noel

Menino de rua com seus presentes de natal. | ...Natal fica t… | Flickr

Menino de rua improvisando seus presentes de Natal

Carlos Newton

O advogado, jornalista, analista judiciário aposentado do Tribunal de Justiça (RJ), compositor, letrista e poeta carioca Paulo Roberto Peres inspirou-se no Natal para escrever estes três poemas, que eu adoro.

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PAPAI NOEL

A lavagem cerebral
Do governo mundial
Substitui no Natal
Cristo por Papai Noel.

Comanda inverso papel
De renas puxando trenó
Sobre a neve brasileira
Qual estórias da vovó.

Papai Noel na trincheira
Do capitalismo selvagem
Ilude com sua imagem
O cotidiano da criança.

Seja criança rica, seja criança pobre
Traz um sonho sempre nobre
Que Papai Noel não atenua
Quando é criança de rua.

Criança que dorme nos braços da lua,
Nos bancos das praças ou sob marquises
Com fome, com frio, do crime aprendizes,
Eivadas de medo, de drogas, de suicidas
Estatísticas nas elites esquecidas.

Crianças “crianças” nas brincadeiras,
Nas fantasias aventureiras
Do brinquedo improvisar
Esperando o Natal chegar.

O Papai Noel, como princípio,
Cujo enfeite sempre foi visto,
No lixo joguei.

Armei um humilde presépio
E na bênção de Jesus Cristo
O Natal festejarei!..

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PARABÉNS, JESUS CRISTO!

Parabéns, Jesus Cristo,
Hoje é o seu aniversário!
Estamos felizes,
Embora façamos do cotidiano
Um Natal de sua sabedoria,
Pois os seus dogmas
São a Lei maior deste Universo.

Todavia, neste dia, especialmente,
Queremos presenteá-lo
Através de orações,
De canções e de reflexões.
Mestre, faça sua festa
Em nossos corações,
Abençoe e ilumine esta noite,
Onde o vinho, o pão e a fé
Sejam uma dádiva
Aos famintos e injustiçados.

Sinto-me gratificado
Em fazer do seu aniversário
O maior acontecimento da História
E nele desejar a todos
Um Feliz Natal!

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POEMA DE NATAL

Amigo,
como é gratificante
saber que você existe
e temos os mesmos ideais,
mormente, no que concerne ao
Natal,
dia este, onde cada pessoa
seja ela religiosa ou não,
em qualquer lugar do mundo,
tem que parar, tem que pensar,
tem que se curvar pelo
menos um segundo e festejar
o nascimento de
Jesus Cristo,
pois haverá sempre
alguém desejando um
Feliz Natal
e, não importa de que
maneira isto é feito,
importa sim
o seu significado
e a marca registrada
da presença eterna do
Messias
em cada Ser Humano!

No coração do povo, começa hoje a Folia de Reis, celebrando o Menino Jesus

Espetáculo de Folia de Reis será apresentado de graça em Catanduva | São  José do Rio Preto e Araçatuba | G1

Os reis magos são os personagens principais da Folia de Reis

Carlos Newton

Os poetas cariocas Paulo Peres e Chico Pereira escreveram este poema em parceria, inspirados no Natal do folclore brasileiro, mas precisamente, na Folia de Reis, que se inicia na noite de 24 de dezembro e se estende até 6 de janeiro, com a Festa de Reis. O poema foi musicado por Amarildo Silva.

FÉ E CANTORIA
Amarildo Silva, Paulo Peres e Chico Pereira

Somos três Reis à sua porta
pedindo licença para entrar
Nossa visita importa
o nascimento louvar
do Mestre Menino-Deus
através desta folia
dogmas cristãos meus
feitos de fé e cantoria

De longe escuto o teu tambor
uma luz forte anuncia o Salvador
o estandarte vem na frente
guiados pela estrela do Oriente
Mão calejada, pé-rachado
e a voz que sai esgoelada
Rei Herodes se disfarça de palhaço
Abro a porta, janela enfeitada
Uma oração singela é ofertada

O mestre, a farda, ladainha
oração, chegada e despedida
Baltazar, Belchior e Gaspar,
reis da Folia.
Nossa casa é uma casa de alegria

E gostaríamos de agradecer
através desta folia
aos santos Reis Magos
por não deixarem esmorecer
a caminhada até Jesus
pela fé no menino Jesus…

Nossa casa é uma casa de alegria
sempre aberta para esta folia
oração, fé e cantoria.

Nascimento de Cristo é um dos temas favoritos na visão mágica dos pintores

Pintura “Adoração dos Pastores”, de El Greco

Paulo Peres

Na iconografia cristã, os grandes mestres da pintura sempre deram relevada importância em registrar com talento, criatividade e interpretações diversas, o episódio da Natividade (o nascimento de Cristo) com seus personagens – a Virgem Maria, São José, o Menino Jesus, os animais, os pastores e os Reis Magos.

Essas imagens, um dos temas mais comuns na arte cristã, mormente na Idade Média e no Renascimento, estão sempre impregnadas de símbolos, como ressaltam Emile Male e seu discípulo Louis Réau, em livros iconográficos que decodificam a poética dos artistas.

MUITAS VARIAÇÕES – A Virgem, o Menino Jesus e São José, personagens principais do ato passado na estrebaria, o Nascimento de Cristo, conforme a época e os pintores, a cena, bastante conhecida, sofre variações de um para outro artista. No Retábulo Portinari, do flamengo Reoger der Weuden, ou na Natividade, do alemão Hans Baldung, há uma inovação: a do Menino iluminado, adorado por seus pais e os pastores.

“Do corpo do pequeno Cristo irradia intensa luz que ilumina a face extasiada dos personagens”, diz Emile Male. “Não é apenas um menino comum, que jaz no chão ou na manjedoura, reverenciado por Reis Magos e Pastores, olhado e farejado com certa indiferença por dois animais principais: o asno e o boi”.

Neste painel, outros seres ainda podem ser acrescentados, como na pintura da brasileira Rosina Becker do Vale: pavões, leões, corujas, borboletas, além de anjos cantores. “E com tal fidelidade são estes seres representativos do Renascimento que, na Natividade de Piero Della Francesca, identificam-se as palavras do canto gregoriano que pronunciam pelo formato de suas bocas”, afirma Emile Male.

CARÁTER SIMBÓLICO – Os livros iconógrafos relatam que tudo na arte cristão medieval possui caráter simbólico, testemunhos da divindade de Cristo e das mensagens do Novo Testamento. E, por isso, existe um verdadeiro zoológico nos quadros primitivos flamengos, nos renascentistas e no de alemães e espanhóis.

Segundo os especialistas, as fontes dos animais no presépio vieram, principalmente, da Bíblia, dos Salmos e da Lenda Dourada, a hagiografia dos santos (história dos santos) tão consultada pelos artistas da Idade Média. Nelas os animais não são classificados por espécies, família e gênero, como fez Carlos Lineu, no início do século XVIII, e sim por suas virtudes ou malefícios morais.

“Na Idade Média”, diz Emile Male, “tudo é signo e o visível só vale porque esconde o invisível. Logo, temos o significado de alguns animais que sempre aparecem em quadros de mestres que pintaram o tema Natividade”.

OS SIGNIFICADOS – O Cordeiro (Agnus Dei), por sua mansidão ante a morte inevitável, geralmente, simboliza Cristo e seu sacrifício pela humanidade, sobretudo quando aparece imóvel, salienta Emile Male.

“Mas também pode significar a Ressurreição do Cristo. Todavia, devemos nos lembrar que Ele não simboliza, exclusivamente, a imagem de Jesus imolado ou ressuscitado. Ele pode ser o símbolo místico do Apocalipse que se aproxima, ou a inocência dos santos”.

O asno e o boi são animais inevitáveis em todas as Natividades. O asno, que mais tarde ajudará a Sagrada Família a fugir para o Egito, na iconografia do Natal tem vários significados. Humilde o doce, ele era chamado “o cavalo do pobre” e tem sempre um papel simpático na Bíblia. Na gruta natalina, ele esquenta com seu hálito o Menino Jesus na manjedoura.

PAPEL HUMILDE – Já o boi tem um papel humilde de Natalidade. Seu hálito também ajuda a acalentar o Menino na noite de inverno natalino. Ele, iconograficamente, simboliza ainda o sacrifício de Jesus, assimila a ideia de reprodução humana e é a vítima nos sacrifícios religiosos. Por isso, o boi não tinha boa reputação na Bíblia, que condenava o sacrifício dos animais aos deuses.

Os cavalos dos Reis Magos, ricamente adornados, significam a riqueza do mundo em comparação à do Filho de Deus, explica Emile Male. “A este bestiário luxuoso, vários artistas como Ticiano, Rubens e Veronese, acresceram outros animais simbólicos: pomba, pavão, cervo, galo e leão, além dos anjos que evoluem como símbolos da pureza velando pela Sagrada Família”.

A pomba, símbolo da paz que reinará um dia sobre a humanidade após o Juízo Final, foi a emissária da Anunciação e do término do Dilúvio Universal. “Signo do Espírito Santo, da alma do penitente purificada pela morte, ela se opõe ao negro corvo, encarnação do Diabo. A pomba também simboliza a Igreja nascida no Pentecostes”, sustenta Emile Male.

OUTROS ANIMAIS – O cervo, segundo o Salmo 41, após beber no regato, brame pela presença do Messias. Ele é também o matador da serpente tentadora. Já o pavão de caudas é reverenciado pelos cristãos primitivos como símbolo da redenção e da vigilância contra o pecado. Mas em pintura, era também um animal que permitia vivas combinações de cores”, constata Emile Male.

O galo não significa apenas o símbolo da regeneração e do remorso de São Pedro, é também a imagem de Cristo que, no terceiro dia, ressurgiu das trevas para a Ressureição. Seu canto matinal não apenas acorda o homem para o trabalho, mas serve para lembrá-lo que mais um dia passou e a morte se aproxima.

E o leão, símbolo da coragem e da força, paradoxalmente, significa também a sepultura, onde um dia os restos mortais irão repousar. Além desses símbolos iconográficos da Natividade, outros foram adotados para significarem o bem ou o mal. “Na Idade Média e, desde a Arte Cristã Primitiva, o importante das imagens não eram suas qualidades físicas, mas seu conceito metafísico, pois a metafísica, no mundo medieval, era a única filosofia que explicava o Universo”, afirma Male.

Ivan Lins e Celso Viáfora imaginaram um Papai Noel brasileiro, de camiseta

Música do Brasil: ♫Papai Noel de camiseta♫

Ilustração do Ivan Jerônimo (Arquivo Google)

2Paulo Peres
Poemas & Canções

O arranjador, cantor e compositor paulista Celso Viáfora, na letra de “Papai Noel de Camiseta”, soltou a imaginação para retratar uma realidade que para muita gente não existe. A música foi gravada por Ivan Lins no CD Um Novo Tempo, em 1999, pela Abril Music.

PAPAI NOEL DE CAMISETA
Ivan Lins e Celso Viáfora

Noel irá chegar de camiseta
metido num chinelo e de bermuda jeans
tocando agogô invés de uma sineta
cantando do xará o “Palpite Infeliz”
então, será Natal
A noite vai ser mais feliz

Estenderá uma toalha na sarjeta
em qualquer praça de subúrbio do País
trará cachaça, arroz, feijão, a malagueta
doce de leite, balas de goma e quindins
aí será Natal
A noite vai ser mais feliz

E surgirão blocos mirins
de suas camas de jornal
e drag queens
os reis magros do carnaval
de pé no chão
os solitários da paixão
um tamborim
alguém trará um violão
um bandolim
e a multidão vai sambar com a batida dos sinos

Ali no morro nascerá mais um menino
e, no primeiro sol, virão os bentevis
Num dia de Natal, a gente pode ser feliz

Um menino chamado Manuel Bandeira, que sonhava ganhar presentes no Natal

Eu gosto de delicadeza. Seja nos gestos,... Manuel Bandeira - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Nascido em Recife, o crítico literário e de arte, professor de literatura, tradutor e poeta Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968), conhecido como Manuel Bandeira, no poema “Versos de Natal”, evoca a passagem do tempo numa dimensão metafísica, em que o adulto ainda permanece menino.

VERSOS DE NATAL
Manuel Bandeira

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

Um soneto de Machado de Assis indagava: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Frases de Machado de Assis... - Frases de Machado de AssisPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), no “Soneto de Natal”, faz uma reflexão sobre o ato de criação artística.

SONETO DE NATAL
Machado de Assis

Um homem – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações de sua idade antiga
Naquela mesma velha noite amiga
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

João Cabral de Melo Neto e o simbolismo do reinício da vida em todo Natal

ImagemPaulo Peres
Poemas & Canções

 O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), no poema “Cartão de Natal”, mostra o simbolismo do reinício da vida que todo Natal propicia.

CARTÃO DE NATAL
João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de voo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
Que desta vez não perca este caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem,
o sim comer o não.

No caminho do trabalho, Bastos Tigre consulta a razão e tem uma surpresa

Veredas da Língua: Bastos Tigre – Poemas | Poemas, Citações, PensamentosPaulo Peres
Poemas & Canções

O engenheiro, publicitário, bibliotecário, humorista, jornalista, compositor e poeta pernambucano Manoel Bastos Tigre (1882-1957), no poema “Voz Interior”, depois de tanto filosofar, encontra a resposta para o seu questionamento. Detalhe: Bastos Tigre era autor dos mais criativos anúncios afixados no interior dos bondes, principal meio de transporte de sua época, inclusive os versos que transformaram o xarope Rhum Creosotado num campeão de vendas: ”Veja, ilustre passageiro/ O belo tipo faceiro/ Que o senhor tem ao seu lado./ E, no entanto, acredite,/ Quase morreu de bronquite./ Salvou-o o Rhum Creosotado!“.

VOZ INTERIOR
Bastos Tigre

Quem sou eu? De onde venho e onde acaso me leva
O Destino fatal que os meus passos conduz?
Ora sigo, a tatear, mergulhado na treva,
Ou tateio, indeciso, ofuscado de luz. 
Grão, no campo da Vida, onde a morte se ceva?
Semente que apodrece e não se reproduz?
De onde vim? Da monera? Ou vim do beijo de Eva?
E aonde vou, gemendo, a sangrar os pés nus?
Nessa esfinge da Vida a verdade se esconde;
O espírito concentro e consulto a razão,
E uma voz interior, sincera, me responde:
– Quem és tu? Operário honesto da nação.
De onde é que vens? De casa. Onde é que estais? No bonde.
Para onde vais? Não vês? Para a repartição.