No fim, o que resta da poesia é apenas “um verso, um pensamento ou uma saudade”

Veredas da Língua: Alberto de Oliveira - PoemasPaulo Peres
Poemas & Canções

O farmacêutico, professor e poeta Antonio Mariano Alberto de Oliveira (1857-1937), nascido em Saquarema (RJ), no soneto “Horas Mortas” revela a satisfação que sente, após um longo dia de trabalho, por poder enfim se entregar à poesia.

HORAS MORTAS
Alberto de Oliveira

Breve momento, após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço,
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear o espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica.
Mas é tão tarde! Rápido flutuas, 
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa em que escrevo, apenas fica
Sobre o papel – rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.

Desejos e fantasias de um poeta que ama o que a vida tem de melhor

Affonso Romano de Sant'Anna | Impressões do Brasil | TV Brasil | Cidadania

Affonso Romano, um grande poeta

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna descreve os seus “Desejos”, em que alguns versos são bastante atuais.

DESEJOS
Affonso Romano de Sant’Anna

Disto eu gostaria:
ver a queda frutífera dos pinhões sobre o gramado
e não a queda do operário dos andaimes
e o sobe-e-desce de ditadores nos palácios.

Disto eu gostaria:
ouvir minha mulher contar:
– Vi naquela árvore um pica-pau em plena ação,
e não: – Os preços do mercado estão um horror!

Disto eu gostaria:
que a filha me narrasse:
– As formigas neste inverno estão dando tempo às flores,
e não:-Me assaltaram outra vez no ônibus do colégio.

Disto eu gostaria:
que os jornais trouxessem notícias das migrações dos pássaros,
que me falassem da constelação de Andrômeda
e da muralha de galáxias que, ansiosas, viajam
a 300 km por segundo ao nosso encontro.

Disto eu gostaria:
saber a floração de cada planta,
as mais silvestres sobretudo,
e não a cotação das bolsas
nem as glórias literárias.

Ninguém fazia uma bela canção de amor, como Pixinguinha e Otávio de Souza

CEDOC FPA

Pixinguinha tinha parceiros realmente geniais

Paulo Peres
Poemas & Canções

O compositor e mecânico Otávio de Sousa, na letra de “Rosa”, em parceria com Pixinguinha, expressa o mais alto refinamento do romantismo do início do século XX. Esta valsa foi gravada por Orlando Silva, em 1937, pela RCA Victor.

ROSA
Pixinguinha e Otávio de Sousa

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer

O poeta bebe demais, fica muito mal e canta a balada da irremediável tristeza

Renault  teve uma ressaca poética

Renault amargou uma ressaca poética

Paulo Peres
Poemas & Canções

O professor, tradutor, ensaísta e poeta mineiro Abgar de Castro Araújo Renault (1901-1995), da Academia Brasileira de letras, no poema “Balada da Irremediável Tristeza”, reconhece que não estava nada bem naquele dia.

BALADA DA IRREMEDIÁVEL TRISTEZA
Abgard Renault

Eu hoje estou inabitável…
Não sei por quê…
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio…vazio…

Eu hoje estou inabitável…
A vida está doendo…doendo…
A vida está toda atrapalhada…
estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear…cambalear…
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe…
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável… 

Uma desesperada canção de amor, na parceira de Silvio Caldas e Orestes Barbosa

Orestes, em caricatura de Nássara

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, escritor, compositor e poeta carioca Orestes Dias Barbosa (1893-1966), em parceria com Silvio Caldas, fez uma “Serenata” para o seu amor.  Silvio Caldas gravou esta canção, em 1957, pela Columbia.

SERENATA
Silvio Caldas e Orestes Barbosa

Dorme, fecha esse olhar entardecente
Não me escute, nostálgico, a cantar
Pois não sei se feliz ou infelizmente
Não me é dado, beijando, te acordar

Dorme, deixa os meus cantos delirantes
Dorme, que eu olho o céu a contemplar
A lua que procura diamantes
Para o seu lindo sonho ornamentar

Na serpente de seda dos teus braços
Alguém dorme ditoso sem saber
Que eu vivo a padecer
E o meu coração feito em pedaços
Vai sorrindo ao teu amor
Mascarado desta dor

No teu quarto de sonho e de perfume
Onde vive, a sorrir, teu coração
Que é teatro da ilusão
Dorme, junto aos teus pés, o meu ciúme
Enjeitado e faminto como um cão    

Ritmo era o que mais desejava para seu dia-a-dia o poeta baiano Waly Salomão

Um poema-manifesto de Waly Salomão, propondo que se adote um frenesi pela vida - Flávio ChavesPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta baiano Waly Dias Salomão (1943-2003), no poema“Hoje”, demonstra  seu frenesi pela vida, a sua sede de celebrar o momento presente: o aqui e o agora. Logo, mesmo sem expressá-lo claramente, ele demonstra o desejo implícito de passar uma borracha no passado, de suplantá-lo, sempre cultuando o ritmo do presente.

HOJE
Waly Salomão

O que menos quero pro meu dia
polidez, boas maneiras.
Por certo,
um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignaro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás…)

Hoje só quero ritmo.
Ritmo no falado e no escrito.
Ritmo, veio-central da mina.
Ritmo, espinha-dorsal do corpo e da mente.
Ritmo na espiral da fala e do poema.
Não está prevista a emissão
de nenhuma “Ordem do dia”.
Está prescrito o protocolo da diplomacia.
AGITPROP – Agitação e propaganda:
Ritmo é o que mais quero pro meu dia-a-dia.
Ápice do ápice.

Alguém acha que ritmo jorra fácil,
pronto rebento do espontaneísmo?
Meu ritmo só é ritmo
quando temperado com ironia.
Respingos de modernidade tardia?
E os pingos d’água
dão saltos bruscos do cano da torneira
e passam de um ritmo regular
para uma turbulência
aleatória.

Hoje…           

Há poesia até quando o poeta olha em torno e só vislumbra o vazio

Entrevista - Vânia Diniz no MúsicaPoética em BsB ::

Vânia Diniz em recital de poesia

Paulo Peres
Poemas & Canções

A humanista, pesquisadora, escritora e poeta carioca Vânia Moreira Diniz revela sensações e segredos diante do “Vazio”.

VAZIO
Vânia Moreira Diniz

Contemplo a minha volta e nada vejo
não enxergo,
tudo parece um grande mistério e rezo,
sem entender os segredos que preservo,
e conservo,
dentro do meu coração tão vazio.
Não encontro ressonância e me distancio,
não acho a real certeza e me afasto,
não vejo a luz que direciona e me aparto,
como se nada conhecesse e me arredo.

Sinto a leveza, tento pegar e não consigo,
pressinto a bondade e me aproximo,
não alcanço a sua extensão e choro,
e procuro o ideal que já não creio.
As cores não são do extenso universo,
as dores perduram e triste lamento,
a frieza que se esconde no retiro
de ilusões em que me escondo.

Não quero sentir a saudade do encontro,
das lembranças ocultas atrás do muro,
do sonho sempre e sempre revivido
e do passado que se foi no escuro.

Só a nostalgia perene eu vislumbro,
sensação de terna loucura e vazio,
efusões sepultadas no reencontro,
coração para sempre machucado.
Ando, e me concentro,
caminho,
o passo é lento,
inseguro
e encontro o vazio.

Um poema revolucionário de Tobias Barreto, exigindo o fim da escravidão

Livro: Tobias Barreto - Paulo Dantas | Estante Virtual

Tobias Barreto, grande poeta sergipano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jurista, filósofo, crítico e poeta Tobias Barreto de Meneses (1839-1889), no poema “A Escravidão”, questiona a estrutura escravagista do regime monárquico, opondo-lhe a República e a Abolição.

Na primeira estrofe do poema procede a uma reflexão filosófica profunda acerca da Divindade dogmática como instituição mantenedora das desigualdades sociais e conivente com a exploração do homem pelo homem. Enquanto que, nos dois últimos versos do poema, encontramos um eu-lírico cético e questionador de todos os dogmas religiosos e que não se furta a apontar as falhas Divinas: “Nesta hora a mocidade / Corrige o erro de Deus”.

A ESCRAVIDÃO
Tobias Barreto

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!…

Na noite vazia, uma desesperada canção de amor criada por Nelson Motta

Frases de Nelson Motta | Citações e frases famosas

Nelson Motta, um supercompositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, escritor, roteirista, produtor musical, poeta e compositor paulista Nelson Cândido Motta Filho expõe seu drama amoroso através de uma “Noite Vazia”, na qual vagou pelas ruas da cidade até o dia amanhecer. Esta música faz parte do LP da trilha sonora da novela O Grito, gravado em 1975, pela Som Livre.

NOITE VAZIA
Nelson Motta

Pela cidade deserta
Todas as portas fechadas
Pela rua que amanhece
Pelas luzes que se apagam
O que mais posso fazer
Com quem mais posso falar

E como posso viver, cantar
O que mais posso esperar
Se amanhã é outro dia
Sem manhã e sem você

Thiago de Mello jamais aprendeu a lição de aceitar as injustiças sociais

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Thiago de Mello, grande poeta do Amazonas

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, tradutor e poeta amazonense Amadeu Thiago de Mello (1926-2022), no poema “Não Aprendo a Lição”, mostra como é difícil conviver no mundo feroz dos homens, frente ao poder que se alimenta da fome dos injustiçados.

NÃO APRENDO A LIÇÃO
Thiago de Mello

A lição de conviver,
senão de sobreviver
no mundo feroz dos homens,
me ensina que não convém
permitir que o tempo injusto
e a vida iníqua me impeçam
de dormir tranquilamente.
Pois sucede que não durmo.

Frente à verdade ferida
pelos guardiães da injustiça,
ao escárnio da opulência
e o poderio dourado
cujo esplendor se alimenta
da fome dos humilhados,
o melhor é acostumar-se,
o mundo foi sempre assim.
Contudo, não me acostumo.

A lição persiste sábia:
convém cabeça, cuidado,
que as engrenagens esmagam
o sonho que não se submete.
E que a razão prevaleça
vigilante e não conceda
espaços para a emoção.
Perante a vida ofendida
não vale a indignação.
Complexas são as causas
do desamparo do povo.
Mas não aprendo a lição.
Concedo que me comovo.

“Senhora Liberdade”, uma canção de amor que virou hino nas Diretas Já

A Arte Negra De Wilson Moreira E Nei LopesA Arte Negra De Wilson Moreira E Nei LopesPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, escritor, cantor e compositor carioca Nei Brás Lopes, em parceria com Wilson Moreira, na letra de “Senhora Liberdade”, postula a sua soltura, visto que o crime por ele cometido foi se apaixonar intensamente. Vale ressaltar que, esse samba de duplo sentido virou hino na campanha das diretas e faz parte do LP A Arte Negra de Wilson Moreira & Nei Lopes lançado, em 1980, pela EMI-Odeon.

SENHORA LIBERDADE

Wilson Moreira e Nei Lopes

Abre as asas sobre mim
Oh senhora liberdade
Eu fui condenado
Sem merecimento
Por um sentimento
Por uma paixão
Violenta emoção
Pois amar foi meu delito
Mas foi um sonho tão bonito
Hoje estou no fim
Senhora liberdade abre as asas sobre mim

Um amor mágico, intenso e perfeito, nas asas da poesia de Thais Beija-Flor

Casal de namorados opta por não fazer sexo antes do casamento e fica 2 anos sem se beijar

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Paulo Peres
Poemas & Canções

A poeta paulista Thais Silva Francisco, pseudônimo Thais Beija-flor, no poema “A Sinfonia das Horas”, procura e encontra o tempo certo para o amor.

A SINFONIA DAS HORAS
Thais Beija-Flor

Na sinfonia das horas
Nosso Amor encontra o tempo certo.
Brincamos com os ponteiros
Acertamos nossos minutos
Nos amamos sem pensar nas horas.

As horas são nossas amigas.
Vez ou outra dão uma paradinha,
ou, se deixam somar ao nosso fuso horário
para que nosso tempo ganhe
um pouco mais de tempo,
pois as horas entendem que é Mágico
este momento de Amor!

É Mágico e Abençoado este Amor
que vive intensamente a pulsar
dentro do nosso peito
seja noite ou seja dia…aqui ou aí.

Nada importa se há distância
a separar nossos corpos,
pois nossas almas se encontram
em fração de segundos
se entrelaçam e nos fazem sentir este amor
sublimemente vivido!

Que horas são?
Não importa, meu amor querido,
Os ponteiros do nosso relógio se aquietaram
e ficarão assim pelo tempo necessário,
até que me ajudes a voltar a respirar
pois este amor paixão tirou-me o fôlego
e do teu ar estarei a precisar…

Ah!… Sinfonia das horas.
Cante ao Universo
esta nossa melodia de Amor!

A Terra e o Céu enfim em harmonia, na concepção criativa de Nando Cordel

Nando Cordel | Tudo Sobre | G1

Nando Cordel, grande compositor pernambucano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, instrumentista e compositor pernambucano Fernando Manoel Correia, nome artístico Nando Cordel, na letra de “Terra e Céu”, ostenta um cotidiano diferente do que vivemos nas grandes cidades.

TERRA E CÉU
Nando Cordel

Se o o boi soubesse da força que tem
Não puxava carroça
E a abelha, da dor da picada
Não roubavam seu mel
E a terra era terra
E o céu era o céu

Como era bom
Se toda semente crescesse
E a razão
Pudesse sempre dominar
E essa paz
Fosse que nem uma criança
Andasse solta
Feito a noite de luar

Se na inveja
Colocasse um cabresto
Na ambição
Colocasse um cortador
Na violência
Uma espora amolada
Deixasse a rédea
Solta na mão do amor
Não puxava carroça
Nem roubavam seu mel
E a terra era terra
E o céu era o céu

E o poeta percebe que as coisas são simples, quando as olhamos sem paixão…

Letralia, Tierra de Letras | TransLetralia | Nueve poetas brasileños  contemporáneos | Leo Lobos

Tanussi Cardoso, um poeta de bem com a vida

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, jornalista, escrivão aposentado do Tribunal de Justiça (RJ), crítico literário, contista, letrista e poeta carioca Tanussi Cardoso, no poema “Substantivos”, explica que objetos e sentimentos são bem retratados quando vistos sem emoção.

SUBSTANTIVOS
Tanussi Cardoso

Faca é faca
Pão é pão
Fome é fome
Amor é amor

Estranho desígnio das coisas
De serem exatamente elas
Quando as olhamos sem paixão

Nas asas da poesia, a felicidade pode até vir através de um amor imaginário

A força do amor, na visão da poeta gaúcha

Paulo Peres
Poemas & Canções

A professora gaúcha graduada em educação física e poeta Simone Borba Pinheiro revela como pode se sentir feliz, mesmo que esta sensação venha através de um “Amor Imaginário”.

AMOR IMAGINÁRIO
Simone Pinheiro

É maravilhoso, quando manhã,
encontro seu sorriso sereno a meu lado,
e com seus beijos exploradores, me delicio,
e o amor se faz, ao cantar dos pássaros.
E assim, nosso dia começa,
com o café na cama, a seguir,
recheado de muito amor.

Quando você, para o trabalho sai,
com um ardente beijo nos despedimos,
e é como se o mundo, nesse momento, parasse,
pois apaixonados estamos, cegos de amor,
como no primeiro dia em que nos vimos,
naquele baile em que você,
para dançar me convidou, alegremente.

Vivo hoje esse amor assim, intensamente,
pois a Deus pertence o amanhã.
E ao final da tarde, quando para casa você volta,
trazendo nas mãos um bouquet de rosas,
vermelhas e perfumadas para mim,
não tenho dúvidas de que, esse amor,
apesar de ser imaginário, me faz feliz!…

Muitas vezes, a poesia surge quando o coração do poeta está destroçado…

Ah! Meu amor, se eu pudesse! Autora: Socorro Lima Dantas - ppt carregarPaulo Peres
Poemas & Canções
A advogada e poeta pernambucana Socorro Lima Dantas, ao criar “Assim é o Poeta…”, mostra que nem sempre a poesia surge do romantismo e dos momentos felizes da vida de cada um.

ASSIM É O POETA…
Socorro Lima Dantas

Mesmo com o coração em lágrimas,
o poeta vai escrevendo
para aquecer a sua dor,
relembrar os bons momentos,
arrancando-lhe do âmago os tormentos.

Ah, a alma do poeta!
tropeça, levanta, chora, lamenta,
recolhe os pedaços partidos
que a vida lhe espalhou…

Junta tudo de novo,
na esperança de reencontrar a felicidade,
que um dia lhe escapou.

Entenda a filosofia de vida que levou Martinho da Vila a fazer sucesso

Martinho da Vila marcará presença em uma conferência na UFS

Martinho explora a cadência do samba

Paulo Peres
Poemas & Canções

O escritor, cantor e compositor Martinho José Ferreira, o Martinho da Vila (Isabel), nascido em Duas Barras (RJ), expressa a sua “Filosofia de Vida”. Esse samba foi gravado por Martinho da Vila no CD Filosofia de Vida, O Pequeno Burguês, em 2010, pela MZA.

FILOSOFIA DE VIDA
Martinho da Vila

Meu destino eu moldei
Qualquer um pode moldar
Deixo o mundo me rumar
Para onde eu quero ir
Dor passada não me dói
E nem curto nostalgia
Eu só quero o que preciso
Pra viver meu dia a dia

Pra que reclamar de algo que não mereço
A minha razão é a fé que me guia
Nenhuma inveja me causa tropeço
Creio em Deus e na Virgem Maria
Encaro sem medo os problemas da vida
Não fico sentado de pernas pro ar
Não há contratempo sem uma saída
Pra quem leva a vida devagar

Meu destino eu moldei
Qualquer um pode moldar
Deixo o mundo me rumar
Para onde eu quero ir
Dor passada não me dói
E nem curto nostalgia
Eu só quero o que preciso
Pra viver meu dia a dia

Que o supérfluo
Nunca nos falte
Básico para
Quem tem carestia
Não quero mais do que eu necessito
Pra transmitir minha alegria

Versos bem-humorados de Rubem Braga, se definindo como “um poeta cristão”

A dor do amor tem de repente uma... Rubem Braga - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Considerado o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, o capixaba Rubem Braga (1913-1990), sempre afirmou que a poesia é necessária, tanto que escreveu vários poemas, entre eles, esse bem-humorado “Poeta Cristão”.

POETA CRISTÃO
Rubem Braga

A poesia anda mofina,
Mofina, mas não morreu.
Foi o anjo que morreu:
Anjo não se usa mais.
Ainda se usa estrela
Se usa estrela demais.

Poeta religioso
Mocinha não pode ler:
Pecará em pensamento,
Que o poeta gosta do Novo,
Mas pilha seus amoricos
É no Velho Testamento.

Ai, o Velho Testamento!
Eu também faço poema,
Ora essa, quem não faz:
Boto uma estrela na frente
E um pouco de mar atrás.

Boto Jesus de permeio
Que Deus, nos pratos de amor,
É um excelente recheio.
E isso bem posto e disposto
Me vou aos peitos da Amada:
Sulamita, Sulamita,
Por ti eu me rompo todo,
Sou cavalheiro cristão.
Minh’alma está garantida
Num rodapé do Tristão
E o corpo? O corpo é miséria,
Peguei doença, mas Jorge
de Lima dá injeção!

O badalo está chamando,
Bão-ba-la-lão.

Amada, não vai lá não!
Eu também tenho badalos –
Bão-ba-la-lão
Eu sou poeta cristão!

O amor passa, mas sempre deixa alguma recordação, afirmava Mário Lago

Mario Lago | Palavras interessantes, Frases espíritas, PalavrasPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, radialista, teatrólogo, ator, escritor, poeta e compositor carioca Mário Lago (1911-2002), na letra de “Enquanto Houver Saudade”, em parceria com Custódio Mesquita, não acredita que sua amada não sinta saudades do romance que tiveram. Essa valsa foi gravada por Orlando Silva, em 1938, pela RCA Victor.

ENQUANTO HOUVER SAUDADE
Custódio Mesquita e Mário Lago

Não posso acreditar
Que algumas vezes
Não lembres com vontade de chorar
Daqueles deliciosos quatro meses
Vividos sem sentir e sem pensar

Não posso acreditar
Que hoje não sintas
Saudade dessa história singular
Escrita com as mais suaves tintas
Que existem pra escrever o verbo amar

Enquanto houver saudade
Pensarás em mim
Pois a felicidade
Não se esquece assim
O amor passa mas deixa
Sempre a recordação
De um beijo ou de uma queixa
No coração

Na poesia de Ribeiro Couto, o drama da prostituta que precisa voltar para casa

Retratado por Vicente do Rego Monteiro

Retratado por Vicente do Rego Monteiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O magistrado, diplomata, jornalista, romancista, contista e poeta paulista Rui Ribeiro de Almeida Couto (1898-1963), da Academia Brasileira de Letras, no poema “Fado de Maria Serrana”, expõe o pedido da prostituta que trocou a vida serrana pela cidade grande.

FADO DE MARIA SERRANA
Ribeiro Couto

Se a memória não me engana,
Pediste-me um fado triste:
Triste Maria Serrana,
Por que tal fado pediste?

Na serra, a fonte e as ovelhas
Eram só os teus cuidados;
Tinhas as faces vermelhas,
Hoje tens lábios pintados.

Hoje de rica tens fama
E toda a cidade é tua;
Tens um homem que te chama
Ao canto de cada rua.

Mas ai! pudesses de novo
Tornar à serra, Maria!
Se não te perdoasse o povo,
A serra te perdoaria.

Lá te espera o mesmo monte,
E a casa junto ao caminho,
E a água da mesma fonte
Que diz teu nome baixinho.

Secos teus olhos de mágoa,
Se não tivessem mais pranto,
Choraria aquela água
Que já por ti chorou tanto.