Em “Versos Solitários”, uma comovente lição de vida do poeta carioca Evanir Fonseca

Plenae O que é a solidão?

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, administrador de empresas e poeta carioca Evanir José Ribeiro da Fonseca (1955-2017), no poema “Versos Solitários”, faz uma reflexão sobre a vida.

VERSOS SOLITÁRIOS
Evanir Fonseca

O mundo é obscuro para quem só sente a egoísta vontade de se livrar de tudo,
como num mar de lava que a terra cobre, deixando um rastro de destruição.

A vida inexiste onde a felicidade é utópica e a vontade de amar
é só um vulgar prazer, onde o tudo se transforma em nada,
além de um viver numa estática frigidez,
fingidamente escondida por um sorriso ou uma lágrima,
que nas faces rolam ou secam, parados na desfaçatez gélida,
refletidos no espelho do destino, da verdade incontida
e nas rugas de um grito calado que ecoa na surdez do silêncio,
alertando-nos que o fim nos espreita como abutres,
expresso pela indescritível falta do som
da batida de um coração solitário.

Deus, como se tentasse camuflar as perdas sutis do desconhecido destino, dá-nos opções, sem violar o direito do livre arbítrio, numa compensação sem diretrizes evidentes ou outra forma de expressão compensatória e cúmplice, nos nossos erros e acertos, sempre apresenta-nos oportunidades e mostrando ao julgar nossos sentimentos tristes, atormentados, egoístas ou sufocantes, nunca se afasta dos que, a ele, suplicam por novas oportunidades.

Pedimos que nomes ou apelidos sejam afastados dos indivíduos,
em contrapartida do que ocorre na realidade socialmente
quando, como uma tatuagem, ficam gravados e encrustados
nas almas estigmatizadas, numa busca tênue e discreta da sensatez
fazendo com que logo caiamos no esquecimento, criado pelo labirinto de comportamentos resumidos pelo “tempo”, que, sem pena,
nos cobra sob uma sentença arrogantemente imposta,
apagando todos os nossos créditos, virtudes e lembranças,
deixando vívidos os defeitos que maculam nossos eternos deslizes.

Gostaria de ver as pessoas completas e resignadas,
podendo despedirem-se da vida, dizendo a cada um dos outros seres:
“Perdoem-nos, pelos erros cometidos
e rezem para que nós nunca mais renasçamos
com mágoas e rancores, sem conhecermos a palavra perdão!…”

Lembremo-nos sempre que “amar” não é o pecado maior,
e reconheçamos, assim, que fazer outros te amarem é imperdoável!

No hoje, nos vangloriamos da saudade
que acreditamos ter causado em outras pessoas.
Porém, quando a tristeza na incerteza do amanhã nos alcança
é aí, então, o momento… que já deveremos ter sido esquecidos
e na veracidade de que agora, sarcasticamente, seremos os que sofrerão…!

Joguem-se pela janela chamada poesia, como suicidas!
Este é o meu conselho para acabarmos espatifados em versos e prosas, atirados, largados nas solitárias noites, com ou sem luar.

Nunca sejamos hipócritas! Mas sim, seres que se encontram
à espera do perdão incondicional e eterno, se permitido,
num grande acalento no “Adeus”.

Do que é feito o poema? Bem, o poema pode ser só palavra, e o poeta: inconsequente…

TRIBUNA DA INTERNET | Sob o signo da Liberdade

Eurídice, num encontro de poetas em Petrópolis

Paulo Peres
Poemas & Canções

A professora e poeta Eurídice Hespanhol, nascida em Santa Maria Madalena (RJ), registrou em versos sua versão sobre o que realmente significa um poema, ou melhor, ela explica qual é “A Razão do Poema”.

A RAZÃO DO POEMA
Eurídice Hespanhol

Do que é feito o poema?
Barro de essência invisível?
Nuvem de tons arcoirizados?
Elementos dispersos,
Pelo poeta magnetizados?
Ou densa identidade
de expressão incontida?

O poema é amante,
Sentimento levitante.
Viagem santa e atrevida,
Pulso de um sonho em prece.
Aborto, parto, nascente.
O poema é só palavra
E o poeta: inconsequente…

Uma desesperada valsa do amor fracassado, por Pixinguinha e Cândido das Neves

Pixinguinha e Cândido, dois mestres da MPB

Paulo Peres
Poemas & Canções

O instrumentista, cantor e compositor carioca Cândido das Neves (1899-1934), apelidado de “Índio”, na letra de “Página de Dor”, relembra um amor platônico. Essa valsa foi gravada por Orlando Silva, em 1938, pela RCA Victor.

PÁGINA DE DOR
Pixinguinha e Cândido das Neves

Página de dor
Que faz lembrar
Volver as cinzas
De um amor
Infeliz de quem
Amando alguém
Em vão esconde
Uma paixão

Lágrimas existem
Que rolam na face
Há outras porém
Que rolam no coração
São essas que ao rolar
Nos vem uma recordação
Página de dor
Que faz lembrar
Volver as cinzas
De um amor

O amor que faz sofrer
Que envenena o coração
Para a gente esquecer
Padece tanto
E às vezes tudo em vão
Seja o teu amor o mais
profano delator
Bendigo porque vem do amor
Tendo o pranto amenidade
De aljofrar minha saudade
Glórias tem o pecador no amor

Um estranho mundo imaginário, descortinado pelo poeta Emílio Moura ao cair da tarde

emílio mouraPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, professor e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971), ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, fez parte da célebre geração que renovou a literatura na Belo Horizonte dos anos 20 e 30. Neste poema, Moura revela uma visão melancólica sobre seu “Mundo Imaginário”.

MUNDO IMAGINÁRIO
Emílio Moura

Sob o olhar desta tarde,
quantas horas revivem
e morrem
de uma nova agonia?

Velhas feridas se abrem,
de novo somos julgados,
o que era tudo some-se
e num mundo fechado
outras vigílias doem.

A noite se organiza e, no entanto,
ainda restam certas luzes ao longe.
Ah, como encher com elas
este ser já não-ser que se dissolve
e deixa vagos traços na tarde?

Ser poeta, buscando atingir o núcleo da ideia essencial, na visão de Efigênia Coutinho

Efigênia Coutinho | Oceano de Letras

Efigênia Coutinho, poesia em Petrópolis

Paulo Peres
Poemas & Canções

A artista plástica e poeta Efigênia Coutinho, nascida em Petrópolis (RJ),  criou sua definição de “Ser Poeta”. A seu ver, a poesia será sempre um meio de comunicação de sentimentos na escrita. “Tenho um ritmo pessoal, operando desvios de ângulos, mas sem perder de vista a tradição, procurando atingir o núcleo da ideia essencial, a imagem mais direta possível, abolindo as passagens intermediárias”, revela.

SER POETA
Efigênia Coutinho

A noite sempre cálida me espera,
Tenho em versos a recente emoção
Da inquietude que abraça a quimera,
Enquanto no meu peito pulsa a oração.

A noite ouve o acalanto, esta voz
Que brada a rima solta, e então viajo;
E busco o sopro terno do ninar em nós,
Onde se farta o frêmito voraz, que trajo.

Lá, ao vento espalhado, e envolto,
Meu verso solto, que diz: mortal, eu sou
Na arte que te fecunda e faz devoto…

Porque ser poeta é ser alguém que embelezou
A prosa e o lado vil do caso vário,
E deu-se a Deus que equilibra este rosário.

Sérgio Cabral promoveu almoço no Vasco para comemorar sua volta ao carnaval

Carnaval 2024: Escolas de samba do Rio valorizam a cultura brasileira

Cabral e amigos, vestindo a camisa da escola de samba

Paulo Peres

Para quem acha que já viu tudo em matéria de política, é bom conferir essa pequena reportagem publicada no Twitter News Almirante, relatando que o ex-governador Sérgio Cabral reuniu amigos e admiradores para uma feijoada na sede do Vasco no Calabouço, para comemorar a escolha de seu nome como enredo da Escola de Samba União Cruzmaltina.

Além de aturar o desempenho do Vasco da Gama neste Brasileirão, os torcedores ainda têm de suportar a volta de Sérgio Cabral ao clube carioca, depois de condenado a 245 anos e 20 dias de cadeia. É demais.

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CABRAL FESTEJA COM AMIGOS E ADMIRADORES
News Almirante

O ex-governador Sérgio Cabral continua transitando com desenvoltura no Rio de Janeiro, cumprindo intensa agenda social. Neste domingo, os convidados especiais o aguardam, na sede do Vasco Calabouço, no centro da Cidade, à beira de uma paisagem paradisíaca.

Ao fundo, a baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, a Marina da Glória e a Igreja do Outeiro da Glória, abençoando o domingo iluminado.

De acordo com fontes do SRzd que já estão no local, o almoço bem carioca será servido para 200 pessoas. Sérgio Cabral chegou às 14h30 da tarde, com semblante leve e despreocupado. O que se comenta no local é que o feijão amigo teria sido financiado pelo próprio ex-governador.

ENREDO DA ESCOLA – A sua única orientação teria sido não distribuir convites abertamente, antes deste domingo (23), para não atrair a visita de indesejáveis.

Eufórico com a escolha do seu nome como enredo da Escola de Samba da Avenida Intendente Magalhães, Cabral se sentiu na necessidade de agradecer aos amigos unindo o que mais ama: futebol, Vasco, Carnaval, feijoada e política.

Alegria dos convivas é pela boca livre e poder curtir a festança regada a cerveja e muita caipirinha. Só entrou quem recebeu o convite pelo celular.

Uma canção de amor às contradições e belezas de São Paulo, na visão de Caetano

Cover Sampa- Caetano Veloso - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, músico, produtor, escritor, poeta e compositor baiano Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, na letra de “Sampa”, traduz as impressões que a capital paulista causa ao imigrante, criando num hino de amor à cidade, pois a letra também deve ser analisada levando-se em conta o contexto da época e do próprio momento da vida do autor. A música foi gravada por Caetano Veloso no LP Muito (dentro da estrela azulada), em 1978, pela Philips.

SAMPA
Caetano Veloso

Alguma coisa acontece
No meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga
E a Avenida São João…

É que quando eu cheguei por aqui
Eu nada entendi
Da dura poesia
Concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta
De tuas meninas…

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga
E a Avenida São João…

Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio
O que não é espelho
E a mente apavora
O que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes…

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho
Feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te
De realidade
Porque és o avesso
Do avesso, do avesso, do avesso…

Do povo oprimido nas filas
Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue
E destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe
Apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas
De campos e espaços
Tuas oficinas de florestas
Teus deuses da chuva…

Panaméricas
De Áfricas utópicas
Túmulo do samba
Mais possível novo
Quilombo de Zumbi
E os novos baianos
Passeiam na tua garoa
E novos baianos
Te podem curtir numa boa…               

Não há nada que domine e vença  a alma romântica do poeta, dizia Cruz e Sousa

Do apartamento de Dora Ouve-se o ruído lá fora Do carnaval que ...Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta e jornalista João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Era filho de escravos e se tornou conhecido nacionalmente. Quando morreu de tuberculose, seu corpo foi transportado para sepultamento no Rio de Janeiro, onde tinha grandes amigos, como José do Patrocínio. No poema “Inefável”, Cruz e Sousa fala da invencibilidade de sua alma romântica.

INEFÁVEL
Cruz e Sousa

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda…
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.

“Se essa rua que me atravessa a vida fosse minha, eu afastava a tristeza desse lugar…”

Cacaso - poemas - Revista Prosa Verso e Arte

Cacaso, um letrista verdadeiramente genial

Paulo Peres
Poemas & Canções

O professor, poeta e letrista mineiro Antônio Carlos de Brito (1944-1987), conhecido como Cacaso, na letra de “O Dono do Lugar”, em parceria com Edu Lobo. revisita uma antiga trova do folclore brasileiro para dizer o que faria para viver melhor, caso fosse o proprietário da rua que atravessa sua vida. A música faz parte do LP Tempo Presente, gravado por Edu Lobo, em 1980, pela Philips.

O DONO DO LUGAR
Edu Lobo e Cacaso

Se essa rua que atravessa a minha vida
Fosse minha
Eu queria então cantar
Pra afastar a solidão da minha vida
E a tristeza ir bater noutro lugar

Se essa rua que me deixa de partida
Fosse minha
Eu mandava te buscar
Pra acalmar uma paixão da minha vida
E a tristeza ir bater noutro lugar

Se essa rua que caminha sem saída
Fosse minha
Como dono do lugar
Não falava do amor nessa modinha
Pra tristeza ir bater noutro lugar

“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração…”

Orquestra Ouro Preto celebra Milton e Brant com show no parque das  Mangabeiras | SUPER NOTICIA

Brant e Milton, geniais amigos e parceiros

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, compositor e poeta mineiro Fernando Rocha Brant (1946-2015), na letra de “Canção da América”, lembra o desejo de “frátria”, devido aos laços histórico/afetivos que unem os países americanos, em especial, os latino-americanos. Pelo potencial confraternizador que carrega, a canção tornou-se o hino de celebração das amizades, mormente, para retratar os encontros e as despedidas existentes em nossa vida. Esta música foi gravada por Milton Nascimento, em 1980, no LP Sentinela, pela Ariola. E deve ser cantada sempre, como se fosse um hino do Dia do Amigo, que se comemora hoje, 20 de julho.


CANÇÃO DA AMÉRICA

Milton Nascimento e Fernando Brant

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi

Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam “não”
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente
Vai se encontrar.

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DIA DO AMIGO
Paulo Peres

Não existe palavra
Que possa definir
O real significado,
A bênção Divina
E a felicidade infinda
De tê-lo como amigo.