Desaprovação de Lula supera aprovação e assusta o Planalto

Levantamento já capta efeitos da ‘crise do Pix’

Pedro do Coutto

A pesquisa do Instituto Quaest vem acender o sinal de alarme para o presidente Lula da Silva, pois pela primeira vez o índice dos que desaprovam o governo, 49%, é maior dos que aprovam, 47%. É a primeira vez na série histórica do levantamento que a avaliação negativa supera a opinião positiva. As porcentagens se encontram dentro da margem de erro, de um ponto percentual. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos e entrevistou 4,5 mil pessoas presencialmente.

Na última pesquisa Genial/Quaest, realizada em dezembro do ano passado, a aprovação do trabalho de Lula estava em 52%, e a desaprovação, em 47%. Ou seja, enquanto a desaprovação subiu dois pontos, a aprovação do governo caiu cinco pontos. Em ambos os casos, os movimentos foram acima da margem de erro da pesquisa. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%.

BOA INTENÇÃO – Apesar disso, o percentual dos eleitores que acredita que Lula é bem intencionado ainda supera o daqueles que acreditam que ele tem más intenções, por 47% a 46%. No entanto, 65% dizem que ele não tem conseguido fazer o que prometeu em campanha, e só 20% acham que tem conseguido.

A mesma conclusão é possível quando a pergunta é sobre a avaliação do governo – e não só do trabalho do presidente. De dezembro para cá, o percentual dos que avaliam o governo de forma negativa subiu de 31% para 37%, superando pela primeira vez a avaliação positiva. Esta caiu de 33% para 31%. Já os que avaliam o governo de forma “regular” eram 34% em dezembro, e agora são 28%.

O levantamento é o primeiro a captar os efeitos da crise do Pix sobre a avaliação do governo. Na semana passada, a oposição usou as redes sociais para acusar o governo de ampliar a coleta de informações de pagamentos via Pix para cobrar mais impostos. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre o assunto ultrapassou a marca de 300 milhões de visualizações no Instagram.

IMPACTO – Na pesquisa Quaest, o impacto do assunto é perceptível, já que a “regulação do Pix” foi a notícia negativa mais citada, de longe, com 11% – a segunda colocada foi mencionada por 3%. São 66% os brasileiros que acham que o governo errou em sua atuação sobre o tema.

O governo tem que agir rapidamente para conter os números em queda, uma vez que o declínio pode estabelecer um processo de maior duração. É muito difícil inverter uma tendência dessa, mas é viável, bastando a execução de ações concretas, não ficando apenas nas palavras. É necessário que a opinião pública veja o empenho do governo e a execução das ideias.

Delação de Cid implica Michelle e Eduardo Bolsonaro em trama golpista

Ala “mais radical” do grupo incluía Michelle e Eduardo Bolsonaro

Pedro do Coutto

O tenente-coronel Mauro Cid disse em seu primeiro depoimento no processo de delação premiada à Polícia Federal, em agosto de 2023, que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro tinham envolvimento com a suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo ele, a mulher e o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro eram a ala “mais radical” na articulação da ação antidemocrática.

Segundo a íntegra da delação de Cid, Michelle e Eduardo teriam incentivado o ex-presidente a tomar medidas extremas após a vitória nas urnas do presidente Lula da Silva. No entanto, no relatório final da Polícia Federal, concluído em novembro de 2024, a alegação não é referida, além da ex-primeira-dama não ter o nome citado e o deputado apenas ser mencionado tangencialmente. Ainda de acordo com Cid, Michelle e Eduardo teriam alegado a Jair que ele tinha o apoio popular e dos CACs.

“ALA RADICAL” – Além dos familiares, Cid disse que a “ala radical” era composta também pelo deputado Filipe Martins, o ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência Onyx Lorenzoni, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, o general Mário Fernandes, e os senadores Jorge Seif e Magno Malta. Destes, apenas Martins Fernandes foi formalmente indiciado pela PF. À época, Michelle e Eduardo teriam negado envolvimento em alguma articulação de golpe. A defesa da ex-primeira-dama disse que as acusações são “absurdas e sem fundamento” e Eduardo classificou a delação de Cid como “delírio” e “ficção”.

Segundo o texto, Mauro Cid disse que o ex-presidente se encontrava com três grupos distintos depois que perdeu a disputa para Lula da Silva. Eram os “conservadores”, que teriam uma linha bem política. A intenção desses indivíduos era transformar Bolsonaro em um “grande líder da oposição”. Alguns dos integrantes seriam o senador Flávio Bolsonaro e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União.

“MODERADOS “ – Tinham também os “moderados” que diriam concordar com “as injustiças” do Brasil, mas não eram a favor de uma intervenção radical. “Entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, afirma o texto.

Participantes incluiriam o general Júlio César de Arruda, militar e então comandante do Exército, além do general Paulo Sérgio Nogueira, então Ministro da Defesa. POr fim, existia ainda os “radicais”, em que parte seria a favor de ir atrás de uma suposta fraude nas urnas. Outra parcela “era a favor de um braço armado”. Estavam inclusos o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.

DEFENSORES – “É muito grave saber que Michele e Eduardo Bolsonaro estavam entre os maiores defensores do golpe armado contra a posse de Lula”, postou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann em sua rede social. “Eram e ainda são as pessoas mais próximas do inelegível e seus maiores porta-vozes na política. Fica cada vez mais insustentável a conversa mole de que ele não tinha nada a ver com a trama contra a democracia, que previa até o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A hora da verdade está chegando”, assinalou Gleisi.

Complicações graves à vista para os envolvidos diante da trama golpista que envolve a participação do próprio ex-presidente da República. A situação política do país revela que a delação de Mauro Cid não pode ser um lance isolado. O projeto vem à tona com suas faces expostas e verdadeiras, deixando principalmente mais claras as ações de Bolsonaro.

Ambiente de incerteza faz com que empresas reduzam ou adiem investimentos

Dólar, juros e Trump, a tempestade perfeita

Pedro do Coutto

Uma série de fatores tem criado uma atmosfera de incertezas e levado empresas a adiar projetos e investimentos na economia brasileira, incluindo o aumento de despesas para quem tem dívidas em dólar e a alta nos custos de produção. Depois de um crescimento econômico acima do esperado observado em 2024, companhias brasileiras de todos os portes no atual cenário enfrentam obstáculos, descrito pelos empresários como o de uma tempestade perfeita.

Conjugam-se mutuamente a taxa básica de juros (Selic) em 12,25% ao ano (com expectativa de chegar a 15% no fim de 2025), dólar alto (valorização de 27% no ano passado) e as incertezas em torno das contas públicas no Brasil e do novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

RECEIO – Há temores dos custos financeiros que estão causando retração de investimentos e a palavra de ordem nas empresas é investir e contratar menos para atravessar as questões previstas para 2025. Além dos juros mais altos, há um nível de incerteza maior no exterior e no Brasil, o que limita decisões de consumo e investimentos, com reflexos negativos na economia e na performance das empresas.

A possibilidade de tarifas (sobre importações) nos EUA pode reduzir a competitividade de produtos brasileiros no mercado americano em relação a produtos locais ou de outras origens que forem menos taxados. Na semana passada, o dólar caiu abaixo dos R$ 6 com a ausência do tarifaço prometido por Trump antes da posse. Ainda assim, empresas exportadoras estão se protegendo para esse cenário.

BARREIRAS – Na siderurgia, um dos setores brasileiros que mais exporta para os EUA, o temor vai além das barreiras de Trump por lá. Preocupa a possibilidade de entrada de mais aço da China no Brasil, em condições desleais de concorrência. Mas ainda é cedo para avaliar potenciais impactos.

Para o governo, a redução dos projetos de investimentos é algo preocupante, sobretudo porque nesses estão embutidos o caráter dos empregos que precisam ter continuidade. Será preciso avaliar cada passo e estabelecer planos de médio e longo prazo para evitar o que já foi conquistado até agora.

Governo quer reduzir impostos de importação para baratear alimentos

Governo afirmou que não haverá congelamento de preços

Segundo o ministro Rui Costa, ao facilitar a importação desses alimentos

Pedro do Coutto

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou nesta sexta-feira, que o governo estuda a possibilidade de reduzir o imposto de importação de alimentos que, por algum motivo, estiverem mais baratos no exterior que no Brasil. Segundo Rui Costa, ao facilitar a importação desses alimentos, o governo contribuiria para aumentar a oferta do produto e, por consequência, a queda do preço.

“Não tem explicação para [o preço interno] estar acima. Todo produto que o preço externo estiver menor que o interno, vamos atuar. O preço se forma no mercado. Se tornarmos mais barata a importação, vamos ter atores do mercado importando. E vão ajudar a baixar o preço do produto interno”, disse.

CONGELAMENTO – Rui Costa disse ainda que o governo não pretende adotar nenhuma medida fora do padrão para baixar o preço dos alimentos nos supermercados. “Não haverá congelamento de preços, tabelamento, fiscalização”, afirmou o ministro. A fala aconteceu após reunião entre o presidente Lula e ministros sobre propostas para baratear o preço dos alimentos, tema que se tornou prioridade para o governo federal neste início de ano.

O governo Lula diz que vai trabalhar para intensificar iniciativas de estímulo à produção agrícola já existentes, em particular aquelas destinadas aos produtos que compõem a cesta básica. “Eu diria que o carro-chefe, para resumir, é que o presidente pediu para que deem uma lente de aumento, foco maior, na hora da definição de políticas públicas já existentes”, afirmou Rui Costa. O ministro disse que a ênfase será dada aos produtos que fazem parte da cesta básica.

É preciso destacar que favorecer as importações de alimentos estrangeiros para conter os preços no mercado interno vai acarretar consigo a necessidade também de facilitar a tributação dos produtos fabricados no país, pois uma vez que se abre impostos para conter preços, as variáveis terminam não sendo importantes já que vantagens tributárias vão se encontrar nas gôndolas dos supermercados.

REIVINDICAÇÃO – Os produtores brasileiros, evidentemente, reivindicaram também vantagens fiscais atribuídas aos produtos vindos de fora. Com isso, serão contidos os preços de modo geral, fazendo com que essa política do governo assegure estabilidade entre o que é importado e o que é produzido no país. Aliás, será um fator de equilíbrio já que a quase totalidade de produtos agrícolas que são comercializados no Brasil não apresentam nenhuma vantagem em relação às importações.

O que pode ocorrer é uma facilitação para os produtos que vêm de fora e se deparam com o mercado brasileiro com preços inferiores aos de origem nacional. De qualquer forma, porém, o governo deixou claro com a medida anunciada que está preocupado com o reflexo político, melhor falando, com a política eleitoral.

Portanto, a campanha praticamente já começou diante da preocupação da administração atual de não conceder argumentos a possíveis adversários que podem usar como justificativas o custo de vida no país. Entretanto, no plano da alimentação e de seus reflexos inflacionários, não faltarão fatores à oposição para combater o ponto vulnerável na administração Lula da Silva que efetivamente não pegou ainda a forma adequada de vencer a etapa inflacionária. Os alimentos continuam subindo e o governo se vê obrigado a cortar a taxa de importação.

Trump vai exigir redução dos juros e desafia independência do BC americano

Trump dominou a edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos

Pedro do Coutto

Donald Trump discursou na última quinta-feira, em vídeo, no Fórum Econômico Mundial de Davos, voltando a defender o uso de combustíveis fósseis para impulsionar a economia e disse que vai exigir o corte das taxas de juros nos Estados Unidos. O presidente americano disse que o mundo testemunhou uma revolução do bom senso nos últimos dias, criticando o antecessor, Joe Biden, principalmente pelo aumento da inflação e pela forma como lidou com a imigração.

Na área ambiental, Trump listou as medidas que já tomou para barrar iniciativas sustentáveis e promover a exploração de combustíveis fósseis. “Os Estados Unidos têm a maior reserva de petróleo e gás do planeta. E vamos usá-la”, disse. O presidente americano afirmou que vai pedir à Arábia Saudita e à Organização dos Países Exportadores para reduzirem o preço do petróleo.

CORTE – “Se o preço caísse, a guerra entre Rússia e Ucrânia acabaria imediatamente”, disse, sem entrar em detalhes. Trump disse que depois dessa redução no preço do petróleo, vai exigir o corte imediato das taxas de juros dos Estados Unidos, um desafio ao Banco Central americano, que é historicamente independente, e acrescentou que elas deveriam estar caindo no mundo inteiro.

Na área econômica, o presidente americano prometeu cortes de impostos para as empresas que se instalarem nos Estados Unidos. Trump também disse que espera um relacionamento justo com a China, reclamou do déficit comercial com a União Europeia e voltou a ameaçar os aliados históricos com mais taxação sobre importações. Foram quatro dias de expectativas em Davos de olho nos próximos quatro anos de governo Donald Trump. Não há dúvidas: mesmo à distância, o presidente americano dominou esta edição do Fórum Econômico Mundial. Direta ou indiretamente, Trump passou pelos debates e discursos.

Os preços do petróleo foram para o território negativo com o discurso de Trump, enquanto o euro caiu e o dólar oscilou entre ganhos e perdas em relação a uma cesta de moedas fortes. Algumas de suas críticas mais duras foram reservadas aos tradicionais aliados dos EUA, o Canadá e a União Europeia, que ele ameaçou novamente com novas tarifas, ao mesmo tempo em que repreendeu suas políticas de importação, culpando-os pelo déficit de produtos comerciais dos EUA com esses parceiros. “Uma coisa que vamos exigir é o respeito de outras nações. Canadá. Temos um déficit enorme com o Canadá. Não vamos ter isso em lugar nenhum”, disse.

CRÍTICAS – Ele também criticou duramente seu antecessor Joe Biden e as políticas que dominam Davos há anos, desde as políticas de mudança climática até a diversidade. O ex-secretário de Estado dos EUA John Kerry, que serviu sob o comando de Biden, ficou visivelmente constrangido enquanto ouvia o discurso. Trump prometeu reduzir a inflação com uma combinação de tarifas, desregulamentação e cortes de impostos, juntamente com sua repressão à imigração ilegal e o compromisso de tornar os Estados Unidos um centro de inteligência artificial, criptomoedas e combustíveis fósseis.

O fórum de Davos deu a alguns executivos a oportunidade de questionar publicamente o presidente sobre questões que afetam seus negócios ou, em alguns casos, seus investimentos, projetos e interesses específicos. Trump repetiu uma série de falsidades conhecidas – que os EUA tinham o ar e a água mais limpos durante seu primeiro mandato, que ele venceu por grande número de votos nos Estados Unidos, e que havia um Green New Deal nos EUA que ele havia revogado.

Trump agiu rapidamente para reprimir a imigração, expandir a produção doméstica de energia e ameaçou impor tarifas pesadas à União Europeia, China, México e Canadá. Ele também retirou os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde e do acordo do clima de Paris. Ele disse que renomeará o Golfo do México como Golfo da América, embora outros países possam não adotar o novo nome. Ele também ameaçou retomar o Canal do Panamá do Panamá.

PERDÃO – O presidente ainda perdoou mais de 1,5 mil partidários que atacaram o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, em um esforço fracassado para reverter sua derrota nas eleições de 2020, causando indignação entre parlamentares e policiais cujas vidas foram colocadas em risco. Trump está se movendo para desmantelar os programas de diversidade dentro do governo dos EUA e está pressionando o setor privado a fazer o mesmo. Isso fez com que algumas pessoas em Davos procurassem novas palavras para descrever práticas no local de trabalho que, segundo elas, são essenciais para seus negócios.

Em poucos dias, Trump tem promovido grandes reflexos internacionais com as suas declarações. Saber se serão efetivadas é outra questão, uma vez que muitas das ações se confrontam com a legalidade e os limites constitucionais do seu próprio país.

Governo de Lula enfim entra em alerta com inflação de alimentos

Lula deu um puxão de orelha nos ministros

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva está efetivamente preocupado com a inflação causada principalmente pela elevação dos preços dos alimentos. A percepção no Planalto é que o aumento da inflação tem corroído a popularidade do governo. Em 2024, a inflação estourou o teto da meta e fechou o ano a 4,83% — o limite era 4,5%.

O preço dos alimentos puxou o indicador e foi o que mais subiu no período.A inflação de alimentos e bebidas ficou em 7,69%, bem acima do que ocorreu no ano anterior, quando o grupo subiu 1,11%. Além disso, o subgrupo Alimentação no domicílio avançou 8,23% no ano, com o aumento no preço da carne como destaque.

PUXÃO DE ORELHA – Os dados são referentes ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado neste mês de janeiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Durante a reunião ministerial desta segunda-feira, na Granja do Torto, Lula deu um puxão de orelha nos ministros, cobrando medidas para o enfrentamento do aumento de preços dos alimentos.

A questão gerou um debate sobre os fatores que contribuem com esse resultado, como o preço do dólar e o impacto dos eventos climáticos extremos ao longo do ano. A preocupação do governo está voltada para os reflexos na área política, sobretudo nas eleições presidenciais de 2026. A evolução dos preços de artigos essenciais afeta diretamente a imagem do governo.

Lula quer discutir políticas públicas concretas que possam mitigar a alta do preço dos alimentos, embora haja uma preocupação no governo de que a inflação demoraria a arrefecer. A avaliação do Planalto é que, se os valores não diminuírem logo, o governo precisa pelo menos deixar claro à população que busca resolver o problema. Lula deve passar a tratar do assunto com frequência nas suas falas públicas.  

Trump, o homem tempestade, promove inquietação e perplexidade

Os primeiros atos de Trump e a grande inquietação internacional

Saída da OMS e do acordo de Paris estão entre as medidas

Pedro do Coutto

O mundo, na sequência da posse de Donald Trump nos Estados Unidos, amanheceu intranquilo com as posições anunciadas, principalmente quanto ao estado de calamidade que se aplica às fronteiras e o impulso para expandir limites dos Estados Unidos. Trump lançou uma campanha à base de choques com a realidade, mudando o comportamento usado até então pelo ex-presidente Joe Biden, partindo assim para uma situação de confronto com a política que vinha sendo colocada em prática.

Trump, logo no dia de regresso à Casa Branca, assinou ordens executivas que retiram os Estados Unidos do Acordo de Paris – pedra basilar no combate às alterações climáticas – e da Organização Mundial da Saúde, a maior e mais influente agência global na luta contra as crises sanitárias. “Vou retirar-nos imediatamente do injusto e unilateral Acordo de Paris sobre o clima”, disse o novo presidente antes de assinar a ordem. “Os Estados Unidos não vão sabotar as suas próprias indústrias enquanto a China polui impunemente”.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS – A decisão não é inédita. Já no seu anterior mandato enquanto 45.º presidente Trump tinha retirado os Estados Unidos do acordo. A decisão foi, porém, revertida pelo ex-presidente Joe Biden quando este tomou posse. A saída dos Estados Unidos do acordo que estabelece o combate às alterações climáticas, assinado em 2015 por quase duas centenas de países, coloca em causa o objetivo de impedir um aumento das temperaturas globais na ordem dos 1,5 graus.

Ainda na área do clima, Trump revogou um memorando de 2023 de Joe Biden que proibia a perfuração de petróleo em cerca de 16 milhões de hectares no Ártico, defendendo que o governo deve encorajar a exploração e produção de energia em terras e águas federais.

IMIGRAÇÃO – Além disso, Donald Trump declarou que implementará rapidamente ações executivas sobre imigração, política energética e operações do governo federal para verificar dezenas de prioridades de política de campanha. Além disso, prometeu emitir cerca dezenas de ordens executivas projetadas para reverter ou eliminar aquelas implementadas pelo governo Biden.

Stephen Miller, o novo vice-chefe de gabinete de política de Trump, apresentou algumas dessas ações na tarde de domingo em uma ligação com republicanos seniores do Congresso, confirmando que elementos de um conjunto abrangente e planejado de ações de imigração entrariam em vigor, incluindo Trump invocando uma emergência nacional na fronteira como uma forma de desbloquear o financiamento do Departamento de Defesa para uso do governo.

DIVERSIDADE – O presidente americano se comprometeu ainda a assinar ordens executivas rescindindo as políticas de diversidade, equidade e inclusão do governo federal, Miller disse aos legisladores, bem como ações para remover ordens executivas específicas relacionadas a gênero colocadas em prática pelo seu antecessor.

Os discursos e seus conteúdos, na prática, deixam preocupados uma série de governos e de populações. O governo Trump governa na base de ameaças, dizendo inclusive que o Brasil e a América Latina dependem muito mais dos Estados Unidos do que o contrário.Veremos agora como reagirá o presidente Lula da Silva diante das circunstâncias colocadas por Trump e a politica que ele colocará em prática.

A inquietação promovida pelas declarações do presidente americano tiveram grande repercussão internacional. Seja como for, o mundo acordou sob o impacto das ameaças que ficam como as tempestades que desabam sobre países e territórios, ameaçando governos e as populações de países que fazem fronteira com os Estados Unidos. Vejamos até que ponto chegarão as nuvens que carregam consigo sinais de tempestades.

Aliados e estrategistas se dividem sobre atitude do governo na crise do Pix

Governo precisa acertar a sua Comunicação, reforçando as suas ações

Pedro do Coutto

Na última semana, Gleisi Hoffmann,  presidente do PT,  defendeu a decisão do governo Lula ao revogar a portaria da Receita Federal que aumentaria a fiscalização nas transações via Pix. Por outro lado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, e o ex-líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu,  tiveram o posicionamento oposto, indicando que o Planalto errou ao recuar na medida após o vídeo viral de milhões de visualizações do deputado federal Nikolas Ferreira.

O tema abre uma divisão na base aliada do presidente Lula, além de promover controvérsias entre estrategistas de campanha, especialistas em comunicação digital e líderes de institutos de pesquisa diante de uma das crises mais intensas enfrentadas pelo governo do PT até agora. Enquanto as diferentes alas de profissionais divergem quanto à estratégia adotada pelo governo, há o consenso de que o deputado Níkolas teve as suas declarações sustentadas por argumentos legítimos, apesar do exagero típico das narrativas políticas.

ACERTO – Uma corrente avalia que o governo acertou ao revogar a medida, mas não conseguiu evitar os danos, uma vez que a revogação confirma que não era fake news. Ninguém disse que o governo taxaria diretamente o Pix das pessoas.

A proposta envolvia usar o Pix para monitorar as transações financeiras dos contribuintes e, com base nesses dados, cobrar mais impostos. Portanto, de forma indireta, o Pix seria utilizado para taxar os brasileiros. De forma paralela, em momentos como esse, não há o bom e o ruim. Há o ruim e o pior. Recuar estancou a crise na visão dos que defendem a ação governamental.

ERRO – Para os que vão por outro caminho e acham que o Planalto errou, o governo deixou na mão os defensores das medidas e ofereceu munição para que a oposição saísse como vitoriosa.Além disso, da forma como o recuo foi anunciado, o governo inflamou ainda mais a situação, sendo que a  melhor maneira de enfrentar esse movimento seria entender a nova dinâmica da opinião pública e levar a informação onde está a audiência, independentemente do canal, veículo ou plataforma.

Como se vê, as opiniões se dividem não somente entre os aliados do governo, mas também entre os profissionais que gerenciam crises como a enfrentada recentemente pelo Planalto. O governo, volto a dizer, precisa melhorar as suas estratégias e a sua Comunicação, reforçando os seus pontos fortes, a divulgação de suas ações e confrontando de forma concreta os ataques da oposição.

Para equipe de Haddad, trajetória de endividamento é o maior desafio

Equipe econômica vê pouco espaço político para nova revisão de gastos

Pedro do Coutto

O crescimento da dívida pública preocupa acentuadamente a Fazenda e o ministro Fernando Haddad vê pouco espaço político para mais cortes. É uma situação realmente complicada, e cuja saída não se vislumbra a curto ou médio prazo. A piora na trajetória da dívida pública para os próximos anos acendeu o alerta dentro da equipe econômica para a necessidade de tentar reverter expectativas negativas, embora as resistências políticas a medidas adicionais de revisão de gastos ou aumento de receitas sejam um obstáculo ao governo de Lula da Silva.

Assessores de Haddad destacam que as contas públicas de 2024 apresentam uma melhora em comparação a 2023, com chances reais de o país atingir um superávit nos próximos anos. No entanto, esse avanço pode não ser suficiente para estabilizar a dívida pública. A equipe econômica já reconhece a necessidade de buscar novas fontes de receita para equilibrar o Orçamento de 2025 — um desafio que enfrenta resistência no Congresso e se tornou ainda mais sensível após a recente disseminação de fake news sobre a suposta taxação do Pix, prontamente desmentida pelo governo Lula.

DÍVIDA  – Em dezembro, o Tesouro Nacional estimou que a dívida bruta do Brasil pode alcançar um pico de 83,1% do Produto Interno Bruto em 2028, caso o governo não consiga aprovar novas medidas de arrecadação. No entanto, esses números podem estar subestimados, já que foram calculados com base em uma taxa de juros inferior à atual. De acordo com as expectativas do mercado, o endividamento pode superar 90% do PIB em 2029, sem perspectiva de redução.

Grande parte dessa deterioração está relacionada ao aperto na política monetária. Quase metade da dívida federal está atrelada à taxa básica de juros, a Selic, que foi elevada para 12,25% ao ano, com mais dois aumentos de um ponto percentual cada já previstos para o início de 2025. Além disso, há um consenso de que o governo precisa melhorar a coordenação das expectativas e evitar ruídos em torno de suas medidas econômicas.

O Banco Central já destacou em seus comunicados que a condução da política fiscal é um elemento determinante nas decisões sobre os juros. A percepção dos agentes econômicos em relação ao pacote de medidas fiscais influenciou de forma relevante os preços dos ativos no mercado financeiro. Embora considerado tímido por economistas — avaliação contestada pelo governo —, o pacote foi ainda mais enfraquecido pelo Congresso Nacional. Além disso, a equipe do ministro Fernando Haddad perdeu a disputa interna que vinculou o pacote de gastos à ampliação da isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física para rendas de até R$ 5 mil.

PROPOSTAS – Apesar de ter sido celebrada pela ala política do governo, essa medida acabou ofuscando as propostas de contenção de despesas e aumentou a incerteza do mercado sobre o compromisso do presidente Lula com o ajuste fiscal. Embora o projeto ainda não tenha sido formalmente enviado ao Congresso, o anúncio resultou em uma disparada do dólar, que ultrapassou R$ 6, e levou as taxas de juros a atingir recordes históricos.

A Fazenda, segundo reportagem da Folha de S. Paulo deste domingo, deixou evidente o caráter preocupante da questão que impede o governo de realizar uma série de obras que estão em seu calendário. O ministério assim fica atrelado a uma verdadeira teia diante de uma situação de grande pressão. Seria importante traduzir para números absolutos a incidência de percentuais sobre as operações financeiras. Um desses sentidos se refere à observação concreta do peso do endividamento.Os governos não costumam fazer isso.

Quando o governo percebe que não há espaço para mais cortes, ele fortalece a ideia de que está completamente confuso quanto às ações que tem colocado em prática. São coisas que precisam ser encaradas de frente, uma vez que uma das maiores preocupações do Tesouro Nacional é ter que sofrer pressões por uma carga cada vez maior pela impressão de mais papéis. A diferença entre a dívida e a arrecadação pública aumenta cada vez mais. O desafio para Lula é encontrar uma saída para ter algo a oferecer.

Haddad diz que Bolsonaro pode estar por trás de notícias falsas sobre Pix

Bolsonaro e sua família têm sido alvo de fiscalizações da Receita

Pedro do Coutto

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou suspeitar que o ex-presidente Jair Bolsonaro esteja envolvido na disseminação de notícias falsas sobre uma suposta taxação de transações via Pix. Ele atribuiu essa campanha a descontentamentos de Bolsonaro com investigações realizadas pela Receita Federal contra ele e sua família.

“Tenho para mim que Bolsonaro está um pouco por trás disso, porque o PL financiou o vídeo do Nikolas”, disse Haddad à CNN Brasil, referindo-se ao deputado Nikolas Ferreira, que fez insinuações sobre uma possível taxação futura do Pix. Fabio Wajngarten, ex-chefe de Comunicação do governo Bolsonaro, rebateu a acusação, chamando a fala de Haddad de “mentirosa” e prometendo processá-lo.

DESINFORMAÇÃO – A polêmica teve origem em uma norma da Receita Federal, que entrou em vigor este mês. A medida gerou desinformação sobre uma possível tributação do Pix, levando à revogação da norma. Haddad apontou que o desconforto de Bolsonaro com a Receita estaria relacionado a investigações envolvendo compra de imóveis, o caso das joias e a rachadinha. O ministro também comparou a propagação de desinformação a um vírus e defendeu a atuação do governo para corrigir as informações falsas.

Sobre sua postura mais enfática, Haddad justificou: “Foi uma agressão tão grande ao Estado brasileiro que decidi adotar esse tom”.  Ao ser questionado sobre sua postura firme em relação ao ex-presidente, Haddad explicou que adotou um tom mais enfático por considerar o episódio “uma agressão tão grande ao Estado brasileiro”.

COMUNICAÇÃO – A questão do Pix e da desinformação propagada pela oposição ratifica que o governo precisa alinhar a sua comunicação. A partir do momento em que recuou e revogou à norma, abriu precedentes para que bolsonaristas tentem reforçar seus discursos nas redes sociais, mesmo que às custas das falsas informações, para tentar minas as ações do Planalto.

Conforma já dito, o presidente Lula da Silva decidiu reformular o sistema de comunicação de seu governo que não está apresentando os resultados esperados , deixando passar em branco programadas da mais alta importância e cuja divulgação acrescentaria pontos importantes para a sua administração e para a campanha de 2026. Lula será candidato à reeleição, é claro, até porque não existe outro nome capaz de reunir tantas correntes eleitorais.

DIVULGAÇÃO – É verdade, entretanto, que muito do que já foi conquistado não tem sido divulgado, caindo no esquecimento quanto aos fatores de mobilização da sociedade. A população deve ser informada semanalmente, e não se expor à confusão armada pelos que tentam minar os projetos em andamento.

A presença do governo nas redes sociais constitui uma lacuna que precisa ser preenchida, pois com o passar do tempo perde-se oportunidades de fazer chegar à opinião pública o que está sendo realizado e de que forma os projetos têm sido concretizados.

INVESTIMENTOS – Há ministérios que não estão funcionando adequadamente e os seus titulares não se motivam, fazendo com que as divulgações necessárias não sejam feitas de forma correta e efetiva. A taxa de investimentos públicos subiu acentuadamente, mas a propagação das ações não acompanhou essa evolução com o que seria paralelamente o avanço dos investimentos públicos.

O presidente Lula tem todas as condições para divulgar o seu governo, e realizações nele contidas. Não faltam resultados concretos, basta que a sua comunicação seja também efetiva.

Mercado aponta desconfiança de investidores e cobra controle dos gastos

Charge do Cazo (blogdoaftm.com.br)

Pedro do Coutto

Nos últimos meses, o governo brasileiro enfrenta dificuldades crescentes para comercializar títulos da dívida pública, em meio ao aumento expressivo das taxas, que alcançaram patamares históricos. Segundo analistas financeiros, o cenário é influenciado pela desconfiança dos investidores em relação ao País e pela pressão por medidas concretas de controle de gastos. O Tesouro Nacional, no entanto, assegura que não há crise de confiança, destacando uma demanda estável, apesar das turbulências do mercado.

A taxa de sucesso na colocação de títulos indexados à inflação caiu de 77% em janeiro de 2024 para 52% em dezembro, ao comparar a oferta total do Tesouro com o volume efetivamente vendido.  Na prática, os investidores passaram a exigir prêmios maiores — ou seja, rendimentos mais elevados — para aplicar recursos no Brasil. Em dezembro, o Tesouro Nacional chegou a suspender leilões em diversas ocasiões devido à alta volatilidade do mercado.

CLIMA TRANQUILO – Em 2025, os agentes financeiros iniciaram o ano com um clima ligeiramente mais tranquilo, embora os preços continuem elevados. No único leilão realizado até agora pelo Tesouro com títulos indexados à inflação, os papéis foram negociados a uma taxa média de 7,72% para vencimento em cinco anos — um aumento significativo em comparação aos 5,38% registrados no mesmo período do ano anterior. Para efeito de comparação, durante o governo Dilma, a maior taxa alcançada foi de 7,75% em 2015, para títulos com vencimento em quatro anos.  

Com despesas superiores à arrecadação, o governo recorre à venda de títulos da dívida pública — captando recursos no mercado financeiro — para financiar suas ações. No entanto, essa estratégia aumenta o endividamento, pois o montante captado precisa ser pago com juros no futuro. A situação se agrava com o déficit nas contas públicas, levando os investidores a exigir taxas mais altas. O déficit nominal, que inclui as despesas governamentais e os juros da dívida, alcançou R$ 1,1 trilhão nos 12 meses até novembro, segundo os dados mais recentes.

CUSTOS – O aumento das taxas, combinado à venda de títulos com prazos mais curtos, eleva os custos para o governo manter suas políticas e administrar a dívida.  O cenário é ainda mais crítico devido ao fim dos juros negativos no mercado externo, o que incentiva a saída de recursos do Brasil, como já se observa entre investidores estrangeiros.

Diante desse cenário, o governo tem priorizado a venda de títulos com prazos mais curtos e taxas flutuantes, como o Tesouro Selic, que exigem pagamento em prazos menores. Em novembro, esses papéis representaram 61% das emissões, elevando sua participação no estoque da dívida para 46%. O aumento da taxa Selic agrava o custo dessa dívida, ampliando a pressão fiscal.

Nos primeiros cinco meses deste ano, o Tesouro precisará liquidar R$ 740 bilhões em títulos públicos vencidos. Além disso, há o déficit das contas públicas, o que amplia a necessidade de financiamento. A situação exige atenção e demanda o retorno a uma política fiscal mais rigorosa, com medidas adicionais além das aprovadas em dezembro e posteriormente diluídas no Congresso.

PACOTE – O governo aprovou um pacote de corte de gastos no Congresso Nacional no fim do ano, mas as medidas foram desidratadas. O mercado desconfia dos números divulgados pelo Poder Executivo e acredita que o ajuste não é suficiente para reequilibrar as contas públicas.

Agora, a expectativa na apresentação de novas ações aumenta. A equipe econômica, porém, não dá sinais concretos nesse sentido e ainda precisa votar projetos que ficaram pelo caminho, como a mudança na aposentadoria dos militares e o combate aos supersalários do funcionalismo. Mais um capítulo a ser enfrentado pelo governo Lula.

Disparada do dólar e valorização do petróleo pressionam a inflação

O ano começou com diversas pressões em torno da Petrobras

Pedro do Coutto

Novamente o problema do preço do petróleo e de seus derivados atinge o país. O ano começou com diversas pressões em torno da Petrobras e dos preços dos combustíveis. Com o avanço do dólar e, mais recentemente, do preço do barril de petróleo no mercado internacional, a defasagem da gasolina e do diesel vendidos pela estatal atingiu o maior patamar desde julho do ano passado — de 13% e 22%, respectivamente, esta semana —, o que alimenta a cobrança do mercado por um reajuste nas bombas.

Enquanto a Petrobras não decide sobre um aumento, a partir de 1º de fevereiro o consumidor verá os preços mais altos nos postos, pois a alíquota do ICMS subirá em todo o país. No caso da gasolina, será uma alta de 7,1%. Já no diesel, o aumento será de 5,3%. Isso vai pressionar ainda mais a inflação. Em 2024, a gasolina foi o que mais contribuiu para a alta de 4,83% do IPCA, usado na meta do Banco Central. Além disso, teme-se que os Estados Unidos, no novo governo de Donald Trump, enfrentem inflação e juros maiores, o que valorizaria ainda mais o dólar.

CONFUSÃO – O Brasil é exportador de óleo bruto, um dos maiores do mundo. Mas é importador dos derivados. Não compreendo a preocupação da Petrobras com a questão que está fazendo o governo também participar, demonstrando uma certa confusão quanto ao problema. O dólar atinge a exportação do óleo bruto e a também a importação de gasolina, óleo diesel e gás liquefeito, fatores que se colocam no caminho da Petrobras.

Tenho a impressão que deveria ter uma divulgação mais clara sobre o assunto. Como o dólar influi positivamente para nós quando há um aumento na escala internacional e quando influi nos custos sobre os derivados do petróleo ?

ANÁLISE – O Globo publicou na edição de ontem ampla reportagem fazendo uma análise sobre a defasagem no aumento dos combustíveis. Não sendo o preço reajustado, terá reflexo nos dividendos para acionistas da Petrobras. De qualquer forma, quando se mexe nos preços é preciso considerar o vai e vém.

A questão é, conforme dito,  o que o aumento do dólar traz de positivo e negativo para a Petrobras, já que a exportação de óleo bruto traz dados a favor, mas que não são divulgados. É preciso fazer um comparativo desses com a importação dos derivados. O governo foge de apresentar números absolutos.

Fazenda sinaliza que deve adotar novas medidas fiscais para manter arcabouço

Charge do J. Bosco (oliberal.com)

Pedro do Coutto

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, sinalizou que o governo deve adotar novas medidas fiscais neste ano, o que, na prática, pode diminuir as frustrações dos investidores com o pacote considerado tímido de ajuste de gastos. No ano passado, a desconfiança com o governo fez o dólar disparar e ficar acima do patamar de R$ 6. A cotação da moeda americana se mantém nesse nível em 2025.

De acordo com o número 2 de Fernando Haddad, as novas propostas de corte de despesas e arrecadação devem começar a ser debatidas após a aprovação pelo Congresso do Orçamento de 2025. Segundo ele, a equipe econômica deve voltar a insistir em impor limites aos “supersalários”, pagamentos que extrapolam o limite estabelecido pela Constituição, porque a revisão de gastos deve atingir “o andar de cima”. Durigan ainda rechaça o impacto de políticas fiscais na inflação do ano passado.

ESPECULAÇÕES – É curioso, pois se novas medidas ainda cabem no projeto de arrecadação e despesas, por que não foram colocadas antes da elaboração do projeto, evitando dar margem a especulações? Agora, possíveis alterações podem indicar a falta de segurança sobre as previsões. Com a retomada da limitação dos supersalários, com a proposta de uma Medida Provisória, incluindo aposentadoria de militares, o governo mostra que parece estar confuso sobre a questão,tendo em vista os avanços e recuos na área da Fazenda que é muito sensível e delicada de ser operada.

Cortar os supersalários não adianta. Em relação ao mapa geral não pesam tanta coisa, pois não teriam um efeito percentual tão forte sobre as contas públicas. É preciso equacionar, portanto, o peso percentual de cada medida para se ver se no conjunto cada ação poderá ter reflexos na economia.

Mas, conforme dito, isso deveria ter sido previsto antes da elaboração do projeto apresentado. Qualquer nova restrição à aposentadoria de militares com base na aprovação da idade mínima, provocará uma reação contrária ao governo de grande intensidade, pois é difícil mexer nessa área sem que ela produza efeitos negativos na política governamental.

A população do Rio e do Brasil não aguenta mais tanta violência e medo

As justificativas de Galípolo para a inflação acima da meta em 2024

O presidente do BC teve de se explicar a Haddad

Pedro do Coutto

O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, iniciou o ano com a difícil missão de justificar ao Ministério da Fazenda o desvio da inflação em relação à meta definida pelo Conselho Monetário Nacional. Galípolo destacou que, embora o cenário externo tenha influenciado, fatores internos, como o ajuste fiscal do governo, tiveram um papel relevante no comportamento dos preços.

Quando a inflação ultrapassa a meta, cabe ao presidente do BC apresentar justificativas e detalhar medidas adotadas para conter o problema. Em 2024, o IPCA registrou alta de 4,83%, superando o limite superior de tolerância de 4,50%.

JUSTIFICATIVA – Na carta enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Galípolo atribuiu o desvio ao forte crescimento econômico, à depreciação cambial e a condições climáticas adversas, além de destacar a persistência inflacionária e a deterioração das expectativas. Ele ressaltou ainda que o real foi a moeda que mais se desvalorizou globalmente, indicando a influência de fatores internos específicos.

O documento também aponta a percepção de risco fiscal como fator decisivo para a elevação dos preços de ativos e a deterioração das expectativas econômicas, que contribuíram para a desancoragem da inflação.

PROJEÇÕES – Para conter o cenário inflacionário, o BC retomou o ciclo de alta da Selic, com aumentos sucessivos e sinalizações de novos ajustes. Segundo projeções do Relatório de Inflação, a taxa deve permanecer acima do limite de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando em declínio gradativo, embora ainda acima da meta estabelecida. O Copom destacou que o ambiente econômico permanece incerto e adverso, com riscos inflacionários ainda elevados.

 

Temperatura da Terra supera limiar e provoca um alerta mundial

Governo deve reforçar a divulgação de suas ações através da Secom

Sidônio terá a missão de alinhar indicadores à percepção popular

Pedro do Coutto

Agora, depois da nomeação de Sidônio Palmeira para a Comunicação, o governo será cobrado por relações que ele faz e que não anuncia, pois isso resultava na falta de conexão do ex-ministro Paulo Pimenta com a realidade jornalística. O problema não será resolvido com a simples troca de comando do Secom, mas através de uma visão mais profunda sobre os fatos cotidianos, sendo muitos deles não transformados em matérias importantes por falta de articulação.

O presidente Lula da Silva decidiu reformular o sistema de comunicação de seu governo diante do fato de não ter obtido os resultados esperados , deixando passar em branco programadas da mais alta importância e cuja divulgação acrescentaria pontos importantes para a sua administração e para a campanha de 2026.

ESQUECIMENTO – A atuação do deputado Paulo Pimenta à frente da Comunicação deixou a desejar porque não conseguiu reunir as ações mais importantes do governo, levando, e a partir daí, ao esquecimento de fatores de mobilização da sociedade. Bastaria realizar um acompanhamento das atividades para que a população brasileira sentisse a importância das ações do Executivo. A presença do governo nas redes sociais constitui uma lacuna que precisa ser preenchida, pois com o passar do tempo perde-se oportunidades de fazer chegar à opinião pública o que está sendo realizado e de que forma os projetos têm sido concretizados.

Há ministérios que não estão funcionando adequadamente e os seus titulares não se motivam, fazendo com que as divulgações necessárias não sejam feitas de forma correta e efetiva. A taxa de investimentos públicos subiu acentuadamente, mas a propagação das ações não acompanhou essa evolução com o que seria paralelamente o avanço dos investimentos públicos.

DIVULGAÇÃO – O presidente Lula tem todas as condições para divulgar o seu governo, e realizações nele contidas. Não faltam resultados concretos, basta que a sua comunicação seja também efetiva. É preciso ter uma sensibilidade voltada para o jornalismo para que se perceba a importância da comunicação que só pode alargar os horizontes na medida em que as ações são divulgadas. Isso é importante.

O governo tem os seus projetos, e a sociedade precisa estar a par das articulações, fase a fase, inclusive com a participação do presidente Lula nos noticiários da televisão, dos jornais e das redes sociais. A população envolvida sente-se representada. É fundamental esse sentimento de pertencimento e de informação. Todos os projetos precisam estar expostos de forma transparente, inclusive os que estão parados no Congresso.

Troca na Secretaria de Comunicação marca momento estratégico para Lula

Paulo Pimenta dá lugar a Sidônio Palmeira no comando da pasta

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva trocou o comando da Secretaria de Comunicação para obter melhores resultados junto à opinião pública sobre o seu governo e a sua atuação. A saída de Paulo Pimenta e a nomeação de Sidônio Palmeira para o comando da pasta marcam um momento estratégico para o governo. Pimenta realmente não vinha atuando positivamente e isso refletiu-se no panorama político que depende da comunicação para se desenvolver.

A transição na Secom está agendada para a próxima segunda-feira, e vem acompanhada de uma série de eventos importantes, incluindo a participação de Pimenta nas atividades de aniversário dos dois anos dos atentados às sedes dos Três Poderes ocorrida ontem. Em seguida, será Sidônio quem assumirá as rédeas da comunicação do governo.

PLANEJAMENTO – A transição não é repentina. Na verdade, ela vinha sendo planejada há semanas e envolve uma estratégia mais ampla de ajuste ministerial. Lula já havia manifestado interesse em que Palmeira integrasse sua equipe de forma mais ativa, especialmente após um encontro realizado antes de sua hospitalização. A escolha por Sidônio é uma tentativa de reforçar a comunicação governamental e intensificar o alinhamento estratégico com o Planalto.

“O presidente quer ter a frente da Secom uma pessoa que tenha um perfil diferente do perfil que eu tenho. Um profissional de comunicação, uma pessoa que tenha experiência, que tenha talento, a criatividade, a capacidade de poder exercer essa tarefa e poder coordenar essa política de comunicação do governo no próximo período”, disse Pimenta à imprensa.

Sidônio Palmeira enfrenta inúmeros desafios ao assumir a nova função. Entre as principais tarefas está a necessidade de desenvolver uma comunicação que ressoe com o público e auxilie nas relações entre o Executivo e o Legislativo. O recente envolvimento de Sidônio em iniciativas como o anúncio do corte de gastos públicos, liderado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, exemplifica sua capacidade de estratégia em comunicação.

EXPECTATIVA – “A gente precisa é que aconteça, é que tem uma expectativa grande com governo, tem a gestão e tem percepção popular. Eu acho que a gente precisa alinhar essas três coisas. E esse é o desafio nosso: expectativa, gestão e percepção popular fiquem equilibradas. A gente precisa evoluir nisso”, afirmou Palmeira a jornalistas.

Para Paulo Pimenta, o futuro ainda é incerto. Possibilidades incluem sua realocação para outro ministério ou retorno ao mandato na Câmara dos Deputados, do qual está licenciado. A mudança reflete mais um passo na estratégia administrativa de Lula, que visa ajustar o equilíbrio de poder nas relações com partidos políticos e garantir suporte para políticas de interesse do governo.

DIVULGAÇÃO – É preciso ver o que se encontra no governo em questões que podem se transformar em fatos concretos para a divulgação efetiva. Lembro do governo Juscelino Kubistchek que de dois em dois meses comparecia à televisão falando do seu governo, demonstrando um entusiasmo crescente e uma sensação de que algo concreto acontecia. O governo Lula precisa dessa disposição para conquistar espaços vazios na opinião pública. É necessário que se baseie em situações de interesse coletivo.

O governo entrará em uma nova etapa da comunicação visando as eleições de 2026. É preciso ver que não custa nada passar um pente fino nos problemas que estão tramitando no Congresso e no próprio Executivo. A partir daí é preciso analisar os setores que precisam de um rejuvenescimento e uma visão popular para que cheguem ao conhecimento público com mensagens efetivas de interesse de todos.

Uma grande notícia! Brasil fecha 2024 com US$ 337 bilhões em exportações

O superávit no comércio externo chegou a US$ 74,6 bilhões

Pedro do Coutto

O setor do governo Lula que está apresentando melhores resultados é, sem dúvida, o do comércio externo. As exportações brasileiras totalizaram US$ 337 bilhões, um crescimento de 3,3% na corrente de comércio em relação a 2023, que chegou a US$ 599,5 bilhões.

As importações somaram US$ 262,5 bilhões, com saldo positivo de US$ 74,6 bilhões. Os dados são da balança comercial divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

O Brasil se destaca com recorde de exportação de US$ 181,9 bilhões na indústria de transformação em 2024, maior valor desde 1997.

Somente no mês de dezembro de 2024, as exportações somaram US$ 24,9 bilhões, e as importações, US$ 20,1 bilhões, com saldo positivo de US$ 4,8 bilhões e corrente de comércio de US$ 45 bilhões. Comparando-se este período com o de dezembro/2023, houve queda de -6,7% na corrente de comércio.

COMPARATIVO – Fazendo um comparativo entre 2023 e 2024 nas exportações, dezembro de 2024 somou US$ 24,9 bilhões, enquanto em dezembro de 2023 foi de US$ 28,8 bilhões, uma queda de 13,5%.

Em relação às importações, houve crescimento de 3,3% em dezembro/2024 (US$ 20,1 bi), comparativamente ao mesmo mês de 2023 (US$ 19,5 bi). O resultado de dezembro foi 48,5% menor do que o registrado no mesmo período do ano anterior.

Já entre janeiro a dezembro de 2023 e o mesmo período de 2024, nas exportações houve uma queda de 0,8% – em 2024, foram US$ 337,0 bi, e, em 2023, US$ 339,7 bi. Em relação às importações, houve crescimento de 9,0% entre o período de janeiro/dezembro – 2024 (US$ 262,5 bi) com janeiro/dezembro – 2023 (US$ 240,8 bi).

SOJA – Entre as exportações, produtos historicamente importantes para a balança comercial brasileira, como a soja, registraram uma queda de vendas para o comércio exterior. No entanto, a venda de mercadorias como óleo bruto de petróleo e combustíveis apresentaram alta no ano passado.

Não se deve confundir a balança comercial com o balanço de pagamentos, pois esse pode ter um resultado diferente, mas não capaz de inverter o êxito alcançado pelo governo. O Brasil tem acumulado resultados positivos como os números agora demonstram. O governo Lula tem assim razões para estar satisfeito, traduzindo os números como um fato muito importante para as políticas externa e interna do país.