MEC anulou um acordo lesivo com a ONG espanhola, e depois retomou

ANDES-SN interpela Ministro da Educação na justiça

Abraham Weintraub descobriu a corrupção MEC-OEI

Carlos Newton

Recordar é viver. Nem sempre a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI) levou aqui no Brasil a boa-vida que desfruta hoje, apadrinhada pela “coordenadora” Janja da Silva, que levou seu marido a transferir para a OEI determinadas responsabilidades que só devem  recair sobre o governo.

Embora se apresente como um órgão internacional formado pelos países ibero-americanos, na verdade a OEI é apenas uma ONG que nada produz e é especializada em “vender” assessorias e “eventos” a governantes incautos.

PEDIDOS DE JANJA – No caso do Brasil, depois que Janja foi convidada e aceitou ser “coordenadora” da OEI no país, em abril de 2023, a ONG espanhola passou a fechar contratos seguidos com o governo federal. Afinal, será que algum ministro se recusaria a atender um pedido de uma primeira-dama tão pró-ativa, que manda e desmanda nesta república?

O pior é que, desde que a CNN publicou a primeira reportagem de Caio Junqueira, a cada dia surgem mais irregularidades cometidas pela organização espanhola.

Mas não é fácil constatar essas ilegalidades, porque seus operadores desenvolveram diversas modalidades de faturamento, mediante acordos com governos das antigas colônias espanholas e portuguesas.

GOLPES PERFEITOS – Pode-se dizer que os dirigentes da ONG espanhola criaram uma indústria de golpes com impressionante aparência de legalidade. O esquema, basicamente, funciona assim. A ONG sugere ao governo a formação de um grupo de trabalho para estudar algum assunto ligado à Educação, Cultura ou Ciência, indica e contrata especialistas e cobra do governo uma “contribuição voluntária”, como se fosse uma doação.

A exploração é abusiva, como se constatou em 2019, quando o Ministério da Educação anulou um acordo com a OEI, em vigor desde 2008, porque a contratação acontecera de maneira irregular e não respeitou os ritos formais previstos.

O MEC informou que, desde que o contrato passou a vigorar, R$ 178 milhões foram repassados à organização para pagar aos 89 consultores que prestavam serviços ao ministério (contratados pela OEI). Quando se descobriu o esquema, eles foram dispensados – 50 deles atuavam na área de Tecnologia da Informação (TI).

IRREGULARIDADES – Segundo o ministério, havia uma vinculação indevida entre a contratação dos consultores e o volume das chamadas “contribuições voluntárias” que o governo brasileiro fazia na conta da OEI. O MEC ressaltou que o modelo contrariava as normas previstas para a formulação dos acordos de cooperação com organismos internacionais, estabelecidas por decreto.

Além disso, o MEC afirmou que outros parâmetros formais foram desrespeitados. Os termos do acordo não foram analisados pela consultoria jurídica da pasta e não foi o ministério que elaborou o projeto básico, mas a própria OEI.

Além disso, não houve aprovação prévia da Agência Brasileira de Cooperação, órgão do Ministério das Relações Exteriores; o termo do acordo não foi publicado no Diário Oficial; e não havia detalhamento da execução orçamentária.

CONSULTORES FANTASMAS – A investigação constatou também a ausência da prestação dos serviços e a existência de consultores que recebiam salários sem trabalhar. A remuneração média dos consultores era de R$ 8 mil mensais, mas a OEI recebia do MEC R$ 16,8 mil mensais para cada consultor.

Ou seja, do contrato de R$ 178 milhões, a OEI embolsou mais da metade, quase R$ 100 milhões, limpos e sem impostos.

A suspensão do contrato ocorreu na gestão do ministro Abraham Weintraub. Após ter deixado o cargo, substituído pelo corruptíssimo pastor evangélico Milton Ribeiro, os espanhóis da OEI voltaram à carga e fecharam em 22 de dezembro de 2020, um novo contrato com o MEC, de R$ R$ 10 milhões, em pleno Natal, faltando 9 dias para o final do governo, vejam a audácia dessa gente.

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P.S. 1 – O grande segredo do golpe é a afirmação de que se trata de uma organização internacional dos governos ibero-americanos, que nela estariam representados pelos respectivos ministros da Educação. Na verdade, tudo isso é fachada e conversa fiada. Trata-se apenas de uma ONG altamente especializada em tomar dinheiro de governantes pouco sérios e meio frascários, como se dizia antigamente. Amanhã a gente volta, com outras notícias exclusivas e bastante apimentadas. (C.N.)

Lula vai ‘quebrar indústria’ ao zerar imposto de importação da sardinha

Home - ABIPESCA

Para mostrar serviço, Lula vai destruir o setor da pesca

Eduardo Barretto
Estadão

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, afirmou à Coluna do Estadão que a decisão do governo Lula de zerar a tarifa de importação da sardinha vai “quebrar a indústria nacional” de conserva. A taxa de importação atual do pescado é de 32%, a maior na lista de alimentos com impostos cortados pelo governo na quinta-feira, 6.

Lobo disse que o governo agiu “sem base” e não consultou o setor sobre a mudança. Ressaltou que a inflação do produto foi de menos de 1,5% em 2024, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), e avaliou não haver nenhum motivo que justifique a isenção.

RESULTADO INÓCUO – “O governo radicalizou sem estratégia e o resultado para a população vai ser inócuo. Vai quebrar a indústria nacional de conserva e inundar o mercado de sardinha asiática”, ressaltou. Lobo observou, ainda, que a sardinha é um produto das camadas sociais C e D”, ressaltou.

O faturamento da indústria de conserva nacional se deve em 75% à sardinha. Diferentemente de outras espécies de pescado, a sardinha não costuma ser vendida congelada ou fresca, mas enlatada.

O presidente da entidade calculou que a medida do governo colocará em risco 5 mil empregos no setor nos próximos 90 dias. Também estimou que marcas tradicionais como Coqueiro, Gomes da Costa e Robinson Crusoé podem ser “aniquiladas” do mercado.

É PRECISO REVOGAR – Na quinta-feira, 6, o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou medidas para tentar combater a alta da inflação nos alimentos. Uma delas foi zerar a tarifa de importação para nove alimentos, entre eles a sardinha, cuja taxação atual é de 32%, a maior da lista. O café, a título de comparação, tem um imposto de importação de 9%.

Nos próximos dias, a Abipesca, que representa empresas responsáveis por 90% das exportações de pescados do País, pedirá formalmente ao Ministério da Pesca e ao Ministério da Agricultura e Pecuária que revejam a decisão.

O corte das tarifas ainda precisa do aval da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como se vê, confirma-se a tese da Tribuna da Internet sobre o risco que o país corre toda vez que o presidente Lula é pressionado a resolver algum problema em setor produtivo. Suas decisões são verdadeiramente arrasadoras. Parece uma maldição. (C.N.)

Janja desiste de nova viagem a Nova York para evitar “desgaste político”

Janja discursou como representante do Brasil em mesa temática nas Nações Unidas, em março de 2024

Janja tem atuado ilegalmente como representante do Brasil

Felipe Frazão
Estadão

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, desistiu de viajar a Nova York, nesta semana, para chefiar a delegação brasileira e discursar na Organização das Nações Unidas (ONU), como representante do Brasil.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva organizava a participação da primeira-dama com líder da comitiva a ser enviada pelo País à 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW). Com o cancelamento, a delegação está sendo comandada pela ministra da Mulheres, Cida Gonçalves. Ela decolou neste domingo, dia 9, e disse que o País terá cerca de 150 participantes.

RISCO POLÍTICO – Nos bastidores, a avaliação é que a viagem teria um alto risco político: a presidência de Donald Trump atiçou bolsonaristas nos EUA que poderiam fazer algum tipo de manifestação, a queda de popularidade de Lula e da própria Janja, as frases ditas pela primeira-dama no G20 sobre o bilionário Elon Musk, além do grande desgaste gerado com agendas e despesas em outras viagens feitas por ela e sua equipe informal.

A reportagem questionou a assessoria de imprensa da primeira-dama sobre as razões de sua ausência e se ela ainda avaliava alguma participação na CSW, ainda que remota, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

Em março de 2024, o próprio Lula designou Janja como integrante da delegação. O decreto publicado no Diário Oficial da União destacou a formação dela como socióloga e autorizou oito dias de viagem com despesas custeadas pelo erário. Foi a primeira agenda internacional solo da primeira-dama – sem acompanhar Lula.

OFENSA A MUSK – A viagem seria a primeira aos EUA de alguma figura influente no governo brasileiro, diretamente ligada a Lula, após a posse do presidente Donald Trump, que agitou a oposição bolsonarista radicada no país. O Planalto e a Casa Branca não dialogam em alto nível. Os choques entre Lula e Trump já começaram, com embates sobre liberdade de expressão, tarifas e imigrantes brasileiros deportados.

Em novembro passado, Janja ofendeu com um xingamento – “Fuck You” – um dos principais conselheiros de Trump, o bilionário Elon Musk, durante discurso em evento paralelo do G-20, no Rio. Sem citá-la, Lula desautorizou a manifestação no mesmo dia.

As viagens de Janja têm gerado desgaste ao governo federal, e a popularidade dela caiu, acompanhando a do presidente, em recentes pesquisas de opinião. Ela já foi alvo de questionamentos pela oposição e por organizações como a Transparência Internacional sobre a “informalidade” de sua atuação no governo, embora cumpra agenda de representação assídua.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Janja da Silva precisa se recolher à sua insignificância, especialmente agora que sabemos o que ela fez no verão passado, ao liberar geral o acesso dos picaretas espanhóis da OEI aos cofres do Tesouro Nacional, conforme a Tribuna da Internet publicou nesta segunda-feira, com absoluta exclusividade, contando como a primeira-dama tem dado um “fuck you” no Tesouro Nacional. E amanhã tem mais... (C.N.)

Donald Trump é um oportunista que exibe uma coerente visão do mundo

Um homem sentado em uma mesa no Escritório Oval, com bandeiras dos Estados Unidos ao fundo. Ele tem cabelo loiro e usa um terno escuro com uma gravata amarela. A mesa está decorada com várias fotos em molduras e um objeto decorativo à esquerda.

Trump sabe por que os Estados Unidos estão em declínio

Demétrio Magnoli
Folha

O Japão nos rouba, economicamente, e a Europa aproveita-se de nós fazendo com que paguemos por sua segurança. As duas mensagens apareceram no primeiro anúncio de TV publicado pelo então incorporador imobiliário Donald Trump, nos idos de 1987. A figura que hoje ocupa o Salão Oval é um oportunista de convicções políticas fluidas, mas mantém uma visão de mundo coerente. Dela emana aquilo que deve ser descrito como Doutrina Trump.

A “cidade brilhante no alto da colina” –a expressão, oriunda do sermão laico pronunciado em 1630 por John Winthrop, o puritano fundador de Boston, a bordo do navio Arbella, ressurgiu vezes incontáveis em discursos de presidentes republicanos ou democratas.

VISÃO DE TRUMP – Historicamente, para o bem ou o mal, os EUA exibiram-se a si mesmos e aos estrangeiros como um farol de reforma do mundo. Trump substitui a visão luminosa da cidade profética pela visão sombria de uma fortaleza em declínio, traída e explorada por pérfidos aliados.

“Sejamos sinceros: a União Europeia foi criada com a finalidade de ferrar os EUA. É esse o propósito dela –e fizeram um bom trabalho nisso. Mas, agora, sou o presidente” (Trump, 26/2).

“A ameaça que mais me atormenta não é a Rússia ou a China ou qualquer ator externo. O que me preocupa é a ameaça de dentro: o recuo da Europa de alguns de seus valores mais fundamentais, que são compartilhados com os EUA” (J.D. Vance, 18/2).

DESMANTELAR A UE – Trump e seu vice não enxergam o perigo nas potências autocráticas, rivais de sempre, mas nas sociedades democráticas que alargaram o espaço das liberdades públicas, ampliaram os direitos civis e toleraram a imigração.

Daí, as declarações de apoio de Vance e Musk à AfD alemã, um partido extremista que opera como tentáculo de Putin e flerta com neonazistas. O sonho dourado de Trump é desmantelar a União Europeia e, junto, a aliança transatlântica materializada na Otan.

A ordem edificada no pós-guerra estabeleceu uma economia internacional aberta, que funcionou como moldura para a prosperidade dos EUA. Trump, contudo, a interpreta pelo avesso: o livre comércio seria uma armadilha para nações estrangeiras tirarem proveito do mercado americano.

GUERRA COMERCIAL – “Fomos roubados durante décadas por quase todos os países da Terra e não deixaremos isso acontecer novamente”, proclamou Trump diante do Congresso. Troque o Japão do anúncio de 1987 pela China, o Canadá, o México e a União Europeia – eis a raiz da guerra comercial deflagrada pela Casa Branca.

A ordem do pós-guerra moldou um sistema imperfeito de regras de segurança que evitou uma terceira guerra mundial, alavancou a liderança geopolítica dos EUA e propiciou a cooperação multilateral.

Trump, porém, a interpreta como um esquema destinado a extrair vantagens dos EUA e almeja substituí-la por um sistema de potências dominantes rodeadas por suas esferas de influência.

ACORDOS TRANSNACIONAIS – Sob tal lógica, a paz emanaria de acordos transacionais firmados entre soberanos poderosos: o “triângulo Rússia/China/EUA”, nas palavras do Kremlin.

Putin e Xi Jinping são parceiros potenciais; Zelenski, um estorvo a ser eliminado.

Hastings Ismay, primeiro secretário-geral da Otan, definiu a aliança como meio para conservar os EUA na Europa, os russos fora e os alemães por baixo. A Doutrina Trump tende a deixar os EUA fora, a Rússia dentro e os alemães (da AfD) por cima.

Supremo percebe que encontrou adversários fortes demais nos EUA

Nani Humor: stf

Charge do Nani (nanihumor.com)

Mario Sabino
Metrópoles

Depois de subestimar a movimentação político-jurídica nos Estados Unidos contra as decisões de Alexandre de Moraes de censurar, multar e bloquear redes sociais americanas, o STF se deu conta de que a encrenca não é pequena.

A última má notícia para o Supremo brasileiro veio ontem, mas a imprensa brasileira, com as exceções de praxe, tentou travesti-la de coisa boa.

PARECE, MAS NÃO É… – A juíza americana Mary S. Scriven negou o pedido de liminar do Rumble, suspenso de operar no Brasil, e da TMTG, a empresa de mídia e tecnologia de Donald Trump, que se juntou à rede social na ação, para que ordens de Alexandre de Moraes não sejam cumpridas nos Estados Unidos.

Parece positivo para o ministro brasileiro, mas não é. Na sua apreciação, a juíza enfatizou que negou a liminar por não haver “qualquer evidência de que o governo brasileiro, o governo dos Estados Unidos ou qualquer outra entidade relevante tenha tentado fazer cumprir as ordens emitidas por Moraes” no país.

Mas decidiu que os autores da ação não estão obrigados a seguir as ordens do ministro brasileiro, uma vez que eles não as receberam conforme o estipulado pelos tratados de que os Estados Unidos e o Brasil são signatários.

E A ADVERTÊNCIA – A decisão da juíza termina com um alerta: “Caso uma entidade ou um indivíduo procure fazer cumprir as diretivas ou pronunciamentos nos Estados Unidos, sem que elas estejam em conformidade com as leis e os tratados aplicáveis, este Tribunal estará pronto para exercer a sua jurisdição”.

Na esfera política, o caldo também está engrossando. Altos integrantes do governo americano consideram o ministro brasileiro “autoritário”. Do presidente Donald Trump, cuja empresa de mídia e tecnologia se associou ao Rumble para enfrentar Alexandre de Moraes na Justiça, a Elon Musk, dono do X que se tornou alter-ego de Trump, passando pelo secretário de Estado, Marco Rubio.

Teve ares de recado a saudação do presidente americano a Jair Bolsonaro, na última conferência dos conservadores, em Maryland.

BARRANDO MORAES – Mais: deverá ser votado esta semana, na comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, um projeto de lei que, caso vá a plenário e seja aprovado, pode impedir a entrada de Alexandre de Moraes no país.

O projeto de lei, elaborado por trumpistas na esteira da suspensão do X no Brasil, prevê que deixam de ter direito de entrar e permanecer nos Estados Unidos agentes estrangeiros que tenham afrontado o direito à liberdade de expressão de cidadãos americanos em solo americano, como é o caso dos influenciadores bolsonaristas Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino, banidos das redes por Alexandre de Moraes, acusados de serem golpistas. Bastam os votos dos republicanos, do partido de Donald Trump, para que a lei seja adotada.

ADVERSÁRIOS FORTES – Brigar com empresas dos Estados Unidos nunca foi bom negócio, e o STF encontrou adversários fortes demais por lá.

Se essa briga escalar como promete, é preciso que os ministros reflitam se ela não prejudicará os interesses das empresas nacionais.

Não está descartado que, a pretexto de defender empresas americanas, o governo Trump parta para sanções econômicas contra o Brasil, e ninguém quer saber de perder dinheiro por causa de picuinhas. É preciso ter princípio de realidade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO Supremo vinha seguindo Moraes como se ele fosse o Oráculo de Delfos. Agora, os ministros estão caindo na real de que ele se comporta como uma barata tonta. É decepcionante. (C.N.)

Ministro vai cobrar Ibama para perfurar perto da Foz do Amazonas

SILVEIRA 19.06.2024 MINISTRO  ALEXANDRE SILVEIRA/AUDIÊNCIA PÚBLICA CÂMARA DOS DEPUTADOS POLÍTICA OE   - O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, durante audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados em Brasília, realizada nesta  quarta-feira 19 de Junho de 2024. O ministro Silveira  apresenta aos deputados as ações do MME, e fala das políticas de transição energética. FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO. Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“Petrobras cumpriu as exigências”, diz Alexandre Silveira

Roseann Kennedy
Estadão

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, decidiu agir pessoalmente para cobrar do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) uma decisão rápida a favor da exploração de petróleo na Margem Equatorial.

Ele disse à Coluna do Estadão que irá à sede do órgão, nesta semana, para falar com o presidente Rodrigo Agostinho, e afirmou estar confiante de que o gestor rejeitará o parecer técnico contrário à perfuração do bloco FZA-M-59 no litoral do Amapá, na Bacia da Foz do Amazonas.

O ministro alega que a Petrobras já atendeu aos requisitos solicitados no processo para a concessão da licença ambiental e avaliou que o parecer técnico não tem solidez porque é discricionário. “O laudo não aponta uma ilegalidade, aponta uma convicção”.

O que o Sr. espera da conversa com o presidente do Ibama?
“Estou muito confiante que o presidente Rodrigo Agostinho vai deixar que os brasileiros e brasileiras façam os estudos para conhecer o potencial daquela região. Eu espero que essa decisão não se arraste mais. As condições estão dadas para uma tomada de decisão. Há dois pareceres jurídicos da AGU (Advocacia Geral da União) atestando a legalidade do procedimento, e a Petrobras cumpriu recentemente a exigência de ter um centro de reabilitação de fauna (para tratar animais marinhos em caso de acidentes na Margem Equatorial). Eu acho que essas duas coisas dão muito conforto para ele pra definir”.

Qual a importância do parecer técnico contrário à exploração?
“Quando é apontado no processo uma ilegalidade não tem jeito. É um obstáculo intransponível. Como lá (no laudo) não tem, é óbvio que Agostinho pode entender diferente daqueles pareceristas do Ibama. Se não existe impedimento legal, a decisão tem um grau de discricionariedade do gestor. O parecer não tem solidez porque ele é completamente discricionário. Ele não aponta uma ilegalidade, ele aponta uma convicção. Não há nenhum estudo que aponte um risco lá no Amapá diferente dos riscos da Bacia de Campos. A Bacia de Campos está muito mais próxima do Rio de Janeiro do que a área de estudo do Amapá.

Qual o prazo para decisão?
“Não tem prazo legal, esse é o problema. O que eu fico cobrando sempre é celeridade. Eu só acho que Agostinho deve fazer o mais rápido possível para que a estabilidade dos investimentos da Petrobras não fique à mercê do tempo dele. Desde 2013 (há essa discussão). O que adiantou demorar 11 anos para licenciar a linha de transmissão Manaus Boa Vista? Deixar as térmicas a óleo de Manaus e Boa Vista? E agora nós vamos entregar. E o óleo queimou durante 11 anos, aumentando o custo de energia para o consumidor do Brasil”.

Quais os riscos de se arrastar a decisão?
“Prejuízo para a maior companhia do País e uma péssima sinalização para a economia nacional por causa da estagnação de investimentos estratégicos. E um crime lesa pátria contra o povo do Amapá”.

O presidente Lula tem criticado a “lenga-lenga” do Ibama…
“Todos os órgãos de governo, quando o Brasil está crescendo como está, naturalmente têm uma limitação de gente, uma limitação de resposta. Mas é muito necessário que a gente tenha celeridade nos licenciamentos. A Margem Equatorial é uma grande fonte do desenvolvimento do Norte e Nordeste do País. Você tem várias licenças ambientais em obras de geração de energia que precisam ser aceleradas. Então, isso é uma realidade que a gente lida no dia a dia.”

Não haverá constrangimento na COP30?
“O Brasil tem que se orgulhar de sua matriz energética. 90% de energia limpa e renovável, o maior pulmão do planeta está na nossa floresta amazônica. O Brasil não tem que se envergonhar de ter também na sua matriz uma fonte de recursos que o mundo demanda por ela, que é o petróleo. Nós não estamos falando de uma vontade de vender. Nós estamos falando de uma necessidade do mundo de comprar. Se não comprar da gente, vai comprar do Oriente Médio. Aí vai enriquecer, aumentar o PIB dos países do Oriente Médio, e vai empobrecer o povo brasileiro”.

E o isolamento da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente?
“Marina nunca deu a voz que era a favor ou contra. Nas reuniões nossas várias reuniões com o Rui Costa (ministro da Casa Civil), ela sempre falou ‘isso é de competência do Ibama’. Ela é muito correta com o Davi Alcolumbre (presidente do Senado). Então, independentemente das convicções pessoais, ela tem sido muito coerente em dizer que essa decisão era de exclusiva responsabilidade do gestor do Ibama.

Homens fortes na política não eram gênios em estratégia, diz analista

Strongmen Audiobook | Free with trial

Mussolini foi um dos líderes focalizados pela escritora

Hélio Schwartsman
Folha

“Apesar de ouvirmos com frequência que homens-fortes são gênios da estratégia, poucos deles, ou talvez até mesmo nenhum, seguem um plano diretor. Seus verdadeiros talentos não são os do mestre de xadrez, mas os dos valentões de rua e vigaristas: rapidez para extrair o máximo das oportunidades que lhes são oferecidas, habilidade para fazer com que as pessoas se liguem a eles e acreditem em suas ficções, e a disposição para fazer qualquer coisa para obter a autoridade absoluta pela qual anseiam. A maioria deles termina com muito mais poder do que jamais imaginou”.

O diagnóstico acima é da historiadora americana Ruth Ben-Ghiat (Universidade de Nova York). Ele parece nas páginas finais de “Strongmen” (homens-fortes). O livro pode ser descrito como uma tentativa de entender ditadores e líderes populistas de direita, analisando as características que os unem e, dentro delas, como diferem um do outro. Essas diferenças, é bom frisar, podem ser grandes.

PERSONAGENS – Ben-Ghiat escrutina as trajetórias de Mussolini, Hitler, Franco, Gaddafi, Pinochet, Mobuto Sese Seko, Berlusconi, Erdogan, Putin e Trump. Outros líderes de mesmo jaez, como Bolsonaro, Duterte, Modi e Orbán, fazem aparições mais breves, como coadjuvantes.

A autora mostra como eles ascenderam ao poder, como se utilizaram de nacionalismo, propaganda, virilidade (incluindo catálogos de seus apetites sexuais), corrupção e violência —as ferramentas para exercê-lo— e como eventualmente caíram. Autocracias e ditaduras são sempre mais instáveis do que democracias.

O livro é de 2020. Isso significa que cheguei a ele com um quinquênio de atraso. A demora acabou criando um efeito interessante. Os traços autoritários que ela aponta em Donald Trump são ainda os do primeiro mandato e anteriores à invasão do Capitólio. Se já tínhamos motivos para nos preocupar, temos agora muito mais razões para angústia, pois o que vimos nestas primeiras semanas de segundo mandato são as piores características elevadas ao cubo.

Amar a morte como quem ama a vida, recomendava Mário de Andrade

Retrato de Mário de Andrade, por Lasar Segall

Paulo Peres
Poemas & Canções

O romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte, fotógrafo e poeta paulista Mário Raul de Moraes Andrade (1893-1945) confessa, no poema “Quarenta Anos”, que pretende amar a morte com o semelhante engano que amou a vida.

QUARENTA ANOS
Mário de Andrade

A vida é para mim, está se vendo, 
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar… Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado… Horrendo

Seria agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!…Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

Delfim Netto, eventual conselheiro de Lula, morreu em agosto e faz falta

Lula seguia os conselhos de Delfim e não tem mais guru

Elio Gaspari
O Globo

Diante da carestia dos alimentos, Delfim poderia mostrar a Lula como é possível fabricar quedas artificiais ou momentâneas de preços. Poderia, sobretudo, mostrar que algumas medidas servem para nada.

Confrontados com a carestia, presidentes e hierarcas passam por duas fases. Na primeira, culpam o povo que compra gêneros caros (Lula já queimou essa etapa). Na segunda, acreditam em medidas pontuais (Lula entrou nesse estágio).

SOLUÇÕES MÁGICAS – Delfim alertaria o presidente contra os colaboradores que oferecem soluções mágicas. Nesse ramo, ele superou o grande Houdini, mas não acreditava nos próprios truques. Ele conhecia as limitações do poder de Brasília e por isso tornou-se um valioso conselheiro longe dela.

Na quinta-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin reuniu hierarcas para anunciar medidas de combate à carestia. Repetiu-se o cenário do anúncio do pacote de contenção de gastos, anunciado por Haddad. Estava todo mundo lá, menos Lula. Como disse um sábio à época, se fosse para dar certo, Lula faria o anúncio.

Lula não dispõe mais dos conselhos de Delfim e está diante de um processo de fritura de Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda. Trata-se de uma fritura especial. Há quem traga o óleo e também a frigideira, mas falta o sujeito que controla o fogão e ele é o presidente da República.

EXEMPLO DE PALOCCI – Lula não fritou Antonio Palocci no seu primeiro mandato, apesar dos sinais emitidos por Dilma Rousseff, chefe de sua Casa Civil (hoje, quem está na cadeira é Rui Costa, com sua malquerença em relação a Haddad).

Como ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, Delfim mandou na economia até 1985. Deixou o governo com a inflação em 224% enquanto cantava-se “o povo está a fim da cabeça do Delfim” (ele tinha na sua sala um Delfim sem cabeça emoldurado).

Depois que ele foi embora, fritaram-se nove ministros da Fazenda, até que Itamar Franco colocou Fernando Henrique Cardoso na cadeira. Ambos sabiam o que fazer, a inflação foi derrubada e o Brasil voltou a ter uma moeda, o real. Fritar ministros era fácil. Difícil era decidir o que fazer.

Graças ao Banco Central, a inflação está contida, mas a carestia está solta e o governo, sem saber o que fazer, mostra que sabe organizar eventos. No de quinta-feira, o som das perguntas falhava.

Redução de imposto para alimentos ainda não chegou às mesas dos brasileiros

Preços são também afetados pela especulação que se reflete no consumo

Pedro do Coutto

Os cortes dos tributos anunciados pelo governo ainda não chegaram às mesas dos brasileiros. É importante acentuar que medidas que ficam no papel não têm nada a ver com os preços da realidade. O café, a carne, o açúcar, o feijão, o arroz formam uma dieta praticamente obrigatória das pessoas que trabalham e que têm que se alimentar diariamente. Inclusive, a alimentação é um item insubstituível na disposição de todos nós.

A proposta da União, divulgada no início do mês, pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, incide sobre nove alimentos que compõem boa parte da cesta básica do brasileiro.

INSENÇÃO – O problema é que a maioria dos produtos anunciados com imposto zerado são provenientes de países vizinhos do Mercado Comum do Sul (Mercosul) — formado por Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina —, já beneficiados com a isenção na tributação.

Surpreende colocar a carne, um item de aquisição, no mercado externo, quando o Brasil é um grande exportador para os cenários internacionais. O mesmo se dá com o café. A confusão se estabelece entre a importação e a exportação, entre o consumo interno e externo.

SEM SENTIDO – Não se pode ficar pensando no que deve vir a acontecer nos mercados internacionais. O Brasil é um dos maiores do mundo em matéria de alimentos. Não faz sentido que ele se transforme de exportador em importador. É uma pergunta que fica no ar e para qual não se encontra resposta lógica,

Os preços são também afetados pela especulação que se reflete no dia a dia de todos e no consumo. O problema é que os gestos não acompanham as palavras. Na hora H do consumo é que são elas.

Vejamos mais uma etapa de quando os preços efetivamente baixarão. É uma luta complexa entre os preços do mercado, pois há a oferta e a procura, mas por cima de tudo existem os interesses particulares. Quando se busca lucro, o esquema se torna fatal. Pode ficar na lembrança tudo o que tem ocorrido até agora. É difícil enfrentar uma equação tão complexa que movimenta o mercado.

Bolsonaro tem de escolher um candidato substituto que não o traia

Bolsonaro chora após ser impedido de ir à posse de Trump

Bolsonaro sabe que não terá chances no julgamento do STF

Diogo Schelp
Estadão

Jair Bolsonaro disse que só morto indica outro candidato para disputar a Presidência em 2026. Ele já errou outras vezes em previsões em que atrelou sua morte ao seu futuro político. Em 2021, em um dos muitos momentos em que flertou com a recusa em deixar o cargo, disse que só encerraria o mandato preso, morto ou com vitória.

Não foi preso, não morreu e tampouco foi vitorioso. Optou pelo aeroporto às vésperas da posse de Lula, depois de meses conspirando nos bastidores para precipitar algum tipo de ruptura institucional.

NA PORTA DA PRISÃO – Em 2026, só será diferente em um ponto: é provável que até lá Bolsonaro esteja, de fato, preso. Na melhor das hipóteses, para ele, continuará eleitoralmente morto como está agora, ou seja, inelegível.

Ninguém duvida que acabará indicando um candidato para concorrer à Presidência em seu lugar. A questão é quando fazê-lo. Agora ou na última hora?

Um dos problemas de Bolsonaro é sua incompetência para tomar a melhor decisão no momento certo quando as variáveis são muito complexas. A sua gestão desastrosa da pandemia é a prova disso.

PROBLEMA COMPLEXO – Saber o momento certo de parar de insistir no próprio nome como candidato da direita populista é complexo porque nenhuma das opções é muito boa para Bolsonaro.

Se jogar a tolha agora, ele perde a aura de único líder legítimo do seu nicho eleitoral e, com ela, a possibilidade de elevar o custo político de uma eventual condenação por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes que estão sendo analisados pelo STF. Um líder populista nunca pode deixar de alimentar a ideia de que é insubstituível.

Se, por outro lado, Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas. O primeiro é que haverá menos tempo para trabalhar o nome de sua preferência junto ao eleitorado. O segundo é que isso estimula a fragmentação da direita em diversos pré-candidatos, alguns dos quais já estão querendo demonstrar que não precisam da bênção do ex-presidente.

MENORES CHANCES – Nos dois casos, o efeito é diminuir as chances de vitória de um candidato endossado por Bolsonaro. A popularidade do atual governo está derretendo, mas Lula ainda é a opção mais viável para a esquerda em 2026. E ainda não surgiu um nome moderado forte o suficiente para livrar o País dos extremos políticos.

Há um terceiro cálculo a ser feito, caso Bolsonaro reconheça, pelo menos para si mesmo, que não irá recuperar sua elegibilidade e que há uma grande chance de que venha a ser preso.

A sua melhor opção, nesse cenário, é que o candidato vitorioso na eleição de 2026 seja alguém que aceite lhe conceder a graça presidencial assim que tomar posse, ou seja, que decrete a extinção de eventuais punições que tenham sido impostas a ele.

CUMPRIR PENA – Mas isso significaria admitir a hipótese de passar pelo menos alguns meses na cadeia e exigiria uma confiança muito grande no sucessor escolhido.

Alguém minimamente racional ficaria tentado a pensar que pode ser melhor deixar o mentor na cadeia do que solto, exigindo cargo no governo, fazendo articulações políticas e tomando decisões pelas costas do pupilo. Rei morto, rei posto. Uma alternativa familiar (a esposa Michelle ou o filho Eduardo, por exemplo) parece mais segura, mas um ou uma Bolsonaro do B teria menos chances contra Lula – e daí Bolsonaro continuaria preso.

Além de afirmar que só morto nomearia um candidato alternativo, Bolsonaro também diz que, se existisse um “motivo justo” para ele estar inelegível, “arrumaria uma maneira de fugir”. Entre a cadeia e o perdão, o aeroporto (após um pedido de asilo em alguma embaixada) parece uma opção cada vez mais factível para o ex-presidente.

Contratos de corrupção fechados com a OEI têm as digitais de Janja

Jabonero ficou íntimo da sua “coordenadora” no Brasil

Carlos Newton

Desde a libertação de Lula da Silva em 2019, quando apresentou publicamente a namorada Rosângela da Silva, a Janja, os operadores do esquema de corrupção da ONG Organização dos Países Ibero-Americanos se interessaram em se aproximar dela, para facilitar o fechamento de contratos lesivos com o governo federal.

Não foi difícil estabelecer esse relacionamento, ainda em 2022, durante a chamada transição, porque os espanhóis da OEI recorreram ao influente petista Leonardo Barchini, servidor de carreira do Ministério da Educação, que eles conheciam desde contrato anterior com o MEC, celebrado no governo Michel Temer.

SOB NOVA DIREÇÃO – Na transição, Barchini foi confirmado como secretário-executivo adjunto do MEC, o número 3 na hierarquia do ministério, mas nem chegou a esquentar a cadeira, como se dizia antigamente. Em janeiro de 2023, poucos dias após tomar posse, ele pediu licença ao MEC para assumir como diretor da ONG Organização dos Países Ibero-Americanos.

Com a maior facilidade, o novo diretor petista da OEI trabalhou para se aproximar simultaneamente da primeira-dama Janja Lula da Silva e da ministra da Cultura, Margareth Menezes, que são amigas. Daí para a frente, tudo ficou mais fácil.

Em abril de 2023, ainda no início da gestão do marido, a primeira-dama aceitou em Madri um convite da OEI e se tornou “coordenadora” da ONG no Brasil, conforme ela mesma anunciou nas redes sociais.

APOIO DE JANJA – O secretário-geral da ONG, Mariano Jabonero, praticamente abandonou Madri e passou a viver em Brasília, onde era solenemente recebido pelas autoridades da República, devido ao apoio ostensivo de Janja da Silva.

Ao mesmo tempo, Leonardo Barchini ia espalhando propostas pelos ministérios e órgãos federais, para a assinatura de milionários contratos de “contribuições voluntárias”, sem licitação ou fiscalização, que a OEI assinava, a pretexto de haver “cooperação entre as partes visando a preparação, organização e realização”, de eventos culturais, científicos, administrativos etc.

Em tradução simultânea, a ONU ganha milhões, milhões e mais milhões se oferecendo para ajudar o governo a fazer justamente aquilo que é obrigação estrita dele.

RECONSTRUINDO O BRASIL – Na sua ingenuidade grotesca, sempre se intrometendo em assuntos de governo e influindo diretamente neles, a primeira-dama Janja Lula da Silva adorava (e adora) divulgar suas supostas realizações.

Assim, em 1º de novembro de 2023, recebeu no Planalto o diretor do OEI Leonardo Barchini, para conversar sobre o planejamento da Rede de Inclusão e Combate à Desigualdade no país.

“Debatemos ideias para trabalhar transversalmente as questões de gênero e conexões com as iniciativas que já venho desenvolvendo”, disse a primeira-dama em seu perfil no X (ex-Twitter). E completou: “Assim como este, os próximos anos serão de muito trabalho pela reconstrução do Brasil”.

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P.S.
Reconstrução ou destruição do Brasil? Como já está mais do que provado, Janja da Silva não sabe ser primeira-dama e leva o governo a cometer erros gravíssimos. Quando começou a namorar com ela na prisão de Curitiba, sob os auspícios do compreensivo carcereiro da Polícia Federal, certamente Lula da Silva jamais poderia imaginar os problemas que sua nova companheira causaria a ele e ao país. Para os interesses da nação, teria sido melhor se Lula continuasse com a segunda-dama Rosemary Noronha, que também gostava de viajar ao exterior, porém era mais discreta e dava menos prejuízos ao Brasil com o cartão corporativo. (C.N.)

Washington Post teria se tornado o jornal oficial de Donald Trump?

Fake editions of The Washington Post handed out at multiple locations in D.C.

Jeff Bezos, dono do jornal, abandona a imparcialidade

Juliano Spyer
Folha

A noção de que “um bom jornal é uma nação conversando consigo mesma” deixou de ser verdade para The Washington Post. Desde a semana passada, a publicação aceita apenas artigos opinativos que defendam as liberdades individuais e econômicas. Teria se tornado, como dizem os críticos, o veículo de notícias oficial do trumpismo?

“A sociedade não precisa de jornais, o que precisamos é de jornalismo”, escreveu em 2008 Clay Shirky, professor e pesquisador da Universidade de Nova York. Para ele, o desafio era deixar de pensar em salvar jornais como modelo de negócio para, em vez disso, salvar a sociedade. Isso traria a motivação para reimaginar o jornalismo a partir de outros modelos.

CONTESTAÇÃO – O jornalista e pesquisador russo Andrey Mir, ligado à Universidade de York, no Canadá, aprofunda essa análise. Em seu livro mais famoso, “Post-Journalism and the Death of Newspapers” (Pós-Jornalismo e a Morte dos Jornais), ele argumenta que o trumpismo evoluiu a partir do mesmo contexto que produziu movimentos de contestação como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street.

Mir sustenta que não há uma intenção maliciosa ou uma conspiração por trás da polarização política. O modelo de negócio de veículos tradicionais como o Washington Post dependia da fabricação de consensos para agregar leitores com visões de mundo diferentes.

Mais leitores significavam mais receita publicitária. Mas a horizontalização do acesso à mídia tornou esse modelo obsoleto.

ESTÃO DISPONÍVEIS – Por que pagar por notícias se elas não estão mais limitadas à materialidade do papel, do rádio ou da TV e podem ser copiadas, coladas e redistribuídas infinitamente online? E como competir pela atenção do público com youtubers que entregam seu conteúdo gratuitamente nas redes sociais?

Jeff Bezos, bilionário dono do Washington Post, justifica a mudança na política editorial do jornal com base nessa mesma lógica da abundância de conteúdo. Em nota publicada no X, ele afirmou que, no passado, os jornais ofereciam aos leitores “uma seção de opiniões de base ampla que buscava cobrir todas as visões. Hoje, a internet faz esse trabalho”.

A teorização de Mir explica a trajetória recente dos jornais — não apenas do Washington Post — de substituir a fabricação de consensos pela escolha de um dos lados do debate político polarizado. Em um cenário em que todos têm acesso à mídia, é o dissenso, e não mais o consenso, que impulsiona a mensagem.

VAQUINHAS ONLINE – Essa mudança, segundo Mir, força o jornalismo a se transformar em “propaganda financiada por vaquinhas online”. O apelo para financiar o serviço passa a ser “defender a democracia” ou “combater o comunismo”.

“Os membros pagantes não pagam para receber as notícias (eles já as conhecem)”, escreve Mir. “Eles pagam para que as notícias sejam distribuídas para outros.”

A polarização não é um efeito colateral, mas uma condição para o sucesso desses negócios. Pessoas mais ansiosas tendem a apoiar mais seu veículo preferido. A perspectiva que Mir apresenta sugere que publicações como o New York Times, que criticaram a decisão de Bezos, estão mais próximas do Washington Post do que admitem.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEsse “alinhamento” do jornal a uma determinada corrente de opinião representa a morte do jornalismo e um gravíssimo retrocesso social. Significa abandonar a busca do que é certo e conveniente. A humanidade não merece isso, sinceramente.  (C.N.)

A participação do governo Lula no PIB parece um gol feito com a mão…

PIB é tema das charges desta sexta-feira; confira - Fonte 83

Charge do Quinho (Charge Online)

Mario Sabino
Metrópoles

O PIB do Brasil cresceu 3,4%, o melhor resultado desde o 2021 da imediata pós-pandemia, quando a alta foi de 4,8%, divulgou o IBGE, aquele instituto em vertigem desde que o diligente petista Marcio Pochman assumiu a presidência.

Viva, salve, ainda estamos aqui etc. Mas cresceu e desacelerou no quarto trimestre, com a queda no consumo das famílias, apontando para um 2025 mais difícil. Essa é a versão bem-comportada do noticiário econômico.

REPELENTE DE LEITOR – Parêntese. No jornalismo, sinal de porcentagem funciona como repelente de leitor, mas não há o que fazer: de vez em quando, nós nos vemos obrigados a abordar assuntos matemáticos. Fecha parêntese. Persista, por favor.

Depois da leitura da notícia, fui espiar a imprensa americana — e eis que há uma notícia sobre Produto Interno Bruto por lá. Donald Trump quer mudar a forma de calcular o PIB e o crescimento econômico.

O secretário de Comércio do governo americano, Howard Lutnick, disse à Fox News que, “historicamente, os governos têm brincado com o PIB. Eles contam as despesas governamentais como parte do PIB. Vamos então, separar as duas partes (o que é governo e o que é mercado) e tornar isso transparente”.

FALSO CRESCIMENTO – “Se o governo compra um tanque, isso é PIB”, afirmou Lutnick. “Mas pagar mil pessoas para pensar em comprar um tanque não é PIB. Isso é ineficiência, dinheiro desperdiçado.”

A transparência não é o maior interesse de Donald Trump. Com as demissões de dezenas de milhares de funcionários e demais cortes nos gastos do governo que ele está promovendo por meio do Departamento de Elon Musk, o crescimento do PIB dos Estados Unidos pode sofrer desaceleração.

Donald Trump quer, assim, atenuar o eventual efeito negativo da comparação com o PIB sob Joe Biden, mostrando que o crescimento da economia do país na administração do antecessor se deveu, em boa parte, ao empurrão proporcionado pela expansão das despesas governamentais.

CONFIRA A REALIDADE – Feita a observação, volte-se aos números. Nos Estados Unidos, em 2023, a participação dos gastos do governo no PIB foi de 36%, segundo o Fundo Monetário Internacional; no Brasil, foi de 45%, e essa porcentagem deve estar agora em 47%, por aí, por causa da aposta no Bolsa Família, do aumento das despesas assistenciais e previdenciárias e do salário mínimo acima da inflação.

Aonde quero chegar? Já cheguei: na versão mal-comportada do noticiário econômico, a participação do governo Lula no PIB parece gol de mão, e nossa economia não é handebol.

Dúvida cruel! Onde há mais democracia hoje: nos EUA ou no Brasil?

Presidente norte-americano Donald Trump em sessão no Congresso dos Estados Unidos

Trump não ameaça em nada a democracia americana

J.R. Guzzo
Estadão

É curioso, na excitação nervosa que ferve nas classes civilizadas quando mencionam os nomes “Donald” e “Trump” na mesma frase, observar a condição indispensável que exigem para começar qualquer conversa a respeito: é proibido pensar. Você aceita, logo de cara, que Trump é a maior calamidade que o gênero humano já conheceu?

 Então podemos começar o debate. Você acha mais correto examinar primeiro os fatos, e fazer um raciocínio lógico sobre as ações concretas do novo presidente americano até agora, e só depois dar o seu julgamento? Aí não tem debate.

NA IGREJA ANTIGA – É como na Igreja de outras eras. Ou o sujeito é católico, acredita nos santíssimos sacramentos e obedece ao que diz o padre, ou não. Se proceder de acordo com essas condições contratuais, pode aspirar à salvação. Tem sido assim com Trump. É proibido fazer perguntas objetivas no assunto, como era proibido perguntar sobre o funcionamento objetivo da Santíssima Trindade. É questão de fé e de doutrina; não mexa com essas coisas.

Se fosse possível lidar com a “questão Trump” de maneira racional, seria interessante, por exemplo, começar perguntando o seguinte: como, e por que, um país que tem Alexandre de Moraes pode estar preocupado com as ameaças que, segundo o pensamento oficial, Trump estaria trazendo à democracia nos Estados Unidos e no mundo?

O governo, a esquerda e nossas classes culturais se dizem apavoradas com Trump. Tudo bem, mas onde há mais democracia nesse preciso momento – nos Estados Unidos ou no Brasil?

ATOS DE TRUMP – O presidente americano tem falado sobre aumento nas taxas de importação – mais falado do que feito, aliás. É intolerável, dizem nossos pensadores. Mas não é permitido perguntar como seria, em cima de fatos e números da vida real, essa anunciada destruição da economia global.

Trump quer cortar 20% dos gastos do governo com a eliminação de despesas inúteis e fraudulentas. E se o Brasil fizesse a mesma coisa? Seria bom ou ruim?

Mais: alguém acredita que os desperdícios e ladroagens do governo brasileiro sejam de apenas 20% do orçamento público? E os imigrantes ilegais – por acaso o Brasil aceita imigração ilegal?

SINUCA DE BICO – Na questão da Ucrânia, uma das que mais enfureceu os comunicadores do time civilizado até agora, formou-se uma sinuca de bico. O presidente da Ucrânia é descrito com um herói por defender os interesses da Ucrânia.

Por que o presidente americano não pode defender os interesses americanos? Ele acha que a população do seu país não vai ganhar nada se continuar jogando centenas de bilhões de dólares numa guerra que não pode ser vencida.

O Brasil aceitaria isso? Não. Mas pensar, em relação a Trump, não é uma opção.

Ao atacar o agronegócio, Lula consegue desautorizar Haddad, Alckmin e Fávaro

Lula em discurso em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Campo do Meio (MG)

A cada discurso, Lula prejudica o governo e seus ministros

Eliane Cantanhêde
Estadão

Ao ameaçar o agronegócio com “medidas drásticas”, caso os preços dos alimentos não caiam, o presidente Lula não apenas deu uma de Donald Trump como desautorizou o seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que se esfalfaram para dar garantias para a sociedade, produtores, distribuidores, atacadistas e redes de supermercados de que não haveria “soluções heterodoxas”. Todo o esforço foi jogado no lixo.

Neste momento tenso no Brasil e no mundo, Lula subiu no palanque justamente num evento do MST e no dia do anúncio de um PIB animador para, mais uma vez, matar a boa repercussão do PIB e conquistar manchetes amargas por toda parte, reforçando a percepção de que insiste em repetir os erros de Dilma Rousseff e descambar perigosamente para uma esquerda sem rumo.

MÉDIDAS DRÁSTICAS – Acenar com “medidas drásticas” é desmentir Alckmin e Fávaro, que vinham negando categoricamente taxação, que remete ao desastre do Pix e às loucuras de Trump; controle de preços, que traz de volta o fantasma dos “fiscais de Sarney”; e cotas de importação, que os produtores não querem nem ouvir falar. E onde fica Fernando Haddad, que tem muito a ver com o comemorado crescimento de 3,4% em 2024?

Lula tem razão ao reclamar dos preços de café, ovo, milho…, como qualquer um faz, mas dizer que “não quer brigar com ninguém” é coisa de quem está exatamente buscando briga. E logo com quem?

Ora, com o agronegócio, que historicamente já tem um pé atrás com ele e o PT, sofreu bastante com seca, cheias, fatores externos e disparada do dólar em 2024 e, depois de ser a “pièce de résistance” nas duas recessões de Dilma e na pandemia, recuou 3,2% no PIB de 2024. Desta vez, o bom desempenho da economia foi graças à indústria e a serviços.

ARMAS LIMITADAS – É verdade que o governo tem instrumentos limitados para conter a inflação da mesa do brasileiro, mas zerar o imposto de importação de café, carnes e açúcar, por exemplo, não deve mudar nada, só atrai dúvidas de especialistas quanto à eficácia e mais animosidade entre produtores, preocupados com a competição.

O Brasil é grande exportador e o impacto de corte de impostos em importações modestas tende a ser pequeno, mas serve para alimentar as críticas do agro.

E, assim como no debate sobre o pacote da segurança de Ricardo Lewandowski, os governadores de oposição também jogaram na fogueira da polarização a proposta de Alckmin de zerar o ICMS (imposto estadual) de alimentos. O que está na mesa não é a comida do povo e nem mesmo as alegadas dificuldades econômicas dos Estados, é principalmente a disputa eleitoral e as ambições de 2026.

BATER DE FRENTE – Para reforçar a imagem de esquerda, Lula não se satisfaz em potencializar as recentes medidas populares, como a própria proposta para alimentos, impedir o aumento de 6% na conta de luz no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, liberar o FGTS de quem tinha optado pelo saque-aniversário e a isenção do IR para renda até R$ 5 mil. Ele precisa também bater de frente com o agro, o mercado, a “turma de cima”. O que lucra com isso?

Nesta segunda-feira, Gleisi Hoffmann volta ao Planalto, agora na Articulação Política, e Alexandre Padilha, ao Ministério da Saúde. Ela foi chefe da Casa Civil e ele ocupou o mesmo cargo no governo Dilma, de onde conduziu o “Mais Médicos”, que a categoria rejeitou e retaliou depois ao apoiar maciçamente Jair Bolsonaro em 2022 – depois de todas as suas manifestações e decisões macabras na pandemia.

Lula despachou Dilma para o banco dos Brics para mantê-la bem longe, mas Dilma nunca esteve tão próxima.

Comparado com novos 007s, Connery se veria como um Bond “shakespeariano”

Um dia para ver o James Bond de Sean Connery - Blog de Hollywood

Sean Connery tentou fugir do personagem, mas não conseguiu

Ruy Castro
Folha

Um romance policial de 1967, “A Dandy in Aspic”, de Derek Marlowe, conta a história de um espião inglês encarregado de matar um colega de serviço secreto suspeito de estar a soldo do inimigo. Até aí, é uma trama comum da ficção de espionagem. O problema é que o agente de que se suspeita é ele próprio, disfarçado, fazendo-se passar por um operador a serviço de uma potência estrangeira. E tão bem que nem seus superiores sabiam. É como se Sean Connery tivesse de matar James Bond.

Pois não é que, na vida real, isso aconteceu? Connery, revelado como Bond em “O Satânico Dr. No” (1962) e consagrado nos filmes seguintes (“Moscou Contra 007”, 1963; “007 contra Goldinger”, 1964; e “007 Contra a Chantagem Atômica”, 1965), não queria tornar-se sinônimo do personagem. Em sua cabeça, ele é que consagrara Bond, não o contrário. O problema é que não era ninguém antes de “Dr. No” e só foi escolhido porque a mulher de Harry Saltzman, coprodutor da série, admirou-o sem camisa num filme e cabalou por ele com o marido. Saltzman aceitou: Sean era barato, e ninguém sabia que James Bond seria uma mina de ouro.

TENTOU FUGIR – Connery tentou fugir de Bond, mas em vão. Teve de voltar a ele em “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes” (1967),  e”007 Os Diamantes São Eternos” (1971), porque seus filmes fora da série, alguns bons, não tinham a bilheteria dos 007s.

Uma biografia, “The Measure of a Man”, de Christopher Bray, revela um Connery não tão admirável: inseguro, invejoso (não suportava que Clint Eastwood cobrasse mais do que ele para trabalhar) e violento (agrediu sua primeira mulher, Diane Cilento, respeitada atriz shakespeariana).

Connery, que morreu em 2020 aos 90 anos, nunca foi superado como Bond, mas também não o superou. Porém tudo isso promete mudar porque, com a venda de seus direitos para a Amazon, 007, já há muito corrompido pelos efeitos especiais, agora é que não será mais o mesmo.

Comparado com os 007s que vêm por aí, Sean Connery se veria como um James Bond quase shakespeariano.

Conclave do Vaticano é o próximo grande objetivo político de Trump

Quem é J.D. Vance, novo vice-presidente dos EUA

Trump e Vance querem incluir também na política da Igreja

Jamil Chade
do UOL

Permeado por católicos ultraconservadores e tradicionalistas, o governo de Donald Trump colocou o conclave como seu próximo grande objetivo político. Com a participação da diplomacia americana, de deputados da base mais conservadora e uma rede de entidades religiosos, a Casa Branca tenta influenciar a direção que pode tomar a escolha do novo papa, caso Francisco tenha de renunciar ou não sobreviva a seus problemas de saúde.

Fontes em Washington confirmaram ao UOL que os trabalhos já começaram. Ainda em dezembro, Trump anunciou a escolha de Brian Burch como o embaixador dos EUA na Santa Sé. No Vaticano, o gesto foi considerado como uma declaração de guerra contra o papa Francisco e sua linha de atuação.

ACUSAÇÕES AO PAPA – Nos últimos anos, Burch acusou o papa de populismo, e de “criar confusão” ao permitir que padres abençoem casais do mesmo sexo e de flexibilizar na doutrina. Ele ainda tem sido um crítico da decisão de Francisco de destituir líderes católicos conservadores de seus cargos, entre eles o arcebispo Carlo Maria Vigano, excomungado.

Um sentimento de indignação ainda tomou conta dos mais radicais quando o papa afastou o bispo Joseph Strickland de sua diocese no Texas ou quando houve a retirada de benefícios do cardeal Raymond Burke.

Mas é nos bastidores que sua atuação é mais esperada neste momento. O cálculo do governo americano é de que, mesmo que o pontífice não morra no curto prazo, os próximos quatro anos serão decisivos para influenciar a escolha do novo papa. Trump terminará seu mandato com um papa que, se vivo, terá 92 anos.

DIVULGAR NOMES – Preparar o conclave, portanto, se transformou em um objetivo político da Casa Branca. Ainda que o voto seja exclusividade de cardeais e que muitos deles tenham sido nomeados por Francisco, a percepção é de que se pode criar um “clima” de pressão e, desde já, articular nomes que poderiam se apresentar como alternativas a uma continuação da gestão de Francisco.

Do lado político, reconquistar o Vaticano seria estratégico para permitir que a agenda ultraconservadora americana ganhe a benção e a chancela diplomática da Santa Sé para ser difundida pelo mundo.

Ao anunciar seu embaixador em Roma, Trump escancarou a relação entre a política, a fé e sua escolha. “Brian é um católico devoto, pai de nove filhos e presidente da CatholicVote. Ele recebeu inúmeros prêmios e demonstrou uma liderança excepcional, ajudando a construir um dos maiores grupos católicos de defesa de direitos do país”, anunciou o republicano.

OPTARAM POR TRUMP – O presidente lembrou que Burch “me representou bem durante a última eleição, tendo obtido mais votos católicos do que qualquer outro candidato presidencial na história”. Os dados de fato confirmaram que os católicos optaram por Trump por uma margem de 20 pontos e foram decisivos nos estados decisivos no Cinturão da Ferrugem e no Sudoeste.

Burch sinalizou que sua missão no Vaticano iria muito além de representar Trump e, em sua declaração pública, omitiu qualquer referência ao papa. “Estou comprometido em trabalhar com líderes dentro do Vaticano e com a nova administração para promover a dignidade de todas as pessoas e o bem comum”, disse.

Nos bastidores, sua entidade CatholicVote tem sido fundamental para solidificar a aliança entre as alas mais conservadoras dos EUA e os republicanos. Desde 2009, o grupo fez doações de US$ 2 milhões para as campanhas de mais de 40 deputados do partido de Trump.

COM BANNON – Ele se aliou, em 2018, a Steve Bannon para rastrear dados de localização de celulares para enviar mensagens a pessoas que estavam nas igrejas para que fossem votar. A CatholicVote também foi usada para mobilizar o voto católico em 2024.

Nos corredores do Congresso e nos governos estaduais, a entidade é uma organização de lobby que luta contra o direito ao aborto, contra o movimento LGBT e apoia o fechamento de fronteiras.

Sua entidade ainda abriu processos judiciais contra bispos, contra o governo de Joe Biden e até contra aliados do papa. Em 2023, a CatholicVote arrecadou cerca de US$ 500 mil para tentar alterar a Constituição do Kansas para que o direito ao aborto fosse removido. O processo fracassou.

UMA DAS PEÇAS – Fontes em Washington explicaram ao UOL que Burch é apenas uma das peças da engrenagem, ainda que crítica. Dentro do governo, os católicos mais tradicionais contam com representantes de peso, entre eles Tom Homam, o “czar das fronteiras”, Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, e JD Vance, o vice-presidente.

Também são católicos Linda McMahon, secretária de Educação, Elise Stefanik, embaixadora para a ONU e que afirmou que Israel tem “direito bíblico” sobre as terras palestinas. A lista ainda inclui Marco Rubio (Departamento de Estado), Sean Duffy (Transporte), o diretor da CIA, John Ratcliffe, e Robert F. Kennedy Jr., na Saúde.

Ao mesmo tempo, a Casa Branca cortou o financiamento de entidades ligadas ao papa Francisco, como a Catholic Relief Service.

O PAPA REAGE – Vaticano respondeu, mudando de última hora a escolha do arcebispo de Washington DC e colocando o cardeal Roberto McElroy no cargo. O religioso tem sido um dos principais críticos da política de Trump. Se não bastasse, Francisco enviou uma carta aos bispos americanos, atacando medidas de deportação do novo presidente.

A reação da Casa Branca foi imediata. Homam sugeriu que o papa se ocupasse de sua própria instituição, enquanto JD Vance disse que o argentino “precisa se olhar no espelho”.

No último dia 28, num encontro com católicos, coube justamente ao vice-presidente liderar uma oração pela saúde do papa. Mas ele concluiu sua fala indicando as discordâncias entre o papa e seu governo.

Rumble “ignora” a ordem de Moraes e mantém Allan dos Santos no ar

Para se manter, Allan dirige Uber nos Estados Unidos

Andreza Matais
do UOL

Duas semanas depois da ordem do STF (Supremo Tribunal Federal), a plataforma de compartilhamento de vídeos Rumble continua sem cumprir as determinações para voltar a operar no Brasil.

O ministro Alexandre de Moraes ordenou às operadoras de internet, em 21 de fevereiro, que bloqueassem o acesso à rede social enquanto não nomeassem um representante legal no Brasil e suspendessem a conta do blogueiro bolsonaristas Allan dos Santos, que está foragido nos Estados Unidos.

CONSPIRADOR – Santos é acusado de conspirar contra o regime democrático para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder a despeito da derrota eleitoral. Ele teve a prisão decretada em 2021 por obstrução de Justiça, ameaça e crimes contra a honra. Desde então, está foragido e segue atuando por meio da Rumble, rede utilizada principalmente pela extrema direita e conservadores por não ter filtros.

O ministro também determinou pagamento de multa de R$ 50 mil por dia até que a plataforma regularize sua atuação. O valor cobrado da Rumble já chega a cerca de R$ 800 mil.

“Determino a suspensão imediata, completa e integral, do funcionamento do ‘Rumble INC.’ em território nacional, até que todas as ordens judiciais proferidas nos presentes autos — inclusive com o pagamento das multas — sejam cumpridas e seja indicada, em juízo, a pessoa física ou jurídica representante em território nacional”, disse Moraes na decisão.

OUTRA BRIGA – Como antecipado pela coluna, a ordem de bloqueio foi acatada até mesmo pela Starlink, de Elon Musk. O empresário trava um embate público com Moraes ao lado de Donald Trump, presidente dos EUA. Trump acusa o ministro brasileiro de censurar empresas norte-americanas. A Rumble também assina a ação.

O gabinete de Moraes entende que a ordem para retirar os posts de Allan dos Santos foi cumprida quando a plataforma foi retirada do ar por sua decisão. A rede segue, contudo, bloqueada por ignorar a determinação de Moraes para nomear representante no Brasil.

No ano passado, a Starlink foi ameaçada por Moraes de ter suas atividades suspensas e de ser multada, caso não bloqueasse o acesso ao X, também de Musk. Desta vez, a aceitação imediata tem, contudo, outra razão. A Starlink tenta aumentar sua área de atuação no Brasil e precisa da aprovação do órgão regulador.

MAIS SATÉLITES – Inicialmente, a empresa recebeu autorização para utilizar 4.408 satélites no Brasil até 2027. O pedido para expansão (7.500 satélites) e para utilizar equipamentos de segunda geração já teve aval da área técnica da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), mas o relator tem segurado o processo.

Representantes da empresa de Musk têm feito um périplo em Brasília para a agência votar a demanda. Estiveram com os presidentes da Câmara e do Senado. O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) chegou a procurar a Anatel para se inteirar sobre o assunto.

Há uma expectativa sobre se o relator Alexandre Freire levará nesta semana o tema à pauta no plenário da Anatel.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Ninguém acessa Rumble no Brasil, porque ele não existe aqui. Os brasileiros acessam é o Rumble canadense,  facilmente captável aqui. Mas parece difícil que Moraes entenda isso. Ele ainda pensa (?) que existe Rumble no Brasil. É quixotesco, no sentido de ridículo. (C.N.)

A genial disparada política de Geraldo Vandré e Théo de Barros

Veja fotos de Geraldo Vandré, aos 88 anos - 10/06/2023 - Ilustrada - Fotografia - Folha de S.Paulo

Em setembro, Vandré vai completar 9o anos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, cantor e compositor paraibano Geraldo Pedroso de Araújo Dias, mais conhecido como Geraldo Vandré, e seu parceiro Théo de Barros, na letra de “Disparada”, fazem uma crítica à ditadura vivida na época e, consequentemente, apresenta uma comparação entre a exploração das classes sociais pobres pelas mais ricas e a condução das boiadas pelos boiadeiros, entre a maneira de se lidar com gado e se lidar com gente. 

Em 1966, a música “Disparada”, defendida por Jair Rodrigues, participou do II Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), dividindo o primeiro lugar com “A Banda” de Chico Buarque, defendida por Nara Leão. Nesse mesmo ano, a música foi gravada pelo próprio Jair Rodrigues no LP “O Sorriso de Jair”, pela Philips.

DISPARADA
Théo de Barros e Geraldo Vandré

Prepare o seu coração
Pras coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar…

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo pra consertar…

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu…

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei…

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei…

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata,
Mas com gente é diferente…

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto pra enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu…

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei