Governo acompanhará de perto o projeto que pretende anistiar golpistas do 8 de janeiro

Vândalos atentaram contra a democracia, mas não tiveram êxito

Pedro do Coutto

O governo está tomando providências junto ao Congresso para acompanhar de perto o projeto de anistia voltado para os que participaram da invasão de Brasília no dia 8 de janeiro de 2023. Está voltado para essa questão porque além de ser uma anistia com um número que se aproxima de mil pessoas, representa também uma brecha para reabilitar o ex-presidente Jair Bolsonaro, permitindo-lhe assim condições de disputar a sucessão presidencial de 2026.

O projeto de anistia tem poucas possibilidades de ser aprovado e mesmo se assim mesmo o fosse, Lula teria o poder de veto. Pode-se admitir, mas é mais difícil, que o Congresso aprove emenda constitucional fixando as bases da anistia, o que evitaria o veto presidencial. Mas, a questão não é só essa, mas sim que colocado o tema, o governo terá que se mobilizar para conter a ofensiva da oposição e para isso terá que negociar maior apoio do Legislativo para com o governo.

PEÇA-CHAVE – O Centrão passou a ser a peça-chave desse relacionamento. Um problema grave, sem dúvida, para Gleise Hoffmann, ministra da articulação do governo com a oposição. Os que participaram da invasão de Brasília e das ações de vandalismo  contra os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal foram financiados por pessoas interessadas em um golpe de Estado que afastaria o presidente Lula do poder. E, na maré alucinada, previam até a morte de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.

Uma loucura imaginar que isso pudesse acontecer. Mas os golpistas, tomados por uma estranha compulsão, admitiam que tal acontecesse. Espanta que tais hipóteses pudessem passar pela cabeça dos bolsonaristas porque o trauma que isso deixaria anularia a execução de um golpe nessas condições voltadas contra o presidente da República.

SEM LIMITES – Mas, é preciso considerar que o fanatismo não respeita fronteiras e limites. Uma contradição evidente é que Bolsonaro, Braga Neto e Augusto Heleno, principalmente, incluem-se na anistia, embora não tenham ainda sido condenados. Deveriam estar lutando por sua absolvição no julgamento pelo STF. Entretanto, na certeza de que serão condenados, antecipam-se na busca da anistia.

É impressionante a desinformação e o impulso destrutivo dos que participaram do processo de golpe. Havia até um projeto de decreto pronto para ser editado alterando a estrutura do poder político do Brasil. É incrível que isso tenha se passado pela cabeça de oficiais de alta patente e de políticos com experiência. O dia seguinte ao do golpe que seria perpetrado levaria inevitavelmente a uma catastrófica guerra civil.

 

É preciso louvar e aplaudir a coragem e a competência do ministro Moraes

Anderson Torres, Mauro Cid... | A Gazeta

Charge do Amarildo (A Gazeta)

Roberto Nascimento

O ministro Alexandre de Moraes merece todas as homenagens pela coragem de enfrentar e colocar no banco dos réus tantos poderosos estrelados e ricos, membros da elite atrasada do Brasil.

É preciso lembrar que ele seria um dos principais atingidos pela conspiração, já que seria preso logo no primeiro ato da Junta do golpe, havendo até a possibilidade de seu assassinato pelo grupo militar auto denominado Punhal Verde e Amarelo.

CRÍTICAS E ACERTOS – A meu ver, o fato de ser tão criticado pelos golpistas demonstra o acerto das suas decisões judiciais. Na prática, desde a presidência do TSE o ministro Alexandre de Morais se agigantou para se tornar um impeditivo à tentativa de derrubada do governo Lula.

O golpe fracassou e foi colocado na conta de Moraes. Se tivesse sido desfechado, com apoio das Forças Armadas, seria vitorioso, estaríamos em nova ditadura, não haveria inquérito algum, nenhum de nós teria o direito de escrever sobre esses fatos, sob pena de sermos presos, torturados e até mortos ou desaparecidos, como Rubens Paiva, Wladimir Herzog e Stuart Angel Jones.

Os fatos que compõem a acusação foram tão contundentes e explícitos que os réus dificilmente escapam das condenações.

DIREITO DE DEFESA – É claro que terão amplo direito de defesa, no curso do devido processo legal. Se o plano golpista tivesse êxito, os defensores da democracia é que seriam os futuros réus, e não teriam a mesma sorte.

Viriam as prisões, torturas, desaparecimentos e mortes, tudo de maneira sumária, decidido pelo Comando Revolucionário, que tinha o número 1 e o número 2, ambos generais a serviço do futuro ditador civil, se é que os militares pretendiam continuar suportando Bolsonaro.

Os parlamentares, que hoje se apressam para votar a anistia e dar o dito pelo não dito, esquecem que seriam os primeiros a terem fechada a ”Casa do Povo”. E iriam sofrer as cassações em série dos mandatos de oposição. Foi assim na ditadura de 64 e seria da mesma maneira no futuro governo golpista. Alguém tem alguma dúvida?

Uma desesperada canção de amor, na poesia realista de Ana Cristina Cesar

Tribuna da Internet | Ana Cristina Cesar, genial poeta, em busca de um amor cada vez mais difícilPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da chamada geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. No poema “Samba-Canção”, Ana Cristina revela que fez tudo para conquistar seu amado, mas acabou sendo demais.

SAMBA-CANÇÃO
Ana Cristina César

Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário,
cara pálida que desconhece

o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz…

Galípolo diz que país vai conviver com inflação acima da meta a curto prazo

O Brasil tem inflação acumulada em 12 meses de 5,06%

Pedro do Coutto

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, admitiu nesta quinta-feira em matéria no O Globo, um cenário incômodo na economia, com inflação acima da meta de 3% e juros altos, depois da subida da Selic para 14,25% ao ano, na semana passada. Segundo Galípolo, a curto prazo, o país precisará lidar com uma inflação acima da meta, estipulada em 3% neste ano, acrescentando que o BC tem consciência de que a “combinação de inflação acima da meta e de taxa de juros mais contracionista costuma produzir essa posição mais incômoda”.

“O Banco Central sabe que, no curto prazo, a gente vai conviver com uma inflação acima da meta e que os mecanismos de transmissão desse processo vão se dar nessa ordem que a gente tem comunicado”, declarou. Atualmente, o Brasil tem inflação acumulada em 12 meses de 5,06% — bem acima do teto da meta para este ano, que é de 4,50%.

SELIC – Ao ser questionado sobre a orientação futura da próxima alta na taxa básica de juros, Galípolo não estimou a dimensão do aperto monetário, preferindo reforçar o que foi dito na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, em que o BC indicou que o ciclo de alta da Selic “não está encerrado”, mas que a próxima elevação “seria de menor magnitude”.

O presidente do BC ainda comentou que precisará escrever uma segunda carta informando o estouro da meta inflacionária. Isso porque a autoridade monetária segue confirmando a possibilidade de a inflação estourar a meta em junho. A partir deste ano, a meta de inflação é contínua, e não mais por ano-calendário. Ou seja, o índice é apurado mês a mês. Nesse novo modelo, se o acumulado em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.

As declarações de Gabriel Galipolo certamente causaram irritação do presidente Lula da Silva, pois o presidente do BC considera o cenário incômodo para o governo e a inflação fora da meta até 2027. O reflexo político desta entrevista desmancha a esperança da população que esperava que a inflação fosse contida numa escala muito abaixo dessa atual.

DECLARAÇÕES – Não sei o que houve com Galipolo, que sucedeu a Roberto Campos Neto, acusado pelo governo de causar o desequilíbrio inflacionário e o aumento dos juros para o giro da dívida interna. Galipolo assumiu para colocar em prática uma política contrária à mantida por Campos Neto, mas agora piora a situação política com as declarações de que há perspectiva de que a inflação poderá recuar somente daqui a dois anos, ou seja, após a sucessão de 2026, dando margem à possíveis articulações de especuladores.

O cenário abala a credibilidade do governo que tinha assumido o compromisso de conter a alta dos preços. A situação é difícil, tanto que os empréstimos consignados pelo governo atingiram R$ 1,5 bilhão na primeira semana.  Lula deve ter ficado muito contrariado com a entrevista de Galipolo. Afinal, ele criticava Roberto Campos Neto justamente por ele não agir para conter a inflação.

Para punir Bolsonaro e generais, o STF tem de reduzir as penas do 8 de Janeiro

Censura promovida por Moraes tem que acabar”

Moraes terá de aceitar a redução das penas do 8 de Janeiro

Carlos Newton

Embora seja festejado por milhões de brasileiros, que o consideram verdadeiramente um herói nacional, na verdade o ministro Alexandre de Moraes tem criado mais problemas do que soluções, e o conjunto de sua obra necessitará de muitos acertos, que o ministro Luiz Fux se ofereceu a providenciar.

O principal erro cometido por Moraes surgiu no julgamento do primeiro réu do 8 de Janeiro, em 14 de setembro de 2013, quando o Supremo Tribunal Federal condenou Aécio Lucio Costa Pereira a uma pena de 17 anos de prisão em regime inicial fechado, além de multa de R$ 44 mil e indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 30 milhões de forma solidária (em conjunto) com outros condenados.

DEMASIADO RIGOR – A pena foi rigorosa demais para um falso terrorista, acusado sem provas materiais. Uma verdadeira aberração jurídica, especialmente ao ser comparada à condenação dos terroristas de verdade, que tentaram explodir o caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal de 2022.

George Washington de Oliveira Sousa pegou 9 anos e 4 meses de prisão e Alan Diego dos Santos Rodrigues apenas 5 anos e 4 meses, ambos em regime inicial fechado. Crimes cometidos: “expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outro” e “porte ilegal de arma de fogo e artefato explosivo ou incendiário”.

Os dois terroristas de verdade já estão soltos, na forma da lei, mas centenas de falsos terroristas continuam aguardando julgamento.

CONTRADIÇÕES INSANÁVEIS – Ao contrário da 8ª Câmara Criminal do DF, o Supremo nem quis saber de provas e botou para quebrar. Cada falso terrorista do 8 de janeiro é acusado de (1) tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e (2) tentativa de Golpe de Estado, que são dois crimes somados, ao invés de um só.

Da mesma forma, são acusados por (3) dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e (4) deterioração de patrimônio tombado, que são mais dois crimes somados, ao invés de um só.

Além disso, Moraes os acusa de associação criminosa armada, um crime impossível, pois não portavam qualquer arma, a PM não prendeu nenhuma pessoa armada na Praça dos Três Poderes ou no acampamento.

UM “MEIO-TERMO” – Essas penas exageradas criam a impossibilidade de punir Bolsonaro e a cúpula do golpe com penas superiores aos manifestantes do 8 de Janeiro. Por isso, integrantes do STF falam em “meio-termo” para rever as penas dos falsos terroristas.

Este é o papel que cabe a Luiz Fux. Acredita-se que ele vai seguir o exemplo da Justiça americana, que deu apenas quatro anos de prisão aos líderes dos revoltosos do Capitólio, onde cinco policiais do Legislativo foram mortos.

Com a redução das penas dos condenados no 8 de Janeiro, o Supremo então poderá condenar Bolsonaro a cerca de 9 anos e os generais a 7 anos, algo por aí, e estamos conversados.

###
P.S.-
Mas comprem pipocas, porque a novela não acaba aí. O projeto da anistia tem cada vez mais apoio na Câmara: 190 a favor, 125 contra e 198 indecisos, na contagem diária do Estadão. Como são necessárias somente 257 presenças para iniciar a votação, a Anistia pode ser aprovada com apenas 129 votos, o quórum da maioria simples para projetos de lei, antes mesmo de acabar o julgamento de Bolsonaro. (C.N.)

Um belo argumento de Paulinho da Viola, em defesa do tradicional samba de raiz

Paulinho da Viola: 'Bolsonaro joga brasileiros... | VEJA RIO

Paulinho da Viola, grande mestre do samba

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola, é tido como um dos mais talentosos representantes da MPB. A letra de “Argumento” é um protesto contra a inclusão do piano nos sambas, que Benito de Paula colocava, naquela época, em que os sambistas clássicos não aceitavam a falta dos instrumentos essenciais, como cavaco, pandeiro e tamborim. Este samba, com várias gravações, faz parte do CD Meus Momentos, de Paulinho da Viola, gravado em 1999.

ARGUMENTO
Paulinho da Viola

Tá legal
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
De quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar

Pela 1ª vez, um ex-presidente e militares são julgados por tentativa de golpe

Bolsonaro  alega inocência, mas realidade o desmente

Pedro do Coutto

Jair Bolsonaro tornou-se o primeiro ex-presidente brasileiro a virar réu sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido aceitar a denúncia contra ele e outros sete ex-integrantes do seu governo, sendo três generais do Exército — Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).

Eles fariam parte do que a Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de “núcleo crucial” de uma trama golpista contra a vitória do presidente Lula da Silva nas eleições de 2022. Os ministros Alexandre de Moraes (relator do caso), Flávio Dino, Luiz Fux e Cármen Lúcia e o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, votaram pela aceitação da denúncia nesta quarta-feira. Com a decisão da Primeira Turma do STF, será iniciada a fase de julgamento na qual serão abertos os debates entre a acusação e as defesas.

CONDENAÇÃO – Desde a Proclamação da República, nenhum presidente nem militares foram indiciados ou condenados pelo crime de tentativa de golpe de Estado. Em 1922, o então presidente da República, Hermes da Fonseca, foi preso por supostamente estar envolvido na tentativa de deposição do presidente Epitácio Pessoa. Porém, houve somente o início de um inquérito que não foi concluído, já que Fonseca morreu antes disso. Então, apesar da prisão que durou seis meses, ele não foi julgado formalmente.

No caso de militares que planejaram golpes, também uma investigação nunca foi tão longe, com a possibilidade de condenar à prisão os responsáveis, na esfera penal. No contexto da última ditadura que o Brasil viveu, de 1964 a 1985, a Lei da Anistia, de 1979, impediu a punição de “qualquer pessoa”, inclusive dos militares. Crimes graves de violação de direitos humanos não foram julgados devido a essa legislação, o que ficou conhecido como “perdão aos torturadores”. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), que funcionou de 2012 a 2014, reconheceu a responsabilidade de diversos militares, mas não tinha poder para julgar e punir.

DEFENSIVA –  Sem dúvida, Bolsonaro perdeu espaço na decisão desta semana. Ele não queria realmente sequer ser indiciado, alegando sua inocência absoluta. Não aconteceu isso e ele agora está numa posição defensiva pelos acontecimentos que ele próprio organizou. O ex-presidente enfrentará um julgamento que poderá levá-lo à prisão, assim como os seus aliados, personagens de uma trama que começou com a invasão de Brasília.

Não seria possível que diante do vendaval de 8 de janeiro nada fosse acontecer, sem consequências. Agora, o reflexo é inevitável. O desenrolar dos fatos vai se suceder. É o plano crítico que os bolsonaristas temiam. Enfim, o quadro político brasileiro ganhou densidade e ingressou num ponto no qual não há mais retorno.

Você sabia que praticamente todos os militares apoiaram golpe contra Lula?

Paulo Sérgio Nogueira viveu metamorfose com Bolsonaro - 16/03/2024 - Poder  - Folha

O general Paulo Sérgio Nogueira é um dos envolvidos

Carlos Newton

Reina uma enorme expectativa quanto a situação dos chefes militares que se envolveram no golpe. Praticamente isso aconteceu com todos eles, porque nenhum oficial superior aceitava o fato de um corrupto como Lula da Silva ter sido tirado irregularmente da prisão e conseguido anulação ilegal de suas condenações, para que pudesse sair novamente candidato.

Enquanto perdurou a falsa denúncia de que as urnas seriam fraudadas, todos os chefes militares estavam dispostos a reconduzir Lula aos aposentos presidenciais da Polícia Federal em Curitiba.

SEM MOTIVAÇÃO – Vontade é coisa que dá e passa, diz o ditado. Os chefes militares queriam de livrar de Lula, mas a motivação que os conduzia era furada. Quando ficou claro que não houve fraude eleitoral, o Alto Comando do Exército entrou em cena e liquidou o golpe de uma só tacada.

A decisão do Alto Comando foi comunicada ao então presidente Bolsonaro pelos próprios oficiais que conspiravam com ele, como o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e o comandante do Exército, general Freire Gomes.

Aí deu-se a cisão – a cúpula das Forças Armadas afastou-se de Bolsonaro e do golpe, mas alguns oficiais superiores, sob a liderança de Braga Netto, insistiram em levar adiante a conspiração, embora não houvesse a menor chance de êxito.

UM MAU MILITAR – Segundo o jornalista Elio Gaspari, no dizer do ex-presidente Ernesto Geisel, “Bolsonaro era um mau militar”. Mas não é só isso, pois falta-lhe também a coragem para o combate. Por isso, abandonou o golpe e viajou para os Estados Unidos dia 30 de dezembro de 2021.

Antes da viagem, o então presidente já estava afastado da conspiração, assumida por Braga Netto, que mantinha acesa a moral dos acampados no Quartel-General do Exército, com a conivência do Comando Militar do Planalto.

Assim, o vandalismo do 8 de Janeiro foi a derradeira cartada dos golpistas, que confiavam num decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), para assumir o poder. Mas deu errado e agora os que insistiram com o golpe já foram indiciados ou viraram réus.

HAVERÁ PRISÕES – Alguém tem de pagar por essa bagaça toda, é claro, e o Supremo será inclemente. Todos pegarão cadeia, à exceção de dois generais que foram indiciados equivocadamente e poderão se explicar no decorrer do processo.

A única esperança de Bolsonaro e dos demais é a Anistia, a ser votada pelo Congresso. A maioria dos parlamentares é claramente a favor. Isso significa que será aprovada, sem a menor dúvida.

A única dúvida é se anistiará também Bolsonaro e os envolvidos, especialmente os generais. Se isso acontecer, será um problema e tanto. Aliás, é melhor nem especular sobre o assunto. A maior discussão, por enquanto, será sobre a dosimetria das penas de Bolsonaro e dos generais.

###
P.S.Leia amanhã: Qual será a pena dos militares que armaram o golpe junto com Bolsonaro? (C.N.)

No início do julgamento de Bolsonaro, só foram ouvidas as razões do lobo

Tribuna da Internet | Com poder delirante e irrefreado, o Supremo perde o pudor e escancara seu partidarismo

Charge do Bier (Arquivo Google)

José Carlos Werneck

No julgamento da aceitação da denúncia pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro começou a ser vítima de um verdadeiro linchamento jurídico, porque foram cometidos vários erros processuais, não por desconhecimento dos códigos, mas por mero casuísmo, como objetivo único e exclusivo de torná-lo réu.

Foi acusado por mil e uma farisaicas razões e, como na famosa fábula de La Fontaine, só foram ouvidas as razões do lobo, para deleite de uma alcateia faminta.

FALHAS INSANÁVEIS – O jurista Jorge Béja, em magnífico artigo publicado na “Tribuna da Internet” apontou de maneira didática e elucidativa as falhas insanáveis da denúncia apresentada pelo procurador-Geral da República, Paulo Gonet, que cometeu três gravíssimos erros processuais.

Jorge Béja ressaltou que “apesar da impossibilidade de que as omissões venham a ser sanadas da parte do Procuradoria-Geral da República, uma vez que a denúncia já foi oferecida, crê-se que os ministros do Supremo tentarão encontrar motivação para que as falhas possam ser superadas.”

Béja apontou que no parecer da Procuradoria não houve os fundamentais e indispensáveis pedidos ao STF –  primeiro, o pedido de recebimento da denúncia; segundo, o pedido de citação dos réus; e terceiro, o pedido de condenação a isso ou aquilo.

EM PLENÁRIO – Igualmente, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, criticou nesta quarta-feira a condução do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, a denúncia por suposta tentativa de golpe de Estado deveria ser julgada no plenário e não na Primeira Turma do STF.

Em comentário ao ensinamento do ilustre jurista Jorge Béja, afirmei: “Artigo elucidativo e primoroso, como sempre acontece com os textos do autor, mas, infelizmente, o resultado do julgamento já é do conhecimento de todos: Bolsonaro será condenado, massacrado e linchado, sem dó e piedade! Aguardemos!”.

Infelizmente eu tinha razão.

Os três momentos de liberdade no amor, na poesia de Antonio Cícero

Maria Padilha - Antonio Cicero compositor, poeta, ensaísta, crítico  literário, filósofo e escritor brasileiro. compôs: Fullgás, À Francesa,  Maresia e Ultimo Romântico, entre outras. Meu grande amigo e uma das  pessoas maisPaulo Peres
Poemas & Canções

O filósofo, escritor, letrista e poeta carioca Antonio Cícero Correa Lima (1945-2024), da Academia Brasileira de Letras, ao final de “Três” momentos, revela sua ânsia de liberdade no amor e no sexo.

TRÊS
Antonio Cícero

Um
Foi grande o meu amor
não sei o que deu
quem inventou fui eu
fiz de você o sol
da noite primordial
e o mundo fora nós
se resumia a tédio e pó
quando em você
tudo se complicou

Dois
Se você quer amar
não basta um só amor
não sei como explicar
um só é sempre demais
pra seres como nós
sujeitos a jogar
as fichas todas de uma vez
sem temer naufragar
não há lugar para lamúrias
essas não caem bem
não há lugar para calúnias
mas por que não
nos reinventar

Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com o seu sexo
Junto ao mar

Inferno astral de Bolsonaro será longo e Supremo negará a anistia

Me anistia: Charge por Claudio Mor

Charge do Claudio Mor (Arquivo Google)

 Vicente Limongi Netto

Mais emoções surgirão no horizonte político. Lexotan no bolso. Horóscopos tortuosos para Bolsonaro e outros 7, considerados réus pela primeira turma do Supremo Tribunal Federal. O inferno astral para Bolsonaro e apaniguados será longo. A anistia perdeu força e ânimo. Não duvido se alguns largarem o barco.

Luta inglória. Reverter a decisão da primeira turma é zero. Nota de 3 reais. O barulho que seguidores do mito de barro orquestrarão no Congresso e nas redes sociais não alcançará o sucesso desejado. Os ministros do Supremo Tribunal Federal têm o couro duro. Não se deixarão levar por devaneios da tropa dos réus. 

GRITOU E ESPERNEOU – Bolsonaro saiu atirando para todos os lados. Rodeado de áulicos e com o jeitão destrambelhado de sempre, falou muito, gritou, esperneou. Leu documentos antigos tentando provar que é inocente. Quase santo. Tudo inútil.

É mais fácil acabar com a poluição e sujeira dos rios e oceanos, do que os ministros da Suprema Corte afrouxarem suas decisões. A anistia, se passar, será liquidada pelo Supremo.

Malafaia, filhos de Bolsonaro, mulher dele, deputados, senadores e governadores amigos, suarão a camisa. Não pouparão insultos para o Xandão. A mãe do ministro relator será muito lembrada. Gastarão saliva e energia. Nadarão para morrer na praia. Tudo inútil.  Contra os fatos não há argumentos.

RODA VELHA – Analistas descobriram agora, a começar pelo “maestro” Júnior, que alguns jogadores que arrebentam nos clubes, pouco produzem na seleção.

Não é de hoje que insisto e saliento o tema nos meus textos e redes sociais. Sobretudo aqui mesmo, na brava Tribuna da Internet. 

Trama golpista: Bolsonaro e aliados já estão com as suas condenações em curso

Réus responderão a um processo criminal

Pedro do Coutto

Os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram, por unanimidade, tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados réus no processo que apura uma tentativa de golpe de Estado durante e depois das eleições de 2022. Votaram a favor do recebimento da denúncia os ministros Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, integrantes da Primeira Turma.

Com o aceite da denúncia, os investigados agora se tornarão réus e passarão a responder ao processo na Suprema Corte, onde poderão ser considerados culpados ou inocentes. Além do ex-presidente,  compõe a lista de acusados do “núcleo 1”, grupo crucial na suposta trama golpista, cuja denúncia foi recebida, Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira, e Walter Braga Netto.

CRIMES – A denúncia aponta cinco crimes atribuídos aos acusados, todos relacionados a um plano para impedir a posse do ex-presidente Lula da Silva, vencedor do pleito: organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado. Bolsonaro também é acusado de liderar a organização criminosa.

Em seu voto, que durou uma hora e 50 minutos, o ministro e relator do caso, Alexandre de Moraes, afirmou não haver dúvida de que Bolsonaro tinha conhecimento sobre a existência do documento que ficou conhecido como “minuta do golpe”. O documento, segundo as investigações, consistia no planejamento de um golpe de Estado em 2022 que impediria a posse de Lula. O ministro acrescentou que o ex-presidente tinha conhecimento sobre o chamado “Punhal Verde-Amarelo”, o plano que previa o assassinato de autoridades.

Moraes também citou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, afirmando que é necessário lembrar que houve tentativa de golpe de Estado.“É bom lembrar que tivemos tentativa de golpe de Estado violentíssima. Fogo, destruição de patrimônio público, dano qualificado. Uma violência selvagem, incivilidade total, com pedido de intervenção militar no golpe de Estado”, disse.

GUERRA CAMPAL – O relator declarou que os atos foram uma “verdadeira guerra campal” e que há “materialidade” comprovada sobre os crimes cometidos na ocasião, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas. “O que exige da denúncia é comprovação da materialidade dos delitos, e a materialidade dos delitos já foi reconhecida pelo STF em 474 denúncias. Os mesmos crimes narrados, com participação diversas de denunciados, mas os crimes são os mesmos. O STF reconheceu a materialidade desses delitos”, explicou Moraes.

Fica estabelecida a certeza de que os acusados da tentativa de golpe e do arrastão do 8 de janeiro estão com suas condenações em curso. As sentenças estão desenhadas nos votos dos ministros do STF e a tendência é uma só, a de que os réus estão em um caminho sem volta.

Fux é o único jurista de verdade com assento no Supremo Tribunal Federal

Fux justifica pedido de vista no caso de mulher do “Perdeu, mané” | Metrópoles

Fux vai dar um jeito de abrandar às penas de Moraes

Carlos Newton

Por termos amigos em comum, há muitos anos eu já conhecia e admirava no Rio de Janeiro o então juiz e professor Luiz Fux, que hoje é considerado o maior processualista brasileiro. Seu conhecimento jurídico é realmente espantoso.

No entanto, em três oportunidades me decepcionei com o proceder dele. Mesmo assim, não deixei de admirar seu grande saber nos tribunais e agora Fux mostra que realmente tem extraordinário valor, ao anunciar que vai rever as penas do 8 de janeiro.

TRÊS ERROS – Na belíssima carreira de Fux, o primeiro erro foi ter lutado para nomear a filha como desembargadora. Como ele mesmo disse nesta quarta-feira, “debaixo da toga bate o coração de um homem”, e ele se deixou levar pelo amor paternal.

O segundo erro foi ter votado a favor da tese de que a TeleSena de Silvio Santos era um título de capitalização e não um jogo lotérico. E o pior é que seu voto repetiu frases inteiras da defesa do homem do baú, algo deprimente em Direito Processual. Mas relevei o fato, porque o voto poderia ter sido preparado por algum juiz auxiliar, e Fux apenas foi na onda.

E o terceiro erro foi ter acompanhado, sem qualquer reparo, os votos ilegais, injustificados e intoleráveis de Alexandre de Moraes no caso do 8 de janeiro.

A GOTA D’ÁGUA – Para mim, esse posicionamento de Fux foi inaceitável, e o pior é que ele continuou repetindo o erro em todos os demais votos do 8 de janeiro, até esta terça-feira, dia 25, quando pediu vista do julgamento da cabeleireira Débora Rodrigues.

Antes tarde do nunca, diríamos, até porque, no Supremo, Fux era o único ministro da maioria petista que não tinha errado nos julgamentos políticos para beneficiar Lula da Silva.

Em 2019, Fux votou contra proibir prisão de condenado em segunda instância, uma manobra usada para libertar Lula e que até hoje humilha os brasileiros perante os demais 192 países da ONU.

SEM DESCONDENAR – Depois, em 2021, Fux também não aceitou a grotesca e ilegal anulação de todas as condenações de Lula na Lava Jato. Assim, manteve as mãos limpas, enquanto outros ministros petistas chafurdavam na lama.

Fux sabe que a Política é uma coisa, enquanto a Justiça é outra, muito diferente. Quando as duas se misturam, o cheiro putrefato pode ser sentido a centenas de milhas daqui, como diria Djavan.

Agora, estamos diante do maior julgamento político da História do Brasil. E Fux se adiantou para dar um basta e dizer que as penas do 8 de janeiro são rigorosas demais e precisam ser revistas. Demorou, mas se redimiu do terceiro erro.

###
P.S. –
Sejamos sinceros. Fux é o único jurista de verdade que tem assento no Supremo. Pode ser que ele se anime e passe a dar aulas de Direito aos colegas ministros, porque todos eles já mostraram que carecem do pré-requisito d0 notório saber jurídico. Aliás, nem vamos falar em caráter ilibado, porque é coisa rara por lá, podem perguntar a Adaucto Lúcio Cardoso, que despiu a toga, atirou-a sobre a poltrona e se demitiu. (C.N.)

STF analisa denúncia contra Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe

Denúncia foi apresentada pela PGR contra Bolsonaro e mais sete

Pedro do Coutto

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras sete pessoas. Eles foram denunciados por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Não tenho dúvida de que a denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, será aceita, pois alcançou um nível de importância histórica, pois, como lembra a jornalista Miriam Leitão, O Globo de ontem, levar militares de alta patente ao julgamento civil constitui um fato marcante ao longo de toda a República.

ARGUMENTOS – As defesas de Alexandre Ramagem e do almirante Garnier, que estão entre os acusados, baseiam os seus argumentos tentando fazer crer que eles não há fundamento jurídico ou legal, o que foi rebatido pelos fatos ao longo do processo e que se choca com a realidade, uma vez que há provas acumuladas e que conduzem ao pensamento e à lógica da questão.

Inclusive, os acampamentos nas portas do quartéis e dos comandos militares revelam exatamente o oposto ao alegado pelas defesas, bem como as reuniões realizadas quando foi discutida a elaboração de documento contestando o resultado das urnas e a vitória de Lula, o que significaria uma ruptura violenta da lei e da ordem da democracia.

Segundo a PGR, o grupo fazia parte do “núcleo crucial” de um plano para manter Bolsonaro no poder. Entre as ações investigadas, estariam a tentativa de invalidar o resultado das eleições de 2022 e um plano de assassinato de autoridades, como o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

PROCESSO – A PGR aponta que os acusados cometeram cinco crimes contra a democracia. Se condenados, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão. Com a provável aceitação da denúncia pelo STF, os acusados se tornarão réus e responderão a um processo criminal, que pode levar a condenações.

A denúncia contra os oito acusados será aceita, repito, pelo STF, uma vez que o processo inicial se baseia em ameaças inclusive contra a vida de Alexandre de Moraes, relator na Corte Suprema. Provavelmente, hoje, estaremos de posse da decisão e da abertura da segunda etapa do processo, que é o julgamento pelo fato registrado e não apenas pela aceitação da denúncia.

No STF, deu pena assistir aos advogados dos golpistas se enrolando na tribuna

Defesa de Bolsonaro cita Múcio e aponta contradições da denúncia da PGR

Sem argumentos fortes, os advogados não impressionaram

Vicente Limongi Netto

Deu pena assistir aos advogados dos acusados golpistas, na sessão da primeira turma, no Supremo Tribunal Federal. Já entraram perdedores. Gaguejaram, tropeçaram nos argumentos. Perda de tempo. Lacração total.

A propósito, a bem informada colunista Lia Dinorah (Jornal de Brasília – 24/03) revela que o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem chances de ser indicado pelo presidente da República para o Supremo Tribunal Federal (STF) caso o atual presidente da Suprema Corte, Luiz Roberto Barroso, resolva antecipar sua aposentadoria.

Pacheco no STF não é nada, não é nada mesmo. O STF já tem tantos ministros ruins, que mais um não faz nenhuma diferença. Ou seja, com o grandalhão escolhido, o Supremo continuará, mais do que nunca, a ser puxadinho de luxo do PT e de Lula. 

PARABÉNS A CABRAL – Glórias e homenagens de todos para a chegada dos 93 anos de idade de Bernardo Cabral, nesta quinta-feira, dia 27. Legado de trabalho e realizações de Bernardo Cabral orgulha e enaltece o Brasil.

 Alegria e honra de escrever sobre Bernardo identifica-se com a nossa amizade fraterna de 60 anos. Amizade nascida e cultivada por Bernardo Cabral, com meus avós, Vicente e Filomena e com meus pais, Andréa e Alcy. Passo a palavra para o jurista, doutor em Direito pela Universidade de Brasília e ex-procurador-geral da República, Inocêncio Martires Coelho:

“Bernardo Cabral é um personagem moralmente vertical. Amigo, chefe e colega sem par, tenho por ele a mais firme admiração. Nestes tempos estranhos, como costuma dizer o ministro Marco Aurélio, celebrar os 93 anos de idade de Bernardo Cabral é mais que uma homenagem, é um imperativo categórico. Saúde e paz a esse cavaleiro “sans peur et sans reproche”, a quem o Senhor concedeu a graça de ver o próximo como a si mesmo”. 

MAIS PARABÉNS – Luxo só permitido para brasileiros competentes como Sérgio Costa e Silva: comemorar seus valorosos 80 anos de idade em Portugal, rodeado de amigos e familiares. Nesta quinta-feira, dia 27, as comemorações prosseguem, no Rio de Janeiro

No calendário oficial do Rio de Janeiro, é Dia de Música do Museu. Com dois concertos, no Museu de Justiça e no Palácio Tiradentes. 

Veja o que o poeta Paulo Leminski achava que nunca iríamos saber

Você nunca vai saber o que vem depois... paulo leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) expressa no poema “Objeto Sujeito” tudo quanto nunca saberemos.

OBJETO SUJEITO                                                Paulo Leminski

Você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra Pasárgada
Xanadu ou Shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olhe lá

Governadores pedem compensação para zerar ICMS da cesta básica

Denúncia contra golpistas tem falhas insanáveis que o STF não pode suprir

CdB | Gonet reúne dados para reabrir inquérito contra Bolsonaro

Na empolgação, Gonet cometeu três erros processuais

Jorge Béja

Nesta terça-feira, 25, o Supremo dá início à análise da denúncia que o procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, ofereceu (oferecer é o verbo jurídico para o caso) contra os indiciados nos atos preparatórios e concretizados no 8 de Janeiro, sem sucesso.

O STF dirá se recebe ou rejeita (também estes são os verbos jurídicos adequados; receber e rejeitar) a denúncia de 272 páginas e 34 indiciados. Peça muito bem elaborada. Clara. Segura. Rica em provas de toda ordem. Peça perfeita? Quase perfeita, é a resposta. Porque nela estão ausentes três exigências legais que são de ordem pública. 

RISCO DE NULIDADE – Há omissões graves que podem levar a peça a ser considerada inepta, imprópria, incompleta. E em consequência, a denúncia pode ser rejeitada.

Tanto no âmbito cível quanto no criminal, toda demanda (ação judicial ) tem início através de petição. No cível, é a Petição Inicial. No crime, é a Denúncia de autoria do Ministério Público, nas chamadas ações penais de ação pública incondicionada.

E toda Petição Inicial ou Denúncia, além de outros requisitos que nela devem constar, três deles estão ausentes na denúncia do PGR.

HÁ TRÊS OMISSÕES – A primeira é o pedido de recebimento da peça. O segundo é o pedido de citação dos denunciados, sendo a denúncia recebida.  E citação é o ato, imprescindível, pelo qual a parte contrária é chamada para ficar ciente da ação e apresentar defesa.

É conhecido no meio jurídico criminal o bordão “Recebo a denúncia e cite-se…”, do punho do juiz criminal a quem a denúncia foi oferecida.

Portanto, os pedidos para receber a denúncia e para a citação dos denunciados, não constam na  peça que começa a ser examinada pelo STF nesta terça-feira. Não será surpresa se a denúncia não for recebida em razão das omissões aqui apontadas e que são insuperáveis e insanáveis

MAIS UM PEDIDO – A terceira omissão na denúncia é o pedido de condenação. A petição (denúncia) descreve minuciosamente os fatos ocorridos, anteriores e no próprio dia 08/01.

Cita e transcreve leis e artigos que os denunciados infringiram. Detalhadamente enquadra cada denunciado, individualmente, nos crimes que cada um teria cometido. Tudo de forma didática e comprovada. Mas não pede a condenação.

Nas ações judiciais, cíveis e/ou criminais, o juiz fica restrito e limitado ao que lhe é pedido.  Se a parte autora, aqui o PGR, não pediu a condenação dos denunciados, como o STF poderá conceder, dar, atender, deferir o que não lhe foi pedido?

SITUAÇÃO INÉDITA – Apesar da impossibilidade de que as omissões venham a ser sanadas da parte do Procuradoria-Geral da República, uma vez que a denúncia já foi oferecida, crê-se que os ministros do Supremo tentarão encontrar motivação para que as falhas possam ser superadas.

Só não se sabe de que forma o STF poderá dar sua prestação jurisdicional a uma denúncia em que não constam pedido de recebimento da denúncia e pedidos de citação e condenação daqueles contra os quais ofereceu denúncia.  

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Jorge Béja é um dos maiores juristas deste país. Em agosto de 2024, a OAB-RJ lhe comunicou que tinha sido laureado para receber o prêmio Sobral Pinto, que seria entregue em evento na Fundação Getúlio Vargas. Mas Jorge Béja agradeceu e declinou da indicação, alegando não merecer tamanha honraria. Na verdade, ninguém seria tão merecedor quanto o próprio Béja. Além da imensa cultura jurídica comum aos dois, ele e Sobral Pinto jamais cobraram honorários de qualquer cliente, pois recebiam apenas o chamado ônus de sucumbência arbitrado pelos juízes. E Béja, em toda a sua carreira, somente defendeu vítimas, jamais autores de crimes. É claro que os criminosos têm direito à ampla defesa e ao melhor advogado que possam pagar, mas eles sabiam que Béja e Sobral Pinto não tinham esse perfil. (C.N.)

As pombas de Raymundo Corrêa voltam, mas seus sonhos não voltam jamais…

Biografia dos Patronos: Raymundo Correia

Correa, um dos fundadores da Academia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O magistrado, professor, diplomata e poeta maranhense Raymundo da Motta de Azevedo Corrêa Sobrinho (1859-1911) no soneto “As Pombas” cria uma relação entre a rapidez da adolescência e o tempo. Neste sentido, o (pombal) significa as pessoas na adolescência e as pombas são os sonhos destes jovens.

Logo, trata-se de um soneto pessimista, já que aparece a angústia do autor perante a passagem rápida do tempo, tendo em vista os tempos bons e as paixões da adolescência. 

AS POMBAS
Raimundo Corrêa

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
raia sanguínea e fresca a madrugada…

E à tarde, quando a rígida nortada
sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
ruflando as asas, sacudindo as penas,
voltam todas em bando e em revoada…

Também dos corações onde abotoam,
os sonhos, um por um, céleres voam,
como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
e eles aos corações não voltam mais…

Economia e Segurança puxam avaliação mais negativa do governo Lula

Educação ainda tem melhor desempenho na Esplanada

Pedro do Coutto

O aumento da desaprovação do governo do presidente Lula da Silva entre os eleitores brasileiros reflete-se em diversas áreas da administração federal, conforme apontado por uma pesquisa Ipsos-Ipec divulgada na última sexta-feira. A piora na percepção é generalizada em comparação com o levantamento anterior, realizado em dezembro, e atinge até mesmo a área da educação, sob responsabilidade do ministro Camilo Santana, que até então era a única com avaliação positiva superior à negativa.

Em março, pela primeira vez no terceiro mandato do petista, as avaliações “ótima ou boa” e “ruim ou péssima” na educação empataram, cada uma com 36% da opinião pública. Em dezembro, a diferença entre esses grupos era de três pontos percentuais, com a avaliação positiva à frente. Apesar da queda, a educação continua sendo a única área em que a reprovação não supera a aprovação.

AVALIAÇÃO NEGATIVA – Os dados indicam que o combate à inflação, o controle e a redução de gastos públicos, além da segurança pública, são as áreas com maior índice de avaliação negativa. Nessas frentes, respectivamente 57%, 53% e 50% dos entrevistados consideram o trabalho do governo ruim ou péssimo.

Diante do aumento dos preços dos alimentos, a parcela da população que avalia negativamente a atuação do governo nessa questão subiu dez pontos percentuais em relação a dezembro, enquanto a percepção positiva caiu de 21% para 17%. Já o descontentamento com o controle de gastos teve um aumento menor, de cinco pontos, variação semelhante à registrada na segurança pública, gerida no âmbito federal pelo ministro Ricardo Lewandowski.

DESEMPREGO  – Outras áreas com alta reprovação incluem o desemprego, com 45% de avaliações negativas, e o combate à fome e à pobreza, classificado como ruim ou péssimo por 47% dos entrevistados, mesmo diante de recentes avanços nos indicadores nacionais.

As políticas ambientais, conduzidas pela ministra Marina Silva também registram uma percepção negativa crescente, com 40% de reprovação em março, contra 38% em dezembro. Em setembro do ano passado, esse índice chegou a 44%, após um aumento de 11 pontos em quatro meses, impulsionado por eventos como enchentes no Rio Grande do Sul e queimadas na Amazônia e no Pantanal.

A recente troca de comando no Ministério da Saúde, com a saída de Nísia Trindade e a chegada de Alexandre Padilha não provocou mudanças significativas na percepção pública sobre a gestão da pasta. O índice de avaliação negativa continua em tendência de alta, passando de 44% para 46%, enquanto a aprovação caiu de 26% para 25%, variações dentro da margem de erro.

PERCEPÇÃO – No que diz respeito à avaliação geral do governo Lula, conforme já divulgado na semana passada pelo instituto, 41% dos brasileiros consideram sua gestão ruim ou péssima, enquanto 27% a classificam como ótima ou boa. Outros 30% a veem como regular. Além disso, 51% dos entrevistados afirmam que o governo está pior do que esperavam, um aumento em relação a dezembro, quando essa percepção era de 41%.

A pesquisa Ipsos-Ipec revela um cenário de crescente insatisfação com o governo Lula, refletido na piora da avaliação em diversas áreas da administração pública. Questões como inflação, segurança e controle de gastos se destacam entre as mais criticadas, indicando que a população esperava medidas mais efetivas para solucionar esses problemas.

MUDANÇA – Mesmo setores que anteriormente apresentavam um saldo positivo, como a educação, agora mostram um equilíbrio entre avaliações favoráveis e desfavoráveis, evidenciando um desgaste generalizado na percepção da gestão federal.

Diante desse quadro, o governo enfrenta o desafio de reverter essa tendência negativa e recuperar a confiança da população. Para isso, será necessário não apenas implementar políticas mais eficazes, mas também melhorar a comunicação sobre os avanços realizados. Caso contrário, a insatisfação pode se consolidar, tornando ainda mais difícil a condução do mandato e o enfrentamento dos desafios econômicos e sociais do país.