Na inspiração do cordel, uma belíssima saga de amor, bem nordestina

90 anos do Romance do Pavão Misterioso - Vermelho

Uma fábula que faz enorme sucesso até hoje

Paulo Peres
Poemas & Canções

José Ednardo Soares da Costa Sousa, cantor e compositor cearense, foi buscar inspiração no cordel de José Camelo para compor Pavão Mysteriozo, uma das sagas de amor similares à Romeu e Julieta, que conta a história de jovem turco muito rico que resolveu roubar uma condessa e casar-se com ela, independentemente da vontade dos pais e, para isto, mandou construir uma nave em forma de pavão e cumpriu seus objtivos.

Ao contrário de Romeu e Julieta, esta saga tem um final feliz. Ednardo compôs esta canção em ritmo de novena, que no Ceará é mais lento apara acentuar um clima de lamento. O Lp “Ednardo – O Romance do Pavão Mysteriozo” foi gravado em 1974, pela RCA Victor. Em 1976, a música foi tema da novela Saramandaia.

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PAVÃO MYSTERIOSO
Ednardo

Pavão misterioso, pássaro formoso,
tudo é mistério nesse teu voar
Ah, se eu corresse assim, tantos céus assim
Muita história eu tinha pra contar

Pavão misterioso, nessa cauda aberta em leque
Me guarda moleque de eterno brincar
Me poupa do vexame de morrer tão moço
Muita coisa ainda quero olhar

Pavão misterioso, meu pássaro formoso,
No escuro desta noite me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas, despeja esse trovão
Desmancha isso tudo que não é certo não

Pavão misterioso, pássaro formoso
Um conde raivoso não tarda a chegar
Não temas minha donzela, nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos, mas não podem voar.

Eu pedi que Figueiredo fosse um “presidente doido”, para consertar este país…

Vicente Limongi Netto

“A Amazônia tornou-se paraíso dos grileiros. Estão acabando com a floresta, matando o “inferno verde”, secando os pulmões de oxigênio do mundo. E os jaris completam a obra dos devastadores da mata, poluindo os rios. O general Figueiredo vem com o propósito de quebrar os dentes dos grileiros. Há um exército clandestino nas matas amazônicas.

Os grileiros têm arsenais de armas e munições. Vangloriam-se das chacinas de roceiros. E quando os próprios posseiros reagem, na defesa do que plantaram, gritam pela imprensa que os “comunistas” são ousados e desejam subverter a ordem. Os grileiros desmatam mais que as saúvas, que as nuvens dos gafanhotos. Os insetos destroem para comer. Os grileiros para saciar a ambição. E esta não tem limites.

Esperamos que o general Figueiredo estabeleça no país o império da justiça. Dando a cada um o que for justo. Isso é tarefa de leão. De leão ou de louco. Dizem que o general é demasiadamente franco. Mas o Brasil precisa é de um presidente doido. Um louco capaz de pôr a nação em ordem. Que não tema o poder de aventureiros, a ditadura da ambição”.

ISSO FOI EM 1978– Parece que escrevi este texto ontem. Mas foi em 5 de outubro de 1978, antes de Figueiredo assumir. Publicado por mim no Correio Braziliense. Creio que é histórico, porque retratou uma realidade tenebrosa e que não se foi resolvida. Pelo contrário, se agravou.

Em resposta a este texto, recebi um cartão do então presidente João Batista Figueiredo, redigido de próprio punho. Estava deixando o governo, em 1984, não tinha esquecido o que escrevi, agradecia minhas palavras e lamentava não ter sido um chefe da nação realmente doido, para enfrentar e solucionar os problemas brasileiros. Sua resposta foi a seguinte:

“Brasília, 22/3/84. Prezado Sr. Vicente Limongi Netto. Obrigado por suas palavras de solidariedade e de incentivo. Já no final do meu governo, cheguei à conclusão de que não tenho sido doido no nível necessário. Vou me empenhar a fundo para consegui-lo. Um abraço do João Figueiredo”.

Faltava quase um ano para terminar o mandato, mas ele não conseguiu ser suficientemente doido. É pena.

 NADA MUDA – O tempo passa e nada muda. Agora estamos perplexos com a posição dúbia de Lula com relação às eleições presidenciais na Venezuela. A combinação não poderia ser mais estapafúrdia. Lula acende vela a Deus e manda o PT acender outra, ao diabo, declarando apoio a Nicolás Maduro. 

De quebra, Lula faz marola, e pede conselhos a Joe Biden. É o fim da picada. Seria cômico se não fosse trágico.  O asqueroso, sanguinário e truculento ditador Nicolás Maduro, prende e arrebenta, e o governo brasileiro bota o rabo entre as pernas.  O governo age como se o Brasil fosse uma republiqueta. As tais atas são os boletins das urnas. Desculpa esfarrapada de Lula manda esperar por elas.

Até os buracos dos asfaltos das ruas sabem que a demora é para enganar trouxas e ingênuos, que acreditam que existe eleições limpas e democráticas na Venezuela. Maduro mandou Lula tomar chá de camomila. O presidente exagerou nos bules e nas xícaras e perdeu o rumo. Corre o risco de apequenar o cargo.  Aliás, já apequenou.

Apregoando “nada de anormal”, Lula comete grande erro ao defender Maduro

Lula disse que cabe à Justiça decidir sobre resultado

Pedro do Coutto

O presidente Lula se manifestou nesta terça-feira pela primeira vez sobre a eleição na Venezuela, após Nicolás Maduro ter sido reconduzido à Presidência em um processo contestado. “Não tem nada de grave, nada de assustador”, disse Lula. A declaração foi feita em entrevista à Rede Matogrossense, afiliada da TV Globo, e antecedeu a viagem do presidente aos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nesta quarta-feira.

Lula também comentou sobre a nota divulgada pelo PT,que considerou a eleição pacífica, democrática e soberana. Para Lula, o comunicado do partido, que foi criticado por petistas, é um “elogio ao povo venezuelano pelas eleições pacíficas”.

ERRO – Ao dizer que em sua opinião não encontrou nada de anormal na Venezuela, o presidente Lula cometeu um dos maiores erros de sua vida e também de sua visão internacional dos fatos.

Omitiu, por exemplo, os vários atingidos em consequência de protestos em Caracas, com mais de setecentas pessoas presas, multidões no meio das ruas exigindo a verdade das urnas. Como é possível o presidente da República ter dado essa declaração fora da realidade? O assessor especial para política externa do Palácio do Planalto, Celso Amorim, e o Itamaraty afirmaram que o Brasil aguarda a publicação do resultado oficial das eleições na Venezuela pelo Conselho Nacional Eleitoral.

PRAZO –  Segundo o calendário eleitoral, o órgão sob o comando chavista tem até sexta-feira para fazer isso. Ao contrário do que declarou Lula, alegando normalidade nas eleições venezuelanas, o Itamaraty orientou a embaixadora brasileira no país a não ir ao evento de proclamação do resultado da vitória de Maduro.

Lula também prejudicou o seu diálogo com Joe Biden que tem a visão oposta. Vários países do continente estão reprovando o comportamento de Maduro. É uma situação incompreensível essa que se coloca, assim como a posição do PT a favor da vitória de Maduro. Lula aposta no caminho do absurdo nesse caso.  Não há cabimento em suas declarações. Lula sai em socorro de Maduro comprometendo a si próprio.

Um canto de amor ao Brasil que se tornou eterno e jamais será esquecido

Tribuna da Internet | A paixão jovem de Gonçalves Dias, quando a amada  estava entre menina e mulherPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, jornalista, etnógrafo, teatrólogo e poeta romântico maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-1864) é o maior fenômeno de intertextualidade da cultura brasileira.

A “Canção do Exílio” escrita em 1843, em Coimbra, onde o poeta estudava, transformou-se num ícone múltiplo. Representa, antes de tudo, a saudade (e a idealização) da terra natal, um sentimento universal e sem idade. Além disso, tornou-se a expressão do nacionalismo num país que acabara de conquistar sua independência política.

Canto singelo de louvor à pátria, a canção é o poema mais citado na literatura e na música popular brasileira. De quebra, trouxe para nosso imaginário a figura do sabiá, pássaro também identificado com a nação brasileira. Gonçalves Dias já o via como uma referência mítica, além do substantivo comum. Tanto que escreve o sabiá com inicial maiúscula.

CANÇÃO DO EXÍLIO
Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso Céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá

TSE manda concluir a investigação contra Bolsonaro por ataques às urnas

charge carmem lucia boa | Jornal Ação Popular

Charge da Pryscila (Arquivo Google)

Carlos Newton

A ministra Cármen Lúcia, que assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral em 3 de junho, já mostrou que vai conduzir o TSE em estilo bem diferente do adotado por seu antecessor Alexandre de Moraes. Uma de suas decisões foi mandar concluir as investigações pendentes e que se arrastam no âmbito do chamado Inquérito do Fim do Mundo, aquele que não acaba nunca.

Dentro dessa nova estratégia, o corregedor-geral eleitoral, ministro Raul Araújo, fixou um prazo de cinco dias para a Polícia Federal concluir o inquérito administrativo que tem como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por ataques ao sistema eleitoral brasileiro. 

FICOU NA GAVETA – Araújo tomou a decisão em 28 de junho, mas estranhamente ela só foi publicada no Diário de Justiça Eletrônico na última quarta-feira, 24 de julho, e dois dias depois a Polícia Federal anunciou ter encontrado documentos ligando o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, delegado Alexandre Ramagem, a um complô para desmoralizar a urna e abrir caminho para um golpe de estado, caso o então oposicionista Lula da Silva vencesse a eleição de 2022, como viria a acontecer.

Realmente, desde 2021, quando foi aberto o inquérito, o então presidente Jair Bolsonaro vinha alegando que havia obtido votos suficientes para ganhar o pleito de 2018 já no primeiro turno, mas teria sido vítima de um complô. 

Esses novos documentos encontrados na última busca e apreensão mostram que o incentivador de Bolsonaro era Alexandre Ramagem. Como diretor-geral da Abin, ele incitava Bolsonaro, dizendo estar convicto de que tinha havido fraude eleitoral em 1028.

BOLSONARO ATACA – Ao invés de exigir que a Abin provasse a fraude eleitoral, Bolsonaro partiu logo para o confronto com o TSE e o Supremo.

Sem que Ramagem lhe passasse qualquer prova, o então presidente transformou o ataque à urna eletrônica num escândalo internacional, que Nicolás Maduro acaba de citar, na semana passada, ao  denunciar as tais fraudes inas eleições brasileiros, vejam bem o problema que se criou pela irresponsabilidade de Ramagem e pela insensatez de Bolsonaro.

Agora, a Polícia Federal, atandendo à ordem de Cármen Lúcia, enfim vai concluir o inquérito e encaminhá-lo ao Ministério Público Federal, para denunciar Bolsonaro, Ramagem e quem mais estiver envolvido.

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P.S. –
A grande dúvida é saber se a Procuradoria pedirá a prisão preventiva de Bolsonaro e Ramagem. Na minha opinião, não haverá prisão e será permitido que os réus respondam a processo em liberdade. (C.N.)

Venezuela: oposição diz ter provas de que venceu eleição com 73% dos votos

“Nosso presidente eleito é Edmundo González Urrutia”, diz  Corina

Pedro do Coutto

É evidente que o presidente Nicolás Maduro foi derrotado nas eleições de domingo e mais uma vez recorreu à fraude para se manter no poder. María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, afirmou que o grupo pode provar ter vencido as eleições. “Se eles [governo Maduro] entregarem as atas de votação verdadeiras, as que eles publicaram, imprimiram e que são as que nós temos, eles vão ter que ratificar, vão ter que corrigir a verdade que eles viram ontem nas ruas”, disse.

Com base nas atas de votação que a oposição tem, a líder informou que González teve 6,270 milhões de votos, contra 2,759 milhões de Maduro. “Ainda que o CNE decidisse que 100% dos votos das [atas] que faltam são para Maduro, elas não seriam suficientes para mudar o resultado. Com o que nós já temos, a diferença foi tão grande, foi uma diferença avassaladora”, ressaltou.

INVESTIGAÇÃO – María Corina foi impedida de concorrer ao pleito. Ela é investigada pelo Ministério Público da Venezuela (ligado a Maduro) por tentar fraudar o sistema eleitoral e adulterar as atas da eleição, que são como boletins de urna. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país disse que Nicolás Maduro venceu a eleição com 51,2% dos votos, com 80% das urnas apuradas.

A oposição acusa o governo de fraude e não reconhece a decisão do CNE de dar a vitória a Maduro. O governo nem sequer se preocupou em apresentar qualquer prova de sua vitória, limitando-se a proclamar a sua reeleição a partir de um comunicado sem base na realidade e apenas fundamentou-se numa publicação contestada pelo próprio eleitorado do país.

Até a tarde de ontem, sete pessoas haviam morrido em protestos e mais de cinquenta ficaram feridas.  Além disso, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou nesta terça-feira que 749 pessoas já foram detidas em protestos contra a reeleição de Nicolás Maduro.

MANIFESTAÇÃO –  Como sempre, Rússia e China reconheceram a vitória de Maduro. Da mesma forma, de forma incompreensível, o PT desconhecendo a posição do próprio governo brasileiro reconheceu a versão de Maduro. Oito países latino-americanos já se manifestaram contra Maduro enquanto o Exército venezuelano comunicou o seu apoio incondicional ao atual governo.

Lula só deve se pronunciar publicamente após se encontrar pessoalmente com o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, enviado para acompanhar as eleições na Venezuela. Ele retornou nesta terça-feira ao Brasil. No início da semana, Amorim se reuniu com Maduro.  

O Brasil vem destacando a necessidade do governo venezuelano mostrar a transparência no pleito, especialmente por meio da divulgação das atas. Mas Maduro não pode publicar as atas simplesmente porque a fraude será mais evidente ainda. Assim a posição do governo brasileiro dificilmente poderá ser de apoio a Maduro, o que coloca o país numa colocação difícil.

A essência do amor, na visão poética de Aurélio Buarque de Holanda

Por trás do dicionário, um coração de poeta

Paulo Peres
Poemas & Canções

O lexicógrafo e escritor alagoano (3/5/1910-28/2/1989) também usou as palavras para nos brindar com suas poesias, como este belo soneto de amor.

AMAR-TE
Aurélio Buarque de Holanda

Amar-te – não por gozo da vaidade,
Não movido de orgulho ou de ambição,
Não a procura da felicidade,
Não por divertimento à solidão.

Amar-te – não por tua mocidade
– Risos, cores e luzes de verão –
E menos por fugir à ociosidade,
Como exercício para o coração.

Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem amanhã, sem ontem, sem mesquinha
Esperança de amor, sem causa ou rumo.

Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.

Atuação de Maduro faz lembrar eleições durante a ditadura brasileira de 1964

Geisel, o presidente desconhecido | GZH

General Geisel decidiu criar os senadores biônicos

Roberto Nascimento

Um exemplo de ditador que não respeita o resultado das urnas, como o venezuelano Nicolas Maduro, se deu no Brasil. Era o ano de 1976 e o regime militar estava muito desgastado. Nas eleições de outubro de 1974 o MDB derrotara afrontosamente a Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido dos militares.

O MDB elegeu 21 governadores e a maioria dos senadores. Só perdeu em Alagoas, terra hoje dominada por Arthur Lira e Renan Calheiros, onde então pontificava Teotônio Vilella, da Arena do bem.

PACOTE DE ABRIL – Pois bem, o presidente era o general Ernesto Geisel, ditador de plantão, que não se fez de rogado nem passou recibo. Deixou terminar os anos de 1975 e 76, sabia que ia perder de novo em 1978. Por isso, em abril de 1977 lançou um Pacote ditatorial, fechou temporariamente o Congresso e nomeou 21 senadores biônicos, nomes escolhidos a dedo pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), a Abin daquela época.

Com isso, Geisel restabeleceu sua maioria no Senado e tocou o barco para a frente, até entregar o governo a João Figueiredo, o último presidente militar, que devolveu o poder aos civis.

Dou esse exemplo do passado, para que possamos pensar no futuro, já em 2026. O PL de Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto trabalha dia e noite para eleger senadores suficientes para obterem maioria no Senado. A meta é contar com metade mais um dos senadores, que seguiriam as ordens de Bolsonaro.

OS OBJETIVOS – Se até lá o Congresso não aprovar a anistia de Bolsonaro e envolvidos no 8 de Janeiro, essa nova bancada seria encarregada de fazê-lo e de votar também impeachment de ministros do Supremo, impor mandato para os atuais e futuros ministros e eliminar as decisões monocráticas.

No primeiro momento vão focar no Supremo, mas numa segunda etapa vão colocar um garrote em todas as pautas que chegarem ao plenário do Senado e não forem do interesse bolsonarista.

O que pode atrapalhar esse plano megalomaníaco é a votação do regime semipresidencialista, que parece já estar em vigor informalmente. A tendência é de que futuros presidentes se transformem em rainhas da Inglaterra, por terem de se submeter à ditadura do Legislativo, simultaneamente à ditadura do Judiciário, que já dá as cartas na Praça dos Três Poderes.

Aproveitamento bestial de “A Santa Ceia” na Olimpíada merece uma boa vomitada

Vídeo: Santa Ceia com drags nas Olimpíadas desperta ira de parlamentares de direita - Super Rádio Tupi

Esta imagem é claramente inspirado em “A Santa Ceia”

Carlos Newton

Como sempre, os artigos de Luiz Felipe Pondé despertam polêmicas e sofrem elogios e críticas. Sempre os transcrevo com extrema satisfação, embora às vezes não concorde inteiramente com suas posições. Nesses anos todos, só tive uma divergência séria, e cheguei até a contestá-lo, quando o grande filósofo defendeu a tese de que é melhor para as famílias internar o idoso numa clínica geriátrica, do que cuidar dele em casa.

À época, eu estava cuidando de minha mãe (98 anos) e do irmão dela (93 anos) e tinha visitado as melhores casas de repouso do Rio, e a melhor era a Clínica da Gávea, onde ficou Cazuza, realmente espetacular, algo de Primeiro Mundo.

Mas não adianta o luxo e o atendimento, porque o idoso sempre se sente verdadeiramente abandonado. Por isso, fiz o contrário do que Pondé recomendava e me sinto bem assim, minha mãe morreu aos 100 anos e meu tio aos 97 anos.

A SANTA CEIA – Radicado desde jovem em São Paulo, depois de uma experiência num kibutz em Israel, o pernambucano Pondé tornou-se um pensador universal, num mundo desencontrado e carente de ideias e raciocínios.

Agora, ele causa polêmica por seus comentários ao aproveitamento da fabulosa “Santa Ceia”, de Leonardo Da Vinci, satirizada na abertura da Olimpíada por algum criativo copiador de mestres como Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, Marco Ferreri e Jean-Luc Godard.

Pra colocar mais fogo no debate, apresento a obra O Banquete dos Deuses, obra de Jan van bijlert em que Dionísio está se divertindo. Não lhes parece que a cena retratada nas

O diabo (à dir.) é o personagem principal

Quando surgiu a fortíssima reação mundial a esse exagero na liberdade de criação, os bestiais autores dessa contrafação tentaram se desculpar, alegando que o estranho vídeo não tem nada a ver com a obra de Da Vinci, e teria sido inteiramente inspirado na pintura “O Banquete dos Deuses” do holandês Jan Van Bijlert, criada no século XVII, na qual o diabo aparece dançando, como personagem principal.

BOA DESCULPA? – À primeira vista, até parece uma alegação procedente, mas é como remédio e precisa de bula para seu efeito ser entendido. Assim, a drag queen de resplendor na cabeça seria o deus grego Apolo, que está sentado ao centro da mesa e tem também um resplendor como auréola, vejam a que ponto de descaramento chegamos.

Já o espalhafatoso comilão que aparece nu, pintado de azul, representaria o deus Dionísio, ou Baco para os romanos, que mais adiante aparece no vídeo à frente da mesa, comendo um cacho de uvas.

O banquete dos deuses, pintura do teto do namoro e casamento de detalhe do fresco de Cupido e Psique de 57688 de Raffaello Sanzio Raphael

O verdadeiro “Banquete dos Deuses”, de Rafael, é genial

A desculpa é mais amalucada do que a própria criação. Primeiro, porque esse tipo de audiovisual nada tem a ver com Olimpíada, pois reproduz apenas uma festa no puteiro. Segundo, porque a base do vídeo é justamente a Santa Ceia, que aparece reproduzida no início e vai-se transfigurando para se transformar numa adulteração do verdadeiro “Banquete dos Deuses”, que é um afresco do mestre Rafael Sanzio, sobre o casamento de Cupido e Psique, pintado também no Renascimento, como “A Santa Ceia”, vejam como esses idiotas conseguem errar até na autoria dos quadros que dizem lhes servir de inspiração, valha-nos Deus.

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P.S.
Feitos esses esclarecimentos, vai daqui um abraço a Luiz Felipe Pondé, que era ateu, mas na terceira idade fez as pazes com a religião, de uma forma digna, sem os exageros dos carolas. (C.N.)

Maduro vence eleição, mas oposição contesta e aponta fraude ‘grosseira’

Oposição que avaliar supostas modificações feitas nos resultados

Pedro do Coutto

Como era esperado, enquanto Nicolás Maduro afirmava ser vitorioso nas eleições realizadas neste domingo, a oposição o acusava de desrespeito às regras eleitorais, inclusive quanto à apuração. Na madrugada de ontem, o Conselho Nacional Eleitoral daquele país anunciou que Maduro venceu as eleições presidenciais, mas os resultados foram contestados pela oposição, que disse ter havido fraude “grosseira” para modificar os números.

Segundo o presidente do CNE, Elvis Amoroso, Maduro obteve 51,2% dos votos, contra 44,2% do opositor Edmundo González, com 80% das urnas apuradas. O anúncio aconteceu pouco depois da meia-noite em Caracas. Amoroso, um aliado de Maduro, disse que a tendência da apuração era “contundente e irreversível”. O presidente do CNE também disse que o país investigará “ataques terroristas” ao sistema eleitoral aos quais atribuiu o atraso na divulgação.

AVALIAÇÃO – Momentos depois do anúncio, a principal líder da oposição, María Corina Machado, inabilitada para exercer cargos públicos e apoiadora de González, contestou o resultado.

“Ganhamos em todos os Estados do país e sabemos o que aconteceu hoje. Cem por cento das atas que o CNE transmitiu nós temos e toda essa informação aponta que Edmundo obteve 70% dos votos”, disse Machado a jornalistas. Ela acrescentou avaliar que as supostas modificações feitas nos resultados haviam sido “grosseiras”.

O embate prenuncia mais tensão nos próximos dias na Venezuela, sob acompanhamento dos países vizinhos e dos EUA. O Itamaraty divulgou uma nota ontem afirmando que o governo brasileiro aguarda “a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

A nota diz ainda que o governo brasileiro “saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração”, além de reafirmar “o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”. O presidente Lula da Silva ainda não se pronunciou sobre o tema.

OBSERVAÇÃO – O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que seu país tem “sérias preocupações” sobre o resultado anunciado. “A comunidade internacional está observando isso de perto e responderá de acordo”, afirmou Blinken. O presidente chileno, Gabriel Boric, questionou abertamente os resultados e disse que o Chile só reconhecerá números “verificáveis”. Os presidentes da Colômbia e México – ambos de esquerda como Boric – ainda não haviam dado declaração até o momento em que escrevo esse artigo.

Esse tumultuado desfecho era aguardado pelos observadores internacionais no momento em que sabiam que Maduro não iria convocar eleições para perdê-las. Agora, veremos as consequências da possível farsa que foi montada mais uma vez.

O palco iluminado de Orestes Barbosa, que jamais será esquecido

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Orestes era um letrista que virou lenda

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta carioca Orestes Barbosa (7/5/1883 – 15/8/1966) é o letrista da antológica canção “Chão de Estrelas”, que Silvio Caldas musicou e gravou em 1937, pela Odeon. Um poema que jamais esqueceremos.

CHÃO DE ESTRELAS
Silvio Caldas e Orestes Barbosa

Minha vida era um palco iluminado,
Eu vivia vestido de doirado,
Palhaço das perdidas ilusões,
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia,
Entre as palmas febris dos corações.

Nosso barracão no morro do Salgueiro,
Tinha o cantar alegre de um viveiro,
Foste a sonoridade que acabou!
E hoje, quando do sol, a claridade,
Forra o meu barracão, sinto saudade,
Da mulher pomba-rola que voou…

Nossas roupas comuns dependuradas,
Na corda qual bandeiras agitadas,
Pareciam um estranho festival,
Festa dos nossos trapos coloridos,
A mostrar que nos morros mal vestidos,
É sempre feriado nacional…

A porta do barraco era sem trinco,
Mas a lua furando nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão,
Tu pisavas nos astros distraída,
Sem saber que a alegria desta vida,
É a cabrocha, o luar e o violão.

Maduro gozou Lula, porque a urna da Venezuela é mais segura do que a nossa

Eleições na Venezuela: 'Farei com que se respeite o resultado eleitoral', diz Maduro após votar em Caracas

Sempre discreto no trajar, Maduro deposita o voto impresso

Carlos Newton

O sistema eleitoral da Venezuela é melhor do que o brasileiro e deveria ser adotado por nós. É uma verdade inquestionável e que agrada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a aprovar na Câmara um projeto de voto impresso, quando era deputado federal. A proposta de Bolsonaro era acoplar uma impressora à urna, para registrar o voto do eleitor, que então seria por ele depositado numa urna suplementar, como se faz na Venezuela.

O sistema é mais confiável do que o brasileiro, porque o eleitor confirma se votou certo e fica em aberto a possibilidade de a Justiça Eleitoral confrontar se os votos impressos coincidem com os da urna eletrônica, que realmente valem.

AUDITAGEM – O ponto principal é a auditagem. Sabe-se que na urna brasileira a auditagem é dificultada, como Nicolás Maduro afirmou semana passada, ao ironizar a declaração de Lula sobre o pretendido “banho de sangue”.

Na verdade, ainda não inventaram uma eleição imune a fraudes. E não importa se o voto é impresso ou eletrônico. O que interessa é se há  fiscalização. Quando os fiscais são livres para atuar, torna-se praticamente impossível fraudar. É por isso que a maioria dos países ainda não adotou a urna eletrônica. Na nossa matriz USA, por exemplo, depende do Estado.

No caso da Venezuela, houve bloqueio à fiscalização. No final da votação, quando as varas eleitorais foram fechando na noite de domingo, a oposição denunciou que seus fiscais não conseguiram entrar, embora esse acesso tivesse de lhes ser garantido ainda durante o período da votação.

FRAUDE GROTESCA – Assim, é impossível defender a lisura da eleição de Maduro, como os presidentes da Rússia, China e outros países se apressaram a fazer, sem levar em consideração os seguintes fatos inquestionáveis:

1) Os fiscais da oposição e observadores internacionais não tiveram direito a supervisionar a contagem dos votos impressos e o cotejo com a urna eletrônica;

2) A eleição foi anunciada quando só tinham sido contados 80% dos votos;

3) O Conselho Nacional Eleitoral proclamou a vitória do presidente sem apresentar as atas de votação;

4) O procurador-geral alegou que as atas não foram apresentadas devido a ataques de hackers.

5) A oposição não teve acesso aos votos em papel em grande parte dos colégios eleitorais, o que teria impedido a auditoria efetiva

6) O resultado de 51,21% foi para mostrar que Maduro tem apoio da maioria absoluta dos cidadãos.

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P.S. – Se você ainda acredita na lisura das eleições venezuelanas, por favor nos forneça o telefone de Papai Noel, porque gostamos de nos antecipar nos pedidos de Natal. (C.N.)

Deputado que se julga importante entrou falando grosso e saiu falando fino

Ignorância e arrogância são duas irmãs insepar... - Giordano Bruno - FrasesVicente Limongi Netto

A arrogância e a ignorância são armas torpes e desprezíveis, muito usadas por patéticos homens públicos, para pisar nas demais pessoas. Algumas vezes o feitiço volta-se contra o feiticeiro, porque ele não tem como escapar de um certeiro tiro no pé. Foi o que aconteceu com um poderoso deputado, autêntico cancro da política alagoana.

Insatisfeito com o tratamento do noticiário do Metrópoles, o figurão marcou encontro com o dono do portal de notícias. Data marcada, foi à sede do Metrópoles.

DONO DA VERDADE – Com a habitual nariz empinado, antipático e dono da verdade de meia pataca, o insolente engomado teve a audácia de fazer críticas a linha editorial do Metrópoles, desacatando alguns de seus profissionais.

Prontamente recebeu o troco duro e merecido do anfitrião, que exigiu respeito e devolveu as ofensas do pretensioso parlamentar. Alinhou algumas verdades ao leviano visitante, levantou-se e foi embora.

Ao sair, sugeriu para o deplorável deputado se queixar, caso desejasse, à editora-chefe do portal, presente na reunião que durou apenas alguns minutos. Dizem que o castigo vem a cavalo. Mas, para o asqueroso deputado, veio na lata. 

MADURO DEMAIS – O desprezível Nicolás Maduro continua debochando do mundo civilizado. Pisa na democracia. Humilha adversários. Despreza o resultado das urnas. Desrespeita e agride a vontade popular. 

Antipático, cretino e repugnante, continuará impune. Enxovalhando o judiciário e direitos do povo. Mandando quem esteja indignado e insatisfeito, tomar chá de camomila. A começar por Lula. 

Inacreditável que ninguém tenha poder, força e coragem para expulsar o patife Maduro da presidência da Venezuela.

RECORDE INDECENTE – O excelente Cláudio Humberto revela, no Diário do Poder, que o indecoroso e patético Davi Alcolumbre (União-AP) é senador recordista absoluto em gastos de dinheiro público. São despesas a título de “divulgação da atividade parlamentar”.

Essa vestal grávida do Amapá ainda pretende voltar à presidência do Senado e do Congresso. É o fim da picada. O finório Davi ganha fácil a medalha do cinismo e cara de pau. Desde 2015, recorda Cláudio Humberto, quando entrou no senado, Alcolumbre já torrou 2,35 milhões de reais apenas com a famigerada “divulgação da atividade parlamentar”.

O colunista salienta,  por fim, que na presidência do senado, Alcolumbre ignorou a lei de acesso à informação e tornou secretas as notas de senadores. Depois, teve que recuar na estupidez.

Contagem relâmpago dos votos aumenta a suspeita de fraude na Venezuela

Maduro, presidente desde 2013, declarou-se vencedor

Pedro do Coutto

Os venezuelanos compareceram às urnas neste domingo para eleições presidenciais repletas de tensão para decidir entre a continuidade do chavismo, que está no poder há 25 anos, ou a mudança prometida por uma oposição unida e esperançosa.

Nicolás Maduro, de 61 anos, e na Presidência desde 2013, foi declarado vencedor de um terceiro mandato de seis anos no momento em que o país tenta sair de uma profunda crise econômica e humanitária que contraiu o Produto Interno Bruto em 80% e empurrou mais de sete milhões de pessoas para o êxodo.

Seu rival era o diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos, relativamente desconhecido antes da campanha, que representa a carismática e popular líder opositora María Corina Machado, impedida de concorrer devido a uma inabilitação política. Maduro declarou neste domingo que os resultados seriam respeitados.

“GARANTIA” – “Reconheço e reconhecerei o árbitro eleitoral, os boletins oficiais e farei com que sejam respeitados”, disse Maduro após votar em Caracas. “Palavra sagrada a do árbitro eleitoral, e peço aos 10 candidatos presidenciais (…) a respeitar, a garantir o respeito e a declarar publicamente que respeitarão o boletim oficial do Conselho Nacional Eleitoral”, acrescentou.

Porém, há alguns dias, Maduro declarou “Paz ou guerra” ao definir o que, na opinião dele, estaria em disputa nesta eleição. Antes, o chavista alertou que uma vitória da oposição poderia provocar um “banho de sangue”, o que rendeu críticas dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Chile, Gabriel Boric, entre outros.

DENÚNCIAS DE FRAUDE – A contagem rápida demais dos votos aumentou as suspeitas de fraude, e a oposição não reconhece a derrota para Nicolás Maduro.

A contagem dos votos impressos é manual, o que dá margem a que, por exemplo, votos em branco sejam transformados em votos para Maduro.

Aliás, se tiver sido permitido o acompanhamento da contagem por fiscais oposicionistas, o preenchimento de votos em branco para qualquer candidato seria a única forma possível de fraude em eleições como as que ocorreram ontem na Venezuela.

Vamos aguardar o comportamento da oposição.

Para conquistar Sulamita, Rubem Braga se dizia um poeta cristão

Sentiu uma coisa boa dentro de si, uma... Rubem Braga - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Considerado o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, o capixaba Rubem Braga (12/01/1913 – 19/12/1990), sempre afirmou que a poesia é necessária, tanto que escreveu vários poemas, entre eles, esse bem-humorado “Poeta Cristão”.

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POETA CRISTÃO

Rubem Braga

A poesia anda mofina,
Mofina, mas não morreu.
Foi o anjo que morreu:
Anjo não se usa mais.
Ainda se usa estrela
Se usa estrela demais.

Poeta religioso
Mocinha não pode ler:
Pecará em pensamento,
Que o poeta gosta do Novo,
Mas pilha seus amoricos
É no Velho Testamento.

Ai, o Velho Testamento!
Eu também faço poema,
Ora essa, quem não faz:
Boto uma estrela na frente
E um pouco de mar atrás.

Boto Jesus de permeio
Que Deus, nos pratos de amor,
É um excelente recheio.
E isso bem posto e disposto
Me vou aos peitos da Amada:
Sulamita, Sulamita,
Por ti eu me rompo todo,
Sou cavalheiro cristão.
Minh’alma está garantida
Num rodapé do Tristão
E o corpo? O corpo é miséria,
Peguei doença, mas Jorge
de Lima dá injeção!

O badalo está chamando,
Bão-ba-la-lão.

Amada, não vai lá não!
Eu também tenho badalos –
Bão-ba-la-lão
Eu sou poeta cristão!

Moraes enfim tem provas materiais para prender Bolsonaro, mas terá coragem?

Charge do Jota : Prisão do Bolsonaro | Momentos do Reunião de Pauta

Charge do Jota Camelo (Reunião de Pauta)

Carlos Newton

Há pessoas que verdadeiramente dão sorte na vida. Veja-se o exemplo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Acaba de ser agraciado por um surpreendente golpe de sorte justamente quando estava sofrendo as mais duras críticas de sua carreira, devido ao rigor excessivo com que apimenta suas decisões, inclusive as que são claramente errôneas, como a insustentável prisão preventiva de Filipe Martins, ex-assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro.

Moraes acusa Martins de ter fugido para os Estados Unidos, porém já está mais do que provado que ele não saiu de Brasil. A explicação chega a ser comovente – apaixonou-se por uma jovem paranaense, pediu-a em casamento e foi morar em Ponta Grossa, onde foi preso pelos federais na casa do sogro, vejam que é um drama familiar digno de novela das oito.

NO DESESPERO – Moraes e sua força-tarefa policial estavam entrando em desespero, sem provas concretas para processar o ex-presidente Bolsonaro e sua entourage, principal objetivo do Inquérito do Fim do Mundo, aquele que não acaba nunca.

A equipe do Supremo então resolveu fazer mais uma investida da operação Última Milha, que apura compra e uso de software israelense de espionagem pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin. Imitando o chefe de polícia do filme “Casablanca”, Moraes mandou prender os suspeitos de sempre e fazer buscas.

O resultado foi surpreendente, porque os federais descobriram que Alexandre Ramagem guardava provas que poderiam incriminá-lo, ao invés de destruí-las.

PROVAS MATERIAIS – Agora, acabou chorare, como dizia Bebel Gilberto. Enfim, há provas materiais de que o delegado federal Alexandre Ramagem integrava um complô junto com o então presidente da República.

O mais incrível é que Ramagem não participava como subalterno, e sim como mentor, atiçando o então presidente Bolsonaro a comprar aquela briga feia com o TSE e o Supremo, que inicialmente acabou lhe custando uma multa e a inelegibilidade, mas agora pode conduzi-lo à prisão.

Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do sr. (presidente Bolsonaro) no primeiro turno. Todavia, ocorrida na alteração de votos”, argumentou irresponsavelmente Ramagem, em mensagem a Bolsonaro, como se tivesse alguma prova de fraude eleitoral. E não tinha nenhuma.

MUDOU TUDO – Com essas novas provas, o ministro Moraes enfim tem condições de prazerosamente enquadrá-los como autores de atentado contra o Estado Democrático de Direito (Lei nº 14.197), uma legislação promulgada pelo próprio Bolsonaro, em 1º de setembro de 2021.

Como todos sabem é a lei preferida do ministro Moraes, que revela um prazer inexcedível em aplicá-la, tendo conseguido transformar o Supremo numa verdadeira fábrica de falsos “terroristas”.

Resta saber se Moraes vai realmente tocar isso em frente. Há claras evidências de que diversos oficiais-generais apoiavam entusiasticamente as maluquices de Bolsonaro e Ramagem, inclusive permitindo e incentivando aqueles acampamentos em áreas dos quartéis.

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P.S.
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E aí, o ministro vai prender os líderes civis do golpe e deixar os militares à solta, incluindo o grande mentor Braga Netto? Aliás, Moraes tem problema até para prender Ramagem, que é deputado federal e só pode ser preso com autorização da Câmara. No meio dessa confusão institucionalizada, vida que segue, como dizia João Saldanha. (C.N.)

Contas do governo fecham com déficit de R$ 68,7 bi no semestre

O resultado foi atingido após o fechamento do balanço de junho

Pedro do Coutto

As contas do governo brasileiro no primeiro semestre deste ano apresentaram um déficit de R$ 68,7 bilhões, muito acima do que os técnicos da Fazenda e do Planejamento vinham prevendo, comprovando que uma coisa é a teoria e outra é a realidade. Houve uma piora em relação ao mesmo período de 2023, quando o rombo foi de R$ 43,2 bilhões em valores nominais –variação de 58,9%. O resultado é o pior para o período desde 2020, ano em que teve início a pandemia de covid-19. Naquele momento, o rombo atingiu R$ 417,3 bilhões em valores correntes.

O Tesouro Nacional divulgou o balanço nesta sexta-feira. Na prática, o rombo apresentado dificulta a missão do governo em cumprir a meta fiscal para 2024, que estabelece déficit zero. Na última semana, a equipe econômica aumentou a projeção de rombo em 2024, de R$ 14,5 bilhões para R$ 32,6 bilhões.

MARGEM – A nova projeção ultrapassa a margem permitida para o ano. Por isso, o governo fará um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no Orçamento. Assim, a estimativa se mantém no limite do intervalo de tolerância –0,25 ponto percentual do PIB para cumprir a meta. Em valores nominais, o governo pode gastar até R$ 28,8 bilhões a mais que as receitas em 2024.

Mesmo com os fatos confrontando-se com o almejado pelo governo, não se pode-se dizer que o esforço do ministro Fernando Haddad para equilibrar as contas públicas não seja importante, mas diversas questões presentes impõem condições que vão muito além da vontade.

No Rio, ao deixar a entrevista coletiva de encerramento do encontro de ministros de Finanças do G20, o titular da Fazenda evitou avaliar se o déficit verificado nas contas do governo no primeiro semestre tornará necessários novos congelamentos no Orçamento deste ano, para cumprir a meta do arcabouço fiscal.

AVALIAÇÃO – Segundo Haddad, a decisão sobre eventuais novos congelamentos será feita a cada avaliação bimestral das contas públicas. “A cada bimestre vamos divulgar, como está previsto na lei. A cada bimestre, se houver necessidade, contingência ou bloqueio”, afirmou.

Apesar de as receitas líquidas do governo (ou seja, após as transferências para estados e municípios) terem subido 8,5% acima da inflação, as despesas cresceram mais. Os gastos do governo federal foram 10,5% maiores neste ano do que em 2023, isso já descontando a inflação do período.

As contas do governo são inadiáveis, a exemplo do INSS e dos compromissos salariais com o funcionalismo público. São compromissos inalteráveis. De qualquer forma, é possível que o governo estabeleça medidas práticas de contenção, mas sem poder agir no campo da fantasia. Quando os técnicos sentam na mesa, verificam que surge um impasse entre o que desejam e o que acontece. Esse é o cenário contra o qual nada se pode fazer.

Para acalmar os ânimos, uma deliciosa valsinha, de Chico Buarque e Vinicius

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Chico e Vinicius jogando futebol de botões

Paulo Peres
Poemas & Canções

Chico Buarque e Vinícius de Moraes (19/10/1913 – 09/07/1980), uma dupla cuja obra traz uma beleza poética infinita, que dispensa quaisquer adjetivos e, neste diapasão, a música Valsinha gravada por Chico Buarque, no LP Construção, em 1971, não foge à regra.

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VALSINHA
Chico Buarque e Vinicius de Moraes

Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto
Era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto,
Pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como
há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
E começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Foi “comovente” e teatral o telefonema de Obama a Kamala, um diálogo sublime

Obama e Michelle ligam para Kamala Harris e endossam sua candidatura

Obama e Michelle ligaram para endossar a candidatura

Vicente Limongi Netto

Tentei, em vão, segurar as lágrimas. O telefonema de Obama para Kamala foi emocionante e poético. Salvou o dia de editores, analistas e repórteres. Meu coração acelerou. O mundo inteiro parou, para ouvir o sublime diálogo. Marcante e terna, a fraternal e desinteressada amizade entre os dois formidáveis norte-americanos. 

A encenação mereceu elogios de expressivos diretores de cinema. A empostação de voz dos dois foi notável. A apresentadora da Globonews ficou em transe. Com cativante sorriso e olhos bem abertos, chamou o acontecimento telúrico de “momento histórico”.

EX-DONO DO PARTIDO – A boa coluna “Do alto da Torre”(Jornal de Brasília – 26/07) informa que, com a saída do ex-dono do partido Cidadania, Roberto Freire, aquele outro prócer brasiliense, que foi reitor, governador, senador e ministro, pretende mudar o nome da agremiação.

Bem, mudanças costumam ser alvissareiras. Conversei com dezenas de eleitores brasilienses sobre o assunto. Todos concordam com a iniciativa. Querem, nessa linha, que o Cidadania se torne mais dinâmico e conhecido e listam nomes capazes de valorizar e dar novo alento partido capenga, que está federalizado no PSDB.

Os nomes sugeridos foram “Triste”, “Patético”, “Ruim”, “É o fim da picada”, “Melancólico”, “Lascado”, “Pretensioso”, “Sonolento”. Todos são alguns significativos e fortes, sugeridos pela população e capazes de levar o partido, com nova sigla, a conquistar vitórias esmagadoras nas urnas.  

REITOR, MESMO – Falei num falso reitor e lembrei um reitor de verdade, José Carlos Azevedo, que estaria hoje com 92 anos. Honrou e dignificou a vida e todas as funções que ocupou. Com inegável brilho, isenção, rigor e competência. Escreveu para jornais e revistas. Fez palestras e conferências no Brasil e no exterior. 

Em artigo de 1984, antevia com invulgar sabedoria: ” Já não comove ninguém dizer que as deficiências da educação brasileira se devem à falta de recursos: há problemas mais graves e essenciais que geram os demais e transformam nosso sistema educacional num sorvedouro sem fim de dinheiro”.

Naquela época, o ex-reitor da Universidade de Brasília também salientava: ” É essencial insistir no aprimoramento e na universalização do ensino no Brasil, porque, se isso não for possível, a própria nação ficará em perigo. Até hoje, nenhuma nação de incompetentes conseguiu prover o progresso e o bem-estar de seus filhos”. 

Kamala reduz distância para Trump em nova pesquisa do NY Times

Antes, Trump tinha vantagem expressiva sobre Biden

Pedro do Coutto

Nos Estados Unidos, o crescimento da candidatura de Kamala Harris esquentou o plano principal da disputa na medida em que encurtou a distância em relação a Donald Trump. Uma pesquisa do New York Times/Siena College confirmou o cenário de equilíbrio na disputa pela Presidência dos Estados Unidos.

Entre eleitores registrados, Donald Trump aparece com 48% das intenções de voto, contra 46% de Kamala Harris. No universo de eleitores prováveis, os índices são, respectivamente, de 48% e 47%. Em ambos os casos, há empate técnico, uma vez que a margem de erro é de 3,3 pontos percentuais para eleitores registrados e de 3,4 pontos para eleitores prováveis.

CENÁRIO POSITIVO – Trata-se de um cenário mais positivo para os democratas em comparação com a sondagem do início de julho, na qual o presidente Joe Biden aparecia seis pontos atrás de Trump entre eleitores prováveis, logo após um debate televisivo desastroso para o democrata. Considerando apenas os eleitores já registrados, a vantagem de Trump sobre Biden no pós-debate era de nove pontos. Trump já é oficialmente o candidato do Partido Republicano à Casa Branca, enquanto Kamala ainda precisa ser nomeada formalmente pelo Partido Democrata – o que deve acontecer até o início de agosto.

As eleições nos Estados Unidos não são decididas por maioria simples de votos, mas por um colégio eleitoral formado a partir da votação dos candidatos em cada um dos 50 estados. Ou seja, ter o maior número de eleitores nem sempre é suficiente para a vitória. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton somou 48% do voto popular, mas Trump, com 46%, foi eleito após vencer em estados-chave no colégio eleitoral.

APOIO –  Kamala Harris subiu rapidamente nos índices e mostra a força da sua personalidade nos primeiros momentos que já se travaram após a sua indicação por Joe Biden. Ela conta inclusive com o apoio do ex-presidente Barack Obama, que se manifestou publicamente nesta sexta-feira.

O ex-presidente e Kamala publicaram o mesmo vídeo em seus perfis na rede social X (antigo Twitter). A gravação mostra a pré-candidata recebendo uma ligação de Obama e sua esposa, Michelle. Vale lembrar que Biden também publicou um vídeo em que mostra um telefonema para convidar Kamala para ser sua vice nas eleições de 2020.

ATENÇÃO – Na Venezuela, as eleições estão muito próximas da farsa, na medida em que Nicolás Maduro escolhe os seus rivais nas urnas. Não tem sentido nenhum a vitória que ele poderá conquistar à custa de ameaças de guerras civis. Maduro pretende se reeleger por mais seis anos – e tem reprimido adversários. A comunidade internacional está preocupada e atenta.

Nicolás Maduro disputa o terceiro mandato seguido. Ele foi eleito pela primeira vez em abril de 2013, um mês depois do falecimento do presidente Hugo Chávez, de quem era vice. Herdeiro do chavismo, Maduro foi acusado pela comunidade internacional de perseguir e prender opositores e desrespeitar direitos políticos durante os anos à frente da Venezuela, e tem adotado um discurso de intimidação a adversários e eleitores. Na semana passada, ele declarou que caso perca a eleição, haverá “banho de sangue” e “guerra civil”.

O adversário de Maduro é o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia. Ele se tornou o candidato da oposição de última hora, depois que os tribunais controlados por Maduro impediram a ex-deputada Maria Corina Machado e da substituta dela, a filósofa Corina Yoris.

RECUPERAÇÃO – Ao longo da campanha, Gonzalez defendeu o retorno dos venezuelanos que estão no exterior – são mais de 7,7 milhões, segundo a ONU – e prometeu a recuperação da economia. A inflação em 2023 foi de cerca de 189%. Mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza.

A eleição na Venezuela é uma disputa desigual. Maduro usa a estrutura do governo para fazer campanha. A TV estatal só veicula notícias e pesquisas de opinião favoráveis a ele. Pesquisas de opinião independentes apontam que Edmundo Gonzalez tem mais de 30 pontos percentuais de vantagem sobre Nicolás Maduro. Já um instituto pró-governo diz que o cenário é o contrário: é Maduro quem lidera com ampla vantagem.

Como se vê, as disputas eleitorais poderão marcar profundamente o destino tanto nos Estados Unidos quanto na Venezuela. Mais um capítulo da história política de ambos os países.