Nas lembranças do Canindé, Rachel de Queiroz questiona a religiosidade do povo

Gosto de palavras na cara. De frases que... Rachel de Queiroz - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A romancista, contista, tradutora, jornalista e poeta cearense Rachel de Queiroz, (1910-2003) no poema “São Francisco do Canindé”, lembra uma época vivida, com certa ironia, tendo em vista que era muito jovem, metida num ambiente religioso.

A poeta mantém um certo distanciamento, narrando impessoalmente, perpassando certa irreverência com muita sutileza. Sabe-se que acabou assumindo seu ateísmo, ou o agnosticismo.

Dizem que uma vez foi interrogada sobre religião e teria confessado mais ou menos nestes termos: “Deus não me deu toda esta fé”…

SÃO FRANCISCO DE CANINDÉ
Rachel de Queiroz

Ele estava lá no céu,
junto de Nosso Senhor…
Mas um dia lembrou-se de vir cá
pra dentro daquela igreja,
pra cima daquele altar…

Ficou tão vistoso e rico
todo cercado de luz,
todo cercado de flor!
Amostrando as mãos feridas,
as rosas presas num laço,
e o pé chagado de roxo
que é mode a gente beijar…

E milagre?
Hoje só sofre quem quer…
—Tem bouba no pé?
E esipra?
Um catarrão incansado
lhe cerra a arca do peito?
— Por que é que não promete
a são Francisco das Chagas,
tão bom e tão milagroso,
uma perna de cera?
ou o dinheiro do legume
que você apurou depois das águas?

Veja o quarto dos milagres,
dava para um rio de cera.
E na galeria de uma banda,
aquele cofre:
só de prata de paroara
chegou pra o santo enricar!…

“Meu irmão me dê uma esmola
pela luz que Deus lhe deu!
Que já tive pra morrer
são Francisco me valeu
porque eu prometi a ele
tudo o que tinha de meu…
E dei o que prometi,
ao depois vim esmolar.”

“Ah, meu irmão me socorra!
E queira Deus lhe livrar
de um dia lhe acontecer
fazer promessa e pagar…”

Nunca mais
que são Francisco quer voltar pró céu!…
Acha tão bom lá na igreja
no altar enfeitado!
Ou pelo tempo na festa
dar um passeio no andor!…
Tão bom no Canindé!…

“Balas de Estalo”, um excelente livro, que reúne belas crônicas de Machado de Assis

Livro: Balas de Estalo de Machado de Assis - Heloisa Helena Paiva de Luca | Estante Virtual

Livro reúne crônicas escritas com pseudônimo

José Carlos Werneck

O livro “Balas de Estalo” reúne interessantes crônicas de Machado de Assis. “Balas de Estalo” era o nome de uma coluna publicada pelo jornal Gazeta de Notícias, de 3 de abril de 1883 até 29 de dezembro de 1886. Vários escritores se revezavam na coluna, usando pseudônimos: Blick (Capistrano de Abreu), João Tesourinha (Francisco Ramos Paz), José do Egito (Valentim Magalhães), Lélio (Machado de Assis), Lulu Sênior (José Ferreira de Araújo, um dos fundadores do jornal), Público (Dermeval da Fonseca), e Zig-Zag (Henrique Chaves).

Em 25 de setembro de 1883, o jornal de escândalos “Corsário”, de Apulcro de Castro, revelou a identidade dos diversos colaboradores das Balas de Estalo.

SÉRIE DE CRÔNICAS – “Balas de Estalo” foi uma das mais prolíficas e duradouras séries de crônicas do jornalismo brasileiro no século XIX, publicada, quase que diariamente na Gazeta de Notícias, à época um dos periódicos de maior tiragem do Rio de Janeiro, num revezamento intenso de mais de uma dezena de narradores-personagens, resultando em várias centenas de textos ao longo de seus três anos de duração (1883-1886). Seus narradores acompanharam os principais assuntos do dia na década de 1880.

Segundo Ubiratan Machado, autor do Dicionário de Machado de Assis, “Balas de Estalo” “correspondem a um momento extremamente feliz da prosa machadiana, livre, solta, maliciosa, com alguma coisa da irreverência de um moleque de rua e a forma apurada de um clássico”.

Machado de Assis publicou 125 crônicas, de 2 de julho de 1883 até 22 de março de 1886. Além dessas, existe uma crônica de 15 de setembro de 1883 assinada coletivamente por José do Egito, Décio, Zig-Zag, Lélio, Publicola, Blick e João Tesourinha.

O PSEUDÔNIMO – Machado assinava-se como Lélio (“Lélio dos Anzóis Carapuça”, como revela na crônica de 17 de janeiro de 1885), que se refere a um personagem da Commedia dell’arte italiana, retomado por Molière.

Nestas crônicas, o escritor ironiza a política com suas sucessivas crises ministeriais (“Escrevo sem saber o que sai hoje dos debates da Câmara. Uns dizem que sai o projeto, outros que o Ministério, outros que nada” (14/4/1885); revela-se também um libertário (“… hasteemos audazmente a bandeira da liberdade” (30/11/1885); brinca com a astronomia e suas dimensões vertiginosas (“A astronomia é, com efeito, uma bebedeira de léguas. As léguas são as polegadas do espaço” – 22/8/1885); usa e abusa do nonsense como no “Diálogo dos Astros” entre Dom Sol e Mercúrio (20/6/1885).

E esbanja sabedoria (“o cinismo, que é a sinceridade dos patifes, pode contaminar uma consciência reta, pura e elevada, do mesmo modo que o bicho pode roer os mais sublimes livros do mundo” (14/3/1885).

PREVÊ A REPÚBLICA – Machado diz ser iminente “a revolução triunfante, o imperador embarcado, e as aclamações na rua – Viva a república!” (9/9/1884); mostra-se contrário à taquigrafia pois, “se todas as asneiras proferidas fossem registradas, o

mundo se tornaria um inferno” 15/7/1884[6]; aborda a inusitada venda de um tigre (“o tigre vende-se na rua do Hospício [atual rua Buenos Aires], como o chá preto e as cadeiras americanas” 26/4/1884); escreve uma crônica engraçada em que sua alma sai do corpo e comparece a uma sessão de espiritismo (“Desde que li em um artigo de um ilustre amigo meu, distinto médico, a lista das pessoas eminentes que na Europa acreditam no espiritismo, comecei a duvidar da minha dúvida” (5/10/1885).

É um livro muito agradável e de fácil leitura, como todas as obras do grande autor, e merece ser apreciado.

Mais um dia sem água, alimentos e energia, e a cada 24 horas, morrem mil pessoas

“Cerco completo” à Faixa de Gaza afeta milhares de pessoas

Pedro do Coutto

A situação na Faixa de Gaza se agrava dia a dia, pois não há água para beber, luz elétrica, alimentos, remédios. Os hospitais que ainda funcionavam para emergências estão ficando cada vez mais limitados por falta de recursos. Os bombardeios continuam, assim como o impasse  sobre a saída de pessoas que se deslocaram para o Sul da Faixa.

Não podem utilizar a passagem para o Egito buscando novos rumos ou, como é o caso dos brasileiros, sofrendo a angústia de poderem embarcar no avião da FAB para trazê-los ao Brasil. É um quadro aterrador que se complica com o passar do tempo e também com a demora da ONU em pelo menos aprovar uma resolução capaz de despertar a população mundial para a tragédia que está acontecendo. Além das mortes, há registros de mutilações causadas pelas bombas lançadas tanto por Israel quanto pelo Hamas.

ESPERANÇA – Num comentário muito bom feito na noite de segunda-feira no programa Em Pauta, na GloboNews, Demétrio Magnoli disse que praticamente a única esperança está na chegada hoje, quarta-feira, do presidente Joe Biden a Israel. Ele chega para mais uma vez reiterar o seu apoio ao governo de Tel Aviv.

Mas, se nada acontecer em matéria de cessar fogo ou que impeça a invasão terrestre na Faixa de Gaza pelas forças israelenses, ele terá unido sua imagem pessoal a um morticínio ainda maior, consequência lógica dos combates corpo a corpo e da falta de solução com o Egito para liberar a sua rota pela cidade de Rafa, e daí para a liberdade de milhares de pessoas.

Os habitantes da Faixa de Gaza não estão vendo uma solução por menor que seja para a sua angústia, sob um temor permanente que sufoca cada vez mais com o passar das horas. Na noite de segunda-feira, a ONU se reuniu, mas não aprovou nenhuma resolução capaz de despertar a consciência política dos países que a integram para socorrer centenas de milhares de pessoas que agora não conseguem nem dormir, nem se alimentar ou beber água potável.

FMI –  O Brasil deve voltar ao ranking das dez maiores economias do mundo em 2023 e terminar o ano na 9ª posição, segundo as novas projeções do FMI, que divulgou na tarde de segunda-feira, a relação das dez maiores economias do mundo com base no Produto Interno Bruto. O Brasil passou de 10º para 9º lugar, ultrapassando o Canadá.

A relação dos maiores produtos com base nos números de outubro são os seguintes : Estados Unidos (US$ 26,95 trilhões),  China (US$ 17,7 trilhões),  Alemanha (US$ 4,43 trilhões), Japão (US$ 4,23 trilhões), Índia (US$ 3,73 trilhões), Reino Unido (US$ 3,33 trilhões), França (US$ 3,05 trilhões), Itália (US$ 2,19 trilhões), Brasil (US$ 2,13 trilhões) e Canadá (US$ 2,12 trilhões). Incrível que na nona economia mundial, o Brasil ainda enfrente o problema da fome.

CORREÇÃO DO FGTS – O Supremo Tribunal Federal adiou para 8 de novembro o julgamento da ação proposta pelo Partido Solidariedade para que a correção do FGTS seja feita com base no índice das cadernetas de poupança e não mais pela taxa atual que registra uma diferença de 17% ao ano.

No O Globo, Mariana Muniz, Geralda Doca, Alvaro Gribel e Pollyanna Brêtas analisam amplamente o assunto. A diferença é grande. Tomando-se por base um saldo de R$ 500 mil, pela regra atual, a correção em 12 meses seria de R$ 37,9 mil. Com base nas cadernetas de poupança passaria para R$ 50,6 mil.

Milton e Márcio Borges, no trem Vera Cruz, em busca de um amor perdido

Milron Nascimento e Márcio Borges na Homenagem à Fernando Brant -  Inhotim/MG/2015 | Cantores, Clube da esquina, Cantor brasileiro

Márcio Borges e Milton, grandes parceiros

Paulo Peres
Poemas & Canções

O escritor, diretor do Museu do Clube da Esquina e poeta mineiro Márcio Hilton Fragoso Borges é, sem dúvida, um dos melhores letristas do nosso cancioneiro popular, criador da expressão “os sonhos não envelhecem”.

A letra de “Vera Cruz” admite três interpretações, uma vez que, pode ser vista como a mulher amada, como a mulher-pátria ou uma composição ferroviária homônima que fazia o trajeto Belo Horizonte-Rio de Janeiro. A música “Vera Cruz” foi gravada por Milton Nascimento no LP Angelus, em 1993.

VERA CRUZ
Milton Nascimento e Márcio Borges

Hoje foi que a perdi
Mas onde já nem sei
Me levo para o mar
Em Vera me larguei
E deito nessa dor
Meu corpo sem lugar

Ah! Quisera esquecer
A moça que se foi
De nossa Vera Cruz
E o pranto que ficou
Da morte que sonhei
Nas coisas de um olhar

Ah! nos rios me larguei
Correndo sem parar
Buscava Vera Cruz
Nos campos e no mar
Mas ela se soltou
No longe se perdeu

Quero em outra mansidão
Um dia ancorar
E aos ventos me esquecer
Que ao vento me amarrei
E nele vou partir
Atrás de Vera Cruz

Ah! Quisera encontrar
A moça que se foi
No mar de Vera Cruz
E o pranto que ficou
Do norte que perdi
Nas coisas de um olhar

Situação em Gaza se agrava e desespero cresce com possível adesão do Hezbollah libanês

Soldados de Israel se encaminham para a fronteira com a Faixa de Gaza

Pedro do Coutto

A situação no Oriente Médio, especialmente na Faixa de Gaza, ultrapassou a atmosfera limite, enveredou pelo desespero e a atenção internacional se intensificou com a troca de ameaças entre Israel e o Irã, entre Israel e o Hezbollah e entre os Estados Unidos e o Irã.

Na manhã de segunda-feira, a GloboNews transmitiu uma ameaça de Netanyahu tanto ao Irã quanto ao Líbano, sede do Hezbollah, para que não se envolvam no conflito. Logo, nenhuma parte envolvida na guerra cruel apresentou algum sinal que pudesse levar a algum acordo ainda que provisório.

RELEVÂNCIA – Os Estados Unidos têm um papel relevante na questão, até porque ancoraram dois porta-aviões no Mediterrâneo, prontos para agir, de acordo com o critério da Casa Branca. O Irã tomou parte da situação, solidarizando-se com o Hamas. Não há perspectiva para uma solução lógica e humana para o conflito.

O problema se encaminha para a internacionalização e isso coloca em pauta um problema ainda maior. O impasse é total e sufocante. Igor Gielow, Folha de S. Paulo, focaliza o acirramento das acusações entre os Estados Unidos e o Irã, e Israel e o Hezbollah. 

O Globo também publicou matéria com grande destaque, acentuando a situação americana de tentar evitar a ampliação da crise. Não parece fácil. Os atores principais da guerra não se dispõem a qualquer saída que não inclua a morte e a destruição. As perspectivas são mais ameaçadoras ainda e os reflexos no mundo também são extremamente preocupantes. O Brasil continua se esforçando junto ao Egito para a saída de brasileiros, mas a espera se estende. O sinal verde custa a ser fixado na rota para a vida. O quadro é profundamente preocupante. 

INSEGURANÇA – Na Maré, Rio de Janeiro, área ocupada pelo tráfico e pela milícia, foi cenário de um intenso tiroteio na manhã desta segunda-feira. Cento e cinquenta homens da Guarda Nacional chegaram ao Rio para participar das ações policiais contra o crime organizado. Já no Morro do Alemão, reportagem de Tainá Rodrigues, O Globo de ontem, focaliza o resultado de uma pesquisa que revela um quadro de insegurança alimentar em 75% das famílias que têm crianças e moram no Morro do Alemão, na Penha.

A situação não é a única no Rio, pois o problema da fome avança e exige uma ação do governo imediata, pois as consequências são gravíssimas. O cenário internacional e nacional não é dos melhores. Pelo contrário.

Uma toada de Pedro Nava para esconder o sofrimento dos brasileiros calados

Pedro Nava na Companhia das Letras | Autores e Livros

Pedro Nava, grande intelectual mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O médico, escritor e poeta mineiro Pedro da Silva Nava (1903-1984), no poema “Toadas Para Meu Irmão”, expressa a dor dos brasileiros calados.

TOADAS PARA MEU IRMÃO
Pedro Nava

Nem eu posso esconder
que esta noite fina assim
seja a mesma noite assu
que assombra Taquarassu!

Que seja a mesma noite densa
soturno enorme abajada
escondendo o sofrimento
dos brasileiros calados!

Mas fosse a noite maior
mais densa, mais abajada
mesmo assim seria fraca
e se deixaria varar
pela ternura que eu mando
voando com a força do vento

– Meu pensamento rasgando
o assombro da noite assu
vai velar sono cansado
dos brasileiros calados…

O sono tão sossegado
de um brasileiro cansado
dormindo na noite assu
que esmaga Taquarassu!

Da cidade outro poeta
quer a distância varar
pra ver o sono do irmão
seu descanso proteger!

Dorme teu sono José (…)

Meu pensamento voando
nesta noite fina assim
vai fugindo da cidade
desgarra sertão afora
pra vigiar bem de perto
o doce sono sossegado
dum brasileiro calado!

Te beijo de leve nos olhos
te beijo de leve na face
te beijo o cabelo inteirinho
te beijo no coração…

Brasileiro sossegado
dorme teu sono calado…

Dorme teu sono José…
E me perdoa, meu Mano
se eu não posso cantar
cantos mansos pro teu sono!

Quem me dera, mas não posso!
Pois na noite da cidade
Só de pensar no teu sono,
as veias ficaram doendo
O corpo todo sem jeito
fiquei esquisito, palavra!
Coração no peito calado…

Que dor nos nervos senti
de não ter voz pra falar
(o coração no peito calado)
de não ter choro pra chorar
de palavra não achar,
dor(i)da boa sincera
como aquela comovida
achada por Mário de Andrade
(aquela tão comovida)
que acalantou de São Paulo
o brasileiro do Acre…

Te beijo o cabelo inteirinho
te beijo no coração…

Descansa na noite mansa
descansa, Mano, descansa…

PT cessa todos os ataques a Campos Neto após a conversa dele com Lula e Haddad

Campos Neto nem acredita na mudança que está havendo

José Carlos Werneck

O início da trajetória de queda dos juros e o encontro do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro, estancaram a fúria desenfreada do PT contra o responsável pela autoridade monetária.

Desde a reunião, com a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o PT não mais publicou em seu site nenhuma nota ou editorial crítico ao presidente do BC. Durante todo o mês de setembro, foram apenas três ataques ao presidente do BC.

ARREFECIMENTO – No auge das críticas, ocorrido no mês de maio, foram 20 textos atacando Campos Neto, mesmo patamar de março. Desde então, houve uma redução gradual na agressividade, com 19 em junho, 10 em julho e 6 em agosto.[CN1] 

O PT chegou a chamar Campos Neto de “lacaio” e “capacho” do sistema financeiro, além de compará-lo aos golpistas de 8 de janeiro.

Como se vê, as coisas mudam. Felizmente, neste caso para melhor, provocando total desespero nos esquerdistas de plantão. E já podemos constatar que a pauta econômica do governo Lula vem ao encontro dos anseios dos aplicadores do mercado financeiro, tanto dos que investem em renda fixa e na Bolsa de Valores, que continuam oferecendo muitas oportunidades para os mais diferentes perfis.

UMA CONSTATAÇÃO – Ninguém gosta de miséria, exceto os pseudos intelectuais de esquerda, que continuam dando vazão a seus complexos e frustrações e esbravejando contra tudo e contra todos.

Para desgosto da chamada esquerda festiva, felizmente o Brasil não virou nem vai virar Venezuela, Nicarágua ou Cuba, países cujos governos agradam ao PT.

E viva o capitalismo! Apesar de todos os seus enormes defeitos, é claro.

Até quando milhões de pessoas poderiam resistir sem água e sem alimentos ?

“Falta água para duas milhões de pessoas em Gaza”, alerta ONU

Pedro do Coutto

Até quando milhões de pessoas sufocadas na Faixa de Gaza poderiam resistir sem água, sem alimentos e sem esperança ?  Essa é a pergunta que se coloca neste momento diante da falta de uma saída para a guerra desencadeada pelo Hamas no sábado, dia 7 de outubro. O tema volta-se agora para um caso colossal de sobrevivência humana, uma catástrofe otimamente focalizada por  Dorrit Harazim, O Globo, e Igor Gielow na Folha de S. Paulo, edições deste domingo.  

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou a ofensiva por terra, água e ar à Gaza, acentuando, no entanto, que a luta será longa. Logo, a afirmação contém a perspectiva de um embate corpo a corpo nos túneis do terror que o Hamas construiu em Gaza. O fator tempo é essencial para a questão, pois o deslocamento dos habitantes da Faixa de Gaza do Norte para o Sul está sendo alvo de bombardeios israelenses.

RETIRADA – O Brasil em meio aos esforços do presidente Lula junto ao governo do Egito, encontra dificuldades para retirar um grupo de 28 brasileiros e brasileiras através da fronteira por esse país que coloca obstáculos na base do temor de que a saída possa ser utilizada também por terroristas palestinos. O Brasil já conseguiu repatriar setecentas e uma pessoas. Todos salvos pela diplomacia e pelos aviões da FAB. Mas até o momento em que escrevo, o impasse com o Egito não foi ainda superado.

Dorrit Harazim, num belo artigo no O Globo, aprofunda a análise da questão, incluindo suas raízes e ardis. Um desses ardis, que levaram à reação de Israel contra os assassinatos, foi o de conduzir aquele país à invasão terrestre que pode significar centenas de milhares de mortes, inclusive em sua grande maioria de inocentes.

TEMOR – Harazim responsabiliza o Hamas pelo início desta nova situação, mas reconhece que  conseguiram colocar uma armadilha humanista à frente da movimentação militar de Israel, até porque a ordem para que a população se desloque para o Sul é acompanhada de seguidos bombardeios. Os que se movimentam nas areias do terror têm que temer sobretudo o despejo de bombas em sua caminhada.

Os Estados Unidos ancoraram dois porta-aviões próximos ao Mar do Egito. O apoio americano pode significar, como analistas disseram, um aviso ao Hezbollah na fronteira Norte de Israel com o Líbano para que não se intrometa no conflito. Mas, a cada momento a internacionalização da guerra parece inevitável. A falta de saída significa um aprisionamento na própria tragédia tornando-a ainda maior.

“Escrevo uma vez mais um poema… Ou outra vez mais outro lamento”

André Luiz Schossland - Desenhista projetista - Free lancer | LinkedIn

Schossland, um poeta  inspirado

Paulo Peres
Poemas & Canções

Autor de 195 poemas, o projetista e poeta André Luiz Schossland (1973-2021), nascido em Joinville (SC), no poema “Surdina”, expressa o que escreveu sobre momentos, sentimentos, caminhos e pessoas durante a vida.

SURDINA…
André Luiz Schossland

Escrevi tanta coisa
Nesta vida…
Foram tantos versos

Falei sobre o dia… Falei sobre a noite
Povoei-me de dores, mas também
Sem querer, falei de amores…

Fiz paralelos, trilhei por caminhos
Que nem mesmo conheci, mas também
Foram tantos que com certeza vivi.

Falei de meu pai,
Construí versos para meu irmão
Lembrei-me de meu filho,
Mas não consegui nem mesmo
Escrever versos para minha mãe.

Foram tantos versos sobre amor,
Solidão, foram lágrimas, foram choros
Foram por certo incontidas as investidas,
Mas já estão cansadas minhas pálpebras
Na surdina desta noite que suporto…

Escrevo uma vez mais um poema…
Ou outra vez mais outro lamento?

Gilmar e Barroso deviam botar na cabeça que o golpe foi evitado pelos militares

AO VIVO: Gilmar Mendes 'fala demais' (veja o vídeo)

Gilmar Mendes arrasou com sua reconstrução facial

Carlos Newton

Algumas vezes, o jornalista de política mais parece um cronista social. Quer falar sobre os importantes assuntos na pauta do Supremo Tribunal Federal, mas sabe que naqueles luxuosos palácios –  (a sede e o anexo II) – o que mais se comenta hoje não são os processos, mas a fabulosa reconstrução facial a que se submeteu Gilmar Mendes e a discreta peruca attaché que o novo presidente Luís Roberto Barroso passou a usar.

Em sociedade tudo se sabe, dizia Ibrahim Sued, e os ministros do Supremo se tornaram mais vaidosos desde que entrou no ar a TV Justiça, uma inovação mundial, que transformou os integrantes da corte numa espécie de atores de uma novela jurídica que não tem mais fim e que justifica esses recursos estéticos.

Barroso liga para Pacheco para se explicar

A peruca discreta rejuvenesceu Barroso

ESTÁ NA MODA – O fato concreto é que a peruca está na moda no Supremo a partir da posse de Luiz Fux, que sempre usou, desde os tempos de juiz, e recentemente adotou um modelo grisalho. Na atual composição, temos também Barros Nunes e André Mendonça, que disseram ter feito implantes, mas usam peruca, mesmo.

Quem fez implante foi Dias Toffoli, mas sua genética é perversa e ele está cada vez mais calvo, assim como Gilmar Mendes e Edson Fachin, mas deles nenhum chega aos pés de Alexandre de Moraes, que usava peruca quando jovem, depois desistiu.

E agora, com a entrada de Cristiano Zanin, já pertinho da calvície, constata-se que ser careca é um dos principais pré-requisitos para ministro, o que deixa de fora o mais famoso advogado de Brasília, o milionário franco-brasileiro Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que não tem a menor chance de ser indicado.

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P.S. 1 –
Nada tenho contra os carecas. Aliás, estou quase chegando lá. Sinto um frio enorme no telheiro, e no inverno uso uma boina tipo Che Guevara, fico mais jovem e revolucionário. De toda forma, realmente seria interessante que os ministros do Supremo tivessem alguma coisa na cabeça, respeitassem as leis e suas limitações no equilíbrio dos Poderes.

P.S. 2 – Assim, quando vejo Gilmar e Barroso se jactando de que o Supremo elegeu Lula e manteve a democracia no Brasil, fico surpreso e estarrecido. Não sei como eles podem ficar dizendo essas lorotas, se até os porteiros do STF sabem que o tal golpe de Estado foi impedido pelos militares (leia-se: Alto Comando do Exército). É para eles, os milicos, que devemos tirar os chapéus, com peruca e tudo. O resto é folclore, como diz nosso amigo Sebastião Nery, que por acaso também é careca. (C.N.)

Constatação! É melhor discutir o futuro do Brasil em Paris do que na Favela da Maré

Em Paris, Rodrigo Pacheco e Gilmar Mendes protagonizam embate sobre limites dos Três Poderes - Diplomacia Business

Gilmar, Dantas e Pacheco, mediados por William Waack

Vicente Limongi Netto

“Melhor ser infeliz em Paris”, dizia Sérgio Porto. “Como Paris é linda no outono”, vibra o jornalista Cláudio Magnavita. A capital francesa realmente é cenário ideal para fugir dos maníacos matando inocentes em Israel e Faixa de Gaza.

Também para esquecer das enchentes destruindo casas e desalojando moradores, no Paraná e Santa Catarina. Ou, ainda, para aliviar a secura da fumaça das queimadas que maltratam a saúde e o humor dos moradores de Manaus.

TAPETES E BANDEIROLAS – Nesse sentido, como ninguém é de ferro, o feriadão abriu passagem, com tapetes e bandeirolas, ao som de violinos, para acolher, em Paris, os notáveis e operosos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira.

Com a mesma pompa, o presidente do Supremo, ministro Luiz Roberto Barroso, com o agora amigo Gilmar Mendes, o presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Bruno Dantas, e o governador do Pará, Helder Barbalho, entre outros felizes, premiados e garbosos cidadãos brasileiros, escalados para elegante e sacrificante regabofe do grupo Esfera.

Nota-se como a vida é bela. Para os mesmos.

DIA DO MESTRE – Tive bons professores. No jornalismo, nas escolas, em casa e na vida. Guardo eespeito e admiração por todos eles. Alguns deles estão no céu. Constatam que não erraram em acreditar em minhas virtudes.

A jornalista Ana Dubeux (Correio- Braziliense – 15/10) deposita todas suas esperanças nos professores. A seu ver, os mestres “são passaporte para o futuro”. Professores ganham prêmio Nobel em todas as categorias. São premiados com títulos de Honoris Causa, são eternizados em nomes de ruas, praças e avenidas. Professores são amigos e confidentes. Bons alunos amam os professores.

No Brasil, porém, geralmente são vítimas do descaso. São humilhados, insultados, ganham pouco. Nunca são valorizados como merecem. A gratidão e louvores de Ana Dubeux expressam bem a alegria da maioria das famílias: “A todos os que abraçaram esse ofício revolucionário, o nosso agradecimento e a nossa eterna homenagem. Sempre estaremos aqui para reforçar sua importância”.

Lula diz que não há obrigatoriedade de indicar mulher ou negro para Supremo

De olho no STF? Veja charges do Tacho sobre a Justiça - Entretenimento -  Jornal NH

Chsrge do Tacho (Jornal NH)

José Carlos Werneck

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que não pretende adotar o gênero ou a cor como critério para escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal na vaga aberta com a aposentadoria da ministra Rosa Weber. Perguntado sobre a indicação, disse ter “várias pessoas na mira” e que definição será feita “no momento certo”

“O critério não será mais esse. Eu estou muito tranquilo de escolher uma pessoa que possa atender os interesses do Brasil. Uma pessoa que tenha respeito pela sociedade brasileira. Que tenha respeito, mas não medo da imprensa. Sem precisar ficar votando pela imprensa. Já tem várias pessoas em mira. Não precisa perguntar questão de gênero ou de cor. No momento certo vão saber quem eu vou indicar”, ressaltou o presidente.

PROCURADORIA – Sobre a sucessão na Procuradoria-Geral da República, em que ele também precisa decidir um nome, disse que ainda está mantendo entendimentos. Por enquanto a procuradora Elizeta Maria de Paiva Ramos está ocupando interinamente o cargo.

“Vou escolher tudo no seu tempo. Estou ouvindo, conversando para tomar uma decisão”.

Lula tem sido cobrado por indicações de mulheres e negros para a Suprema Corte. A pressão aumentou após Lula demitir a ministra Ana Moser dos Esportes e reduzir o número de mulheres no primeiro escalão. Antes disso, indicou o advogado Cristiano Zanin para a vaga do ex-ministro Ricardo Lewandowski no Supremo.

UM GRANDE NOME – A hora das indicações está chegando, as pressões aumentam a cada dia e em Brasília se comenta que Lula já fez sua escolha.

Bem que ele poderia escolher alguém como Márcio Thomaz Bastos, que foi ministro da Justiça durante seu primeiro mandato e durante três meses do segundo, e que morreu em 20 de novembro de 2014, em São Paulo.

Márcio Thomaz Bastos, uma escolha pessoal de Lula, era um jurista brilhante, que honrou a Pasta por ele ocupada. Precisamos torcer muito para que o presidente acerte em suas indicações, tanto para o STF quanto para a PGR.

Israel pode dar mais prazo para o deslocamento de palestinos, mas atenção máxima permanece

Vários países apelam para evitar um massacre generalizado

Pedro do Coutto

Surgiram notícias na manhã deste sábado de que, atendendo a apelos formalizados por vários países, o governo de Israel poderá ampliar o prazo para que seja cumprido o seu ultimato ao deslocamento dos palestinos que vivem ao Norte de Gaza para o Sul da Faixa. Mas a atenção máxima permanece, sobretudo em relação ao posicionamento do Egito quanto à abertura de uma rota de saída através de seu país para que as populações ameaçadas possam sair de Gaza.

Brasileiros que saíram da área Norte buscando retorno ao nosso país pelo território egípcio estão vivendo uma atmosfera de temor e incerteza, pois é possível que forças israelenses atuem para bloquear a rota para a liberdade.

CUIDADO – A situação exige um cuidado absoluto nos entendimentos entre as autoridades, já que a rota de saída pelo Egito pode motivar parcelas muito grandes da população que, como é natural, encontram-se sensivelmente pressionadas pelas circunstâncias, principalmente em relação aos prováveis combates na Faixa de Gaza quando a invasão terrestre israelense se consumar.  

Uma situação, portanto, aterrorizante está sendo acompanhada pelo mundo inteiro na busca por uma possível saída, evitando-se um massacre generalizado que inevitavelmente atingirá centenas de milhares de seres humanos que nada tem a ver com o Hamas, mas que poderão sofrer as consequências pelos ataques terroristas no fim da semana passado ao Estado de Israel. O problema é gravíssimo.

APOIO – O primeiro-ministro Netanyahu tem o apoio da oposição para um ataque. Mas é preciso considerar o pensamento da população de Israel de modo geral e também a opinião pública universal, já que o conflito envolve quase que diretamente todos os países, entre eles as grandes potências.

O Conselho de Segurança da ONU, presidido este mês pelo Brasil, não chegou a um consenso sobre a saída da crise. O aspecto humanitário não foi suficiente para se sobrepor a realidade da guerra. Com isso, todos os humanistas deploram a falta de uma solução viável e, sobretudo, humana. A morte de inocentes de todos os lados é um trauma incrível.

No Dia do Mestre, um poema de Cora Coralina em homenagem aos professores

12 ideias de Cora Coralina em 2023 | cora coralina, frases de cora coralina, cora coralina poemasPaulo Peres
Poemas & Canções

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985), nasceu em Goiás Velho. Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica, conforme o belo poema “Elevar”, que publicamos hoje para homenagear o Dia do Mestre.

ELEVAR 
Cora Coralina

Professor, “sois o sal da terra e a luz do mundo”.
Sem vós tudo seria baço e a terra escura.
Professor, faze de tua cadeira,
a cátedra de um mestre.
Se souberes elevar teu magistério,
ele te elevará à magnificência.
Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência,
um excelente mestre.

Meu jovem Professor,
quem mais ensina e quem mais aprende?
O professor ou o aluno?
De quem maior responsabilidade na classe,
do professor ou do aluno?
Professor, sê um mestre. Há uma diferença sutil
entre este e aquele.
Este leciona e vai prestes a outros afazeres.
Aquele mestreia e ajuda seus discípulos.
O professor tem uma tabela a que se apega.
O mestre excede a qualquer tabela e é sempre um mestre.

Feliz é o professor que aprende ensinando.
A criatura humana pode ter qualidades e faculdades.
Podemos aperfeiçoar as duas.
A mais importante faculdade de quem ensina
é a sua ascendência sobre a classe.
Ascendência é uma irradiação magnética, dominadora
que se impõe sem palavras ou gestos,
sem criar atritos, ordem e aproveitamento.
É uma força sensível que emana da personalidade
e a faz querida e respeitada, aceita.
Pode ser consciente, pode ser desenvolvida na escola,
no lar, no trabalho e na sociedade.
Um poder condutor sobre o auditório, filhos, dependentes, alunos.
É tranquila e atuante. É um alto comando obscuro
e sempre presente. É a marca dos líderes.

A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.
Caminhos certos e errados, encontros e desencontros
do começo ao fim.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
O melhor professor nem sempre é o de mais saber,
é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir
e manter o respeito e a disciplina da classe.

Netanyahu condena os civis palestinos a morrer de fome e sede na Faixa de Gaza                                                                                       

Presidente Lula publica 'apelo' em defesa das crianças palestinas e  israelenses - Brasil Popular

Maiores vítimas da guerra são a verdade e as crianças

Roberto Nascimento

Cortar água, comida e eletricidade para as populações de palestinos, que vivem na Faixa de Gasa e que também são vítimas dos terroristas do Hamas, é uma tragédia de grandes proporções. Evidentemente, em poucos dias, crianças e idosos vão morrer de fome e de sede.

Na Faixa de Gaza, há uma incidência de doenças renais graves, por causa da poluição das águas que é fornecida para o povo palestino. No entanto, águas poluídas, nesse sentido, são um mal muito menor do que a falta de água.

CONFRONTO ETERNO – Extremistas dos dois lados lucram com as hostilidades. Israel tem que focar nos terroristas do Hamas, e a população palestina não pode sofrer pela ação de grupos que optaram pela via do terror. Igualmente, o povo israelense não pode pagar a conta pela intransigência de setores conservadores, que não aceitam os apelos pela paz e apostam no confronto eterno.

Sobre as narrativas dos dois lados, é preciso enfatizar, como dizia o dramaturgo grego Ésquilo, que numa guerra a verdade é sempre a primeira vítima.

Os líderes nunca falam a verdade, é uma mentira atrás da outra. Quando são desmentidos pelos fatos, o efeito da mentira já passou. Por esse motivo, não devemos jamais acreditar nas declarações dos governantes em guerra.

DINHEIRO E PODER – O grupo extremista do Hamas, que não representa o povo palestino, somente existe devido à possibilidade de guerra. Se houver paz, será imediatamente extinto. Por seu turno, os extremistas religiosos de Israel também não querem ouvir falar de acordo de paz.

Quais as razões? Ora, as de sempre – Dinheiro e Poder. Os religiosos de Israel e grupos conservadores perderiam faturamento e cargos na máquina pública do governo israelense, assim como o grupo extremista do Hamas perderia os recursos para compra de armas e prática de atos terroristas, caso o Estado palestino convivesse pacificamente com o Estado Israelense.

Tenho esse entendimento desde o século passado, quando o presidente egípcio Anwar Sadat, que assinou o Acordo de Paz de Camp David, foi morto por jihadistas em 1981, durante uma parada militar no Cairo.

RABIN ASSASSINADO – Depois, em 1995, um extremista matou o primeiro-ministro israelense Ythzhak Rabin por ser opor aos acordos de paz de Oslo, assinados com o líder palestino Yasser Arafat.

Em suma, houve importantes tentativas de paz, mas foram em vão. Quem cultua o ódio e menospreza a vida, está provado, quer a guerra e o genocídio de seus povos, para lucrar com o sofrimento da população. Ninguém pode ter o direito de matar em nome de entidades religiosas, mas isso continua a ser comum.

Assim, quase 30 anos depois, nada mudou e o Oriente Médio continua numa guerra religiosa que nada tem de santa.

Mundo deve assistir a uma tragédia colossal — a invasão israelense da Faixa de Gaza

Bombardeios forçaram milhares de pessoas a abandonar suas casas

Pedro do Coutto

Com a ordem do governo de Israel para que a população civil se desloque do Norte de Gaza para o Sul da Faixa, e diante da resposta do Hamas para que a população ignore a indicação, deve começar a se desenrolar hoje, sábado, uma colossal tragédia na história da humanidade.

O entrechoque de posições revela que as forças de Israel invadirão por terra e a disposição do Hamas, que iniciou a ofensiva do terror exatamente há uma semana, conduz ao confronto inevitável, sobretudo porque a população civil de Gaza está sofrendo um bloqueio de água, energia elétrica, alimentos e remédios.

IMPASSE – Está, portanto, vivendo numa atmosfera de absoluto desespero. Não tem condições de acatar a ordem de Israel porque, certamente, o braço armado do Hamas impedirá o deslocamento, já  dificílimo, quase impossível de uma região para outra, de um território de pouco menos de 500 quilômetros quadrados.

Mesmo que a determinação fosse cumprida, a dificuldade de tal multidão humana deslocar-se de um pólo para outro seria inviável, quanto mais se for debaixo de rajadas de metralhadoras, bombas e mísseis. A ameaça ronda a Faixa de Gaza dentro de um possível desfecho sinistro que parece irreversível.

Ao ordenar a retirada de parte da população civil de Gaza, está evidente as intenções de Israel na região, colocando os moradores sem uma alternativa de existência, pois o fogo cruzado e os bombardeios dirigem-se em massa não contra os integrantes do Hamas, mas, sobretudo, contra a população dominada pelo terror e exposta aos piores reflexos e consequências.

PREOCUPAÇÃO – O ultimato foi dado nas primeiras horas de sexta-feira e as 24 horas terão se completado a partir do momento em que no Brasil os leitores e leitoras tiverem esse texto em mãos. De todo o conflito desesperador, destaca-se a consciência humana e a visão sobre uma catástrofe. A preocupação mundial quanto à tragédia que envolve o mundo torna-se também um tormento coletivo. As grandes potências não podem se omitir.

O Conselho de Segurança da ONU, neste mês, presidido pelo Brasil, está em sessão permanente. É permanente também a ansiedade de todos os homens e mulheres que num movimento silencioso continuam aguardando pelo cessar fogo imediato e pela paz.  As imagens de destruição são fortíssimas com a invasão de Gaza e podem tornar-se ainda piores.

Quando o poeta se desespera e confessa que enlouqueceu, por excesso de amor

Pedro Kilkerry | Rimas, Poemas, PoetasPaulo Peres
Poemas & Canções

O

advogado e poeta baiano Pedro Militão Kilkerry (1885-1917), no poema “Essa, que Paira em meus Sonhos”, confessa que, por excesso de amor, enlouqueceu.

ESSA, QUE PAIRA EM MEUS SONHOS
Pedro Kilkerry

Essa, que paira em meus sonhos,
Em meus sonhos a brilhar,
E tem nos lábios risonhos
O nácar de Iônio – Mar –
Numa fantasia estranha,
Estranhamente a sonhei
E de beleza tamanha,
Enlouqueci. É o que sei.

Ela era, em plaustro dourado
Levado de urcos azuis,
De Paros nevirrosado,
Ombros nus, os seios nus…
E que de esteiras de estrelas,
De prásio, opala e rubim!
Na praia perto, por vê-las
Vi que saltava um delfim
Que longamente as fitando
Alçou a calda, a tremer
E outros delfins, senão quando
Aparecer

Brasil continua a ter uma cruel distribuição de Renda, que realimenta a criminalidade

foto

Charge do Jean Galvão (Arquivo Google)

José Carlos Werneck

O Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, recuou para 0,518 em 2022, melhor resultado da série histórica iniciada em 2012. Após um empobrecimento recorde dos brasileiros no segundo ano da pandemia de covid-19, a metade mais pobre da população teve um aumento de renda em 2022, tanto pela recuperação na geração de vagas do mercado de trabalho quanto pela redução do número de habitantes e pela expansão de programas de transferência de renda em meio à corrida eleitoral.

O salto na renda dos mais pobres reduziu a desigualdade no País. Mesmo assim, esses dados continuam péssimos.

SITUAÇÃO PERVERSA – Nossa distribuição de renda continua sendo uma das piores do Mundo. Entre o 1% mais rico da população, a renda média mensal per capita foi de R$ 17.447,00 em 2022, queda de 0,3% ante 2021.

Ainda assim, esse pequeno grupo ganhava uma renda média real mensal 32,5 vezes maior que o rendimento da metade mais pobre da população. Mas houve evolução em relação a 2021, quando essa distância era de 38,4 vezes. E transferências de renda e emprego injetaram mais R$ 24 bilhões às famílias em um ano, segundo dados do IBGE.

“A desigualdade, por mais que você tenha tido uma melhora, ela é muito estrutural. Você tem um componente muito grande da desigualdade no País”, disse, recentemente, Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

O DRAMA DE SEMPRE – A renda média real domiciliar per capita da metade mais pobre da população brasileira subiu 18,0% em

2022 ante 2021, para R$ 537,00 mensais, por ter sido um ano eleitoral.

Mesmo assim, apesar da melhora, cerca de 107 milhões de brasileiros sobreviveram com apenas R$ 17,90 por dia no ano passado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua, divulgados recentemente pelo IBGE.

Se considerados os 5% mais pobres no País, havia 10,7 milhões de pessoas que contavam com somente R$ 2,90 por dia em 2022, ou R$ 87,00 por mês por pessoa da família. Apesar de baixo, o resultado significou um salto de 102,3% em relação a 2021.

POLÍTICAS SOCIAIS – Segundo Alessandra Brito, analista do IBGE, as políticas de transferência de renda para mitigar a crise causada pela covid-19 deram um alívio à população mais vulnerável em 2020. No entanto, em 2021, com o enxugamento do Auxílio Emergencial, a renda per capita desceu ao pior resultado da série histórica iniciada em 2012.

Eu, particularmente, acho que é muito cruel saber que mais de 100 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 17,90 por dia, em 2022.

Com esses dados impressionantes não é difícil concluir quais são as causas de nossos índices crescentes de violência e de um mercado interno muito aquém da nossa população. Enquanto houver tamanha desigualdade social, as políticas de segurança continuarão fracassando, por óbvio.

O mundo testemunha uma tragédia de enormes consequências

A destruição em Shati, campo de refugiados da Faixa de Gaza

Pedro do Coutto

A partir do ataque do último sábado desfechado pelo Hamas contra Israel, gerando como consequência uma contraofensiva de Tel Aviv, assistimos um dos episódios que a cada dia se torna mais sangrento e mortal na história da humanidade. As mortes estão numa escala superior a de mil seres humanos por dia, e a tragédia se ampliará ainda mais com o cerco e a invasão terrestre da Faixa de Gaza pelas forças israelenses.

Reportagem de O Globo de ontem, quinta-feira, revela que 175 mil pessoas pediram refúgio à ONU na Faixa de Gaza, acrescentando esta face ao desespero que se alastra junto a dois milhões de habitantes cercados sem água, sem energia elétrica, sem alimentos e, portanto, sem atendimento médico de emergência. Os bombardeios se sucedem e as implicações internacionais se alastram, dividindo os países e suas tendências políticas em relação ao colossal conflito.

PRONUNCIAMENTO – Foi, sem dúvida, importante e exato, o pronunciamento do presidente Lula e a convocação para hoje, sexta-feira, do Conselho de Segurança da ONU para emergência. A força das armas, mais uma vez, escreve um capítulo trágico no caminho da humanidade. Não se vislumbra uma saída racional e humanitária para um conflito desencadeado a partir dos mísseis do Hamas e da resposta militar de Israel. A expectativa da invasão terrestre está sendo antecipada pelo bombardeio da área de Gaza.

As bombas e os foguetes da morte seguem seus rumos sinistros. Como sempre, em tais casos, sofrem os inocentes na angústia de sobreviver a uma batalha que ainda se encontra infeliz e trágica em seus primeiros capítulos. Desejamos todos que a solução seja encontrada e antecedida de uma carnificina total. O governo brasileiro está conseguindo repatriar cidadãos e cidadãs da região que se empenham desesperadamente para escapar dos estilhaços, do ódio, da fúria devastadora e da morte. Mas surgiram dificuldades na rota do Egito para os que se encontram perto da fronteira de Gaza com aquele país.

O mundo, neste momento, está unindo a sua energia positiva para que seja superado o pavor da destruição que está prevalecendo e que, no fundo, não levará à solução alguma, pois essa só pode ser alcançada numa rota voltada para o cessar fogo e para a paz. Acompanhando-se as reportagens da GloboNews, da CNN e da TV Globo, pode-se constatar a dimensão das ações para destruir e não a de assegurar a existência de milhões de seres humanos.

INFLAÇÃO – Com os dados do IBGE sobre os índices de setembro, 0,26%, o processo inflacionário brasileiro atingiu 5,2% ao longo dos últimos 12 meses. Mais uma vez, os assalariados perdem poder aquisitivo. Porém, o senador Eduardo Braga, relator do projeto de Orçamento para 2024, incluiu em seu parecer um dispositivo determinando que a escala tributária brasileira se mantenha na altura média de 14% do Produto Interno Bruto.

O projeto de reforma já passou pela Câmara e deve ser votado no Senado até 9 de novembro, como revela Geralda Doca, no O Globo. O senador Eduardo Braga formulou o cálculo com base na incidência de 14% sobre um PIB de R$ 6,5 trilhões, e inclui a incidência das alíquotas de acordo com o grau de essencialidade dos produtos. Essa solução é inspirada na Resolução 70 da antiga Sumoc, da qual teve origem o Banco Central em setembro de 1953 no momento em que Oswaldo Aranha era ministro da Fazenda.

Com um rastro de milhares de mortos, feridos e destruição, a guerra no Oriente Médio se agrava

Frentes de terror se voltam para milhares de inocentes

Pedro do Coutto

Em cinco dias de batalha, que começaram com o ato terrorista do Hamas, o rastro sinistro já deixou milhares de mortos, feridos, mutilados e destruições tanto em Gaza quanto em Tel Aviv. Tragicamente não surgiu ainda um sinal voltado para o cessar fogo, preservando outras milhares de vidas humanas em risco diante dos bombardeios que agora se estendem a Israel pelo Hezbollah, a partir do Líbano. São duas frentes de terror, portanto, e uma terceira que se volta para dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza de onde opera o Hamas.

O governo Lula iniciou a repatriação de brasileiros que se encontram em risco tanto em Israel quanto em Gaza, e infelizmente o resgate não chegou a tempo para vítimas fatais registradas no conflito, principalmente, na madrugada de sábado. Os combates prosseguem sem uma definição além do objetivo de destruir e matar, exatamente o contrário do que inspira a existência humana que se volta naturalmente para a vida e, nos casos extremos, como no Oriente Médio, para tolerância entre os opostos.

CONCILIAÇÃO – Para isso, inclusive, é que existe a lei no mundo. Uma conciliação e uma convergência entre os contrários.  Mas nada disso foi ou está sendo observado. O governo brasileiro, no caso da Faixa de Gaza, teve que recorrer à chancelaria do Egito para fornecer uma passagem às pessoas que precisam deixar a região.

Os Estados Unidos deram total apoio a Israel. A China se pronunciou a favor do cessar fogo. A Rússia deixou no ar uma aceitação quanto às ações do Hamas e agora também do Hezbollah.

As estatísticas apontam no momento em que escrevo,para 1800 mortos. A maioria de israelenses. Mas há que considerar o número de feridos mutilados. Os conflitos começaram em 1948, no alvorecer do estado de Israel e se repetem décadas depois. A preservação de vidas e de territórios está sendo substituída por uma avalanche destruidora que não leva em conta nem o presente e nem o futuro.